Cem anos de Elizabeth Teixeira = cem vezes a necessidade de pautar a reforma agrária

De Olho nos Ruralistas disponibiliza ao público o documentário “Elizabeth”, de 2023, sobre a líder camponesa; curta foi premiado e percorreu 12 estados e o DF em 36 eventos; protagonista do clássico “Cabra Marcado para Morrer” chega ao centenário como referência na luta pela terra 

Por Alceu Luís Castilho e Luís Indriunas, em De Olho nos Ruralistas

Elizabeth Teixeira agora é uma mulher centenária. A líder histórica das Ligas Camponesas faz aniversário neste dia 13 de fevereiro de 2025 como unanimidade entre aqueles que defendem o direito à terra e a luta pela reforma agrária. O Memorial das Ligas e Lutas Camponesas, em Sapé (PB), promove três dias de comemoração a seus 100 anos, com direito a reunião emocionada da família e atividades culturais. Os jornais repercutem. Desta vez, ela não está invisível.

A mulher que teve de trocar de nome durante a ditadura, dois anos após o assassinato de seu marido, João Pedro Teixeira, protagonizou em 1984 o documentário “Cabra Marcado Para Morrer”, de Eduardo Coutinho. Mas ainda está longe de ter o reconhecimento que merece como líder camponesa. A recorrência da reforma agrária em sua fala é inversamente proporcional ao tanto que o tema é pautado no Brasil atual.

Em comemoração ao centenário, De Olho nos Ruralistas disponibiliza ao público, em seu canal no YouTube, o documentário “Elizabeth”, de 2023, dirigido por Alceu Luís Castilho, Luís Indriunas e Vanessa Nicolav. Vanessa e Indriunas entrevistaram a agricultora em João Pessoa, quando ela tinha 98 anos.

Confira aqui, na íntegra, o curta-metragem premiado em três festivais de cinema pelo Brasil:

MEMORIAL DAS LIGAS CAMPONESAS FOI UM DOS LOCAIS DE EXIBIÇÃO DO CURTA “ELIZABETH”

O documentário foi lançado em setembro de 2023, durante as comemorações dos sete anos do observatório, no centro cultural Al Janiah, em São Paulo. Em menos de um ano foi exibido em pelo menos 35 eventos, realizados em 12 estados diferentes e no Distrito Federal. Os locais de exibição e os públicos foram os mais diversos, de movimentos sociais a estudantes universitário. Em alguns desses encontros, com a participação dos diretores ou outros integrantes da equipe do De Olho nos Ruralistas.

O filme retrata a trajetória de Elizabeth Teixeira, uma das líderes das Ligas Camponesas na Paraíba e protagonista do filme “Cabra Marcado para Morrer“, clássico de 1984, dirigido por Eduardo Coutinho. Com 98 anos de idade, ela foi entrevistada pela editora de imagem Vanessa Nicolav e pelo editor Luís Indriunas, da equipe do De Olho nos Ruralistas, em julho. A dupla também ouviu outras mulheres sobre o legado da líder. Entre os objetivos, resgatar a memória de luta camponesa e fomentar as discussões sobre a questão agrária no país.

Para saber mais sobre Elizabeth, leia também reportagem de nossa editoria De Olho na História: “Elizabeth Teixeira, 95 anos, uma camponesa marcada pela resistência“.

Cenário do documentário gravado em julho de 2023, o Memorial das Lutas e Ligas Camponesas, em Sapé (PB), foi um dos locais onde o filme foi exibido. A primeira sessão foi especial, com familiares e visitantes, em 30 de setembro de 2023. Durante o mês seguinte, o Memorial, que participou da produção do filme, continuou apresentando o documentário para grupos que visitaram a sede. Ainda no estado, o filme foi visto por doutorandos de Sociologia Rural, na Universidade Federal da Paraíba (PB), e teve sessão especial na Assembleia Legislativa da Paraíba, com a presença do coordenador de projetos do observatório, Bruno Stankevicius Bassi.

