Jamil Chade: Trump impõe censura em ciência e força delações entre pesquisadores

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Declaradamente defensor da liberdade de expressão, o governo de Donald Trump impôs uma ampla censura sobre órgãos de ciência e seus pesquisadores, além de ter criado exigências no setor de artes e instaurado um sistema pelo qual funcionários públicos são forçados a delatar colegas. O UOL obteve acesso a emails entre funcionários e documentos internos de agências e órgãos federais que revelam o clima de pressão e ameaças desde a semana passada.

Em um deles, fica estabelecido que todas as viagens de pesquisadores estão canceladas até segunda ordem. Os cientistas estão proibidos de participar de seminários e conferências, até que haja uma revisão completa do setor.

 

“Todas as futuras viagens estão sendo suspensas de forma indefinida”, alerta um email interno do NIH (National Institute of Child Health and Human Development), uma das maiores agências federais do governo americano.

A mensagem indica ainda que quem estava indo viajar e necessitava fazer uma conexão deveria interromper o trajeto e voltar para os centros de pesquisa.

“Todos os funcionários devem evitar participar de qualquer evento público, compromissos de dar palestras até que o material seja revisado e aprovado por uma pessoa escolhida pelo presidente”, alertou.

Nas comunicações, os funcionários foram instruídos sobre como devem anunciar aos organizadores dos eventos o motivo do cancelamento de suas participações em debates científicos.

Em outra instrução, os cientistas ficam proibidos de se apresentar a qualquer pessoa em sua condição profissional e de dizer qual é seu trabalho.

Entre os cientistas estrangeiros, os temores de muitos se referem ao futuro de seus postos de trabalho. Já os pesquisadores estão tendo os vistos atrelados a um certo período. Dois deles conversaram com o UOL e admitiram que estão desenhando opções sobre o que fazer caso as autorizações de trabalho sejam revogadas ou não renovadas.

Delatar ou enfrentar consequências

Outra comunicação obtida pelo UOL mostra ordens do governo Trump. Os pesquisadores foram instruídos a delatar colegas caso haja uma tentativa de manter programas de diversidade. Trump desmontou esses programas, com profundo impacto para o acesso de minorias. O presidente, porém, insiste que os EUA “voltaram a ser um país com base no mérito”.

Na comunicação interna de agências federais, os funcionários se depararam com um email que trazia a seguinte ordem:

“Estamos cientes dos esforços de alguns no governo para camuflar esses programas (de diversidade), usando linguagem codificada ou imprecisa para esconder a relação entre programas de diversidade e contratos”, alertou. “Se você souber de alguma mudança na descrição de contratos, por favor reporte todos os fatos ao email no prazo de dez dias”, instruiu a mensagem.

A comunicação ainda vem com uma ameaça:

Não haverá consequência adversa para quem informar de forma imediata. Entretanto, não reportar essa informação no prazo de dez dias pode resultar em circunstâncias adversas.

O texto ainda diz que esses programas de promoção da diversidade em órgãos públicos “dividiam americanos entre raças, desperdiçando dinheiro dos contribuintes americanos e resultando em uma vergonhosa discriminação”.

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