Para o diretor do observatório Copernicus, a humanidade não está preparada para o novo e ‘monumental’ desafio climático
Redação Brasil de Fato
O ano de 2024 foi o mais quente da história e o primeiro a romper a barreira de 1,5°C de aumento na temperatura média da Terra, estipulado como limite crítico pelo Acordo de Paris. Os dados mostram um aumento de 1,6°C na temperatura média global, que chegou a 15,10°C, e foram divulgados nesta sexta (10) pelo observatório europeu Copernicus.
O recorde que foi batido em todos os continentes superou o ano de 2023 que, desde que os registros começaram em 1850, tinha também sido o mais quente da história. O dia mais quente de 2024 foi 22 de julho, quando a temperatura média do planeta atingiu 17,16°C.
O cenário está diretamente ligado ao aumento dos gases de efeito estufa na atmosfera, consequência de atividades humanas tais como a queima de combustíveis fósseis.
De acordo com o estudo, a aumento da temperatura global no ano passado teve maior responsabilidade humana do que de fenômenos naturais, como o El Niño. Em 2024, o índice de aumento de dióxido de carbono foi o maior já visto.
Os resultados do relatório alertam para a distância entre a realidade e as promessas de transição do uso de combustíveis fósseis como petróleo, gás e carvão que foram feitas durante a Conferência Climática da ONU em Dubai, em dezembro de 2023. Segundo o estudo, se seguir como está caminhando, o mundo deve chegar a um aquecimento de 2,7 °C até o fim do século.
“Estamos enfrentando um novo desafio climático para o qual não estamos preparados”, declarou o diretor do Copernicus, Carlo Buontempo, em entrevista coletiva sobre o estudo.
Aquecimento dos oceanos
Em 2024, a temperatura da superfície do mar atingiu a marca inédita de 20,87°C. O aumento do vapor de água na atmosfera contribuiu para eventos climáticos extremos com chuvas, como o que atingiu o Rio Grande do Sul.
De acordo com o Copernicus, a quantidade de vapor de água produzido pelo aquecimento dos oceanos foi 5% a mais do que a média registrada entre 1991 e 2020.
“Este fornecimento abundante de umidade ampliou o potencial para ocorrências de chuvas extremas. Além disso, combinado com as altas temperaturas da superfície do mar, contribuiu para o desenvolvimento de grandes tempestades, incluindo ciclones tropicais”, diz o relatório.
“Essas altas temperaturas globais, juntamente com os níveis recordes globais de vapor de água na atmosfera em 2024, significaram ondas de calor sem precedentes e chuvas intensas”, explicou Samantha Burgess, líder estratégica para o clima no Copernicus, “causando miséria a milhões de pessoas”.
Em fevereiro, a ONU deve receber dos países os novos compromissos de corte de emissão de gases de efeito estufa.
Acordo de Paris
Apesar de a barreira de aquecimento global ter sido superada pelo ano de 2024, o Acordo de Paris não foi rompido. Firmado em 2015 durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima 21 (COP21), o tratado internacional pactuou esforços para limitar o aumento da temperatura média da Terra a 2°C acima dos níveis pré-industriais, com o objetivo de restringi-lo a 1,5°C.
O acordo só é considerado rompido, no entanto, se a temperatura média global superar esta marca de forma prolongada.
Edição: Nathallia Fonseca
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Imagem: Rio Solimões virou deserto após seca histórica do ano passado – Foto: Edmar Barros/AP/picture alliance