Trump/Zuckerberg: Política Antiaborto e Incitação a Procedimentos Perigosos

Centenas, milhares de mulheres mortas ou com sequelas por aborto inseguro: eis o primeiro “efeito colateral” à vista da guerra antirregulação de Trump/Zuckerberg contra o resto do mundo.

por Hugo Souza, em Come ananás

Há pouco mais de um ano, em dezembro de 2023, o Comitê de Supervisão e Responsabilidade da Câmara estadunidense enviou uma carta a Mark Zuckerberg expressando preocupação com “a rápida disseminação da desinformação sobre o aborto nas plataformas de mídia social Facebook e Instagram” e pontuando “a ameaça que essa disseminação representa para o acesso ao aborto seguro nos EUA”.

“Apesar dos Padrões da Comunidade e dos Padrões de Publicidade da sua empresa, que abordam a desinformação, os relatórios públicos indicam que as suas plataformas permitem a usuários divulgar informações enganosas sobre o aborto e serviços de saúde relacionados”, dizia a carta.

“Por exemplo – seguia a carta do Comitê -, o Facebook e o Instagram estão repletos de postagens e anúncios contendo informações falsas sobre a reversão do aborto medicamentoso através da chamada ‘reversão da pílula abortiva’. A reversão da pílula abortiva – administração de altas doses do hormônio progesterona após a ingestão da mifepristona, a primeira pílula necessária para um aborto medicamentoso – é um procedimento refutado e perigoso”.

A carta dizia ainda que, ao mesmo tempo, “as publicações que oferecem informações médicas legítimas e ajudam os usuários a encontrar cuidados de aborto são removidas com base na ‘Política de Violência e Incitação à Violência’ da Meta”.

Já faz mais de um ano.

Nesta sexta-feira, 24, o New York Times informa que nas últimas duas semanas o Facebook e o Instagram borraram, bloquearam ou removeram postagens de dois fornecedores de pílulas abortivas nos EUA. O Instagram também suspendeu as contas de vários fornecedores de pílulas abortivas e impediu outros de aparecerem em pesquisas e recomendações na plataforma. Segundo essas empresas, o boicote da Meta ao aborto seguro se intensificou após a posse de Donald Trump.

Nesta quinta-feira, 23, Trump perdoou 23 ativistas “pró-vida” condenados por obstruir o acesso a clínicas de aborto. O perdão irá turbinar a “Marcha Pela Vida” marcada para esta sexta em Washington. A presidente do Fundo de Educação e Defesa da Marcha pela Vida, Jennie Bradley Lichter, foi vice-diretora do Conselho de Política Doméstica no primeiro mandato de Trump.

O próprio Trump gravou um vídeo para ser exibido na “Marcha Pela Vida”. O vice-presidente dos EUA, JD Vance, e o presidente da Câmara, Mike Johnson, vão discursar pessoalmente no evento.

O New York Times informa ainda nesta sexta que, “sentindo apoio político, opositores do aborto aumentam ambições”.

Mark Zuckerberg parece estar entre eles, seja por negacionismo abortivo, seja por oportunismo. Centenas, milhares de mulheres mortas ou com sequelas por causa da Política Antiaborto e Incitação a Procedimentos Perigosos da Meta: eis o primeiro “efeito colateral” à vista da guerra antirregulação de Trump/Zuckerberg contra o resto do mundo.

Foto: Joiyce N. Boghosian/Casa Branca

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