INCRA PEDIU DESCULPAS AOS CAMPONESES PELOS CRIMES DA DITADURA

Ainda em dezembro de 2023, em Brasília, os ministérios dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) e do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) promoveram o evento a “Fala da Terra: Memória e futuro das Lutas no Campo”.

Na ocasião, o Estado brasileiro formalizou um pedido de desculpas às populações camponesas devido à atuação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) na ditadura iniciada em 1964, por meio de uma carta, assinada pelo presidente do Incra, César Aldrigui, em cerimônia com a presença do ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar do Brasil, Paulo Teixeira.

“O pedido de desculpas, ele é necessário, obviamente, é importante, mas ele não basta”, analisou a presidente do Memorial, Alane Maria Silva de Lima, uma das personagens do documentário “Elizabeth”. “É preciso haver a reparação agrária”.

O documentário lembra dos anos de clandestinidade a que Elizabeth Teixeira foi submetida após ser perseguida pela ditadura, quando substituiu João Pedro Teixeira na liderança das Ligas Camponesas. Teixeira é o “cabra marcado para morrer” do clássico de Eduardo Coutinho. O Memorial das Ligas Camponesas define Elizabeth como “mulher marcada para viver” — o que será tema de novo filme sobre a paraibana.

FILME GANHOU PRÊMIO NO FESTIVAL DE VITÓRIA E NA MOSTRA DE AGROECOLOGIA NO RIO

O curta-metragem “Elizabeth” foi reconhecido pelo júri popular como melhor filme da 7ª Mostra Nacional de Cinema Ambiental no 31º Festival de Cinema de Vitória, que aconteceu entre 20 e 25 de julho de 2024. Com isso foi um dos vencedores do Troféu Vitória, em uma das treze mostras do evento, que exibiu 78 filmes e reuniu cerca de 10 mil pessoas na capital capixaba, com 78 filmes.

O filme também participou da seleção oficial da Mostra Clandestina de Cinema Feminista, que aconteceu na cidade de Goiás (GO), em abril do ano passado. E foi um dos selecionados no 7º Curta Caicó, em outubro, festival realizado no interior do Rio Grande do Norte. Ele foi um dos cinco filmes exibidos na categoria Sessão Especial.

A Bahia teve exibições em Ilhéus, Jacobina, Caravelas, Caetité (duas vezes), Ruy Barbosa e Salvador. Os organizadores foram a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Grupo de Trabalho Política Agrária, Urbana e Ambiental do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (GTaua – Andes), o Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), o Núcleo de Estudos em Cultura e Cidade da Universidade do Estado da Bahia (NECC – Uneb) e a Associação dos Pequenos Produtores de Jaboticaba (APPJ).

O Rio de Janeiro teve sessões em Seropédica, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRRJ); na capital, na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), por meio do INCT Proprietas, e na Cinemateca do Museu de Arte Moderna (MAM) Rio.

O filme também participou do 2° Festival Internacional de Cinema Agroecológico (FicaEco), no tradicional Cine Odeon, no centro do Rio. A mostra, que aconteceu em novembro, fez parte do XII Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA). Os diretores Alceu Luís Castilho e Luís Indriunas receberam do líder indígena Junior Hekurari Yanomami a estatueta do guerreiro Omama, “guerreiro criador, protetor da Amazônia e do povo Yanomami”.

Cada grupo de realizadores recebeu uma versão única do guerreiro, em barro e pintada à mão, feita pelo artista plástico Felipe Corcione. O símbolo faz parte da campanha “O Custo do Ouro”, contra o consumo de ouro e a invasão garimpeira no território Yanomami. Veja o vídeo da campanha.

Em São Paulo, o filme foi exibido na Assembleia Legislativa (Alesp), na capital, em novembro de 2023. Em Taubaté, na “Campanha 16 dias de ativismo pelo fim da violência”. E em Guararema, para alunos dos cursos da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em 29 de setembro. Após a exibição do filme, que contou com uma conversa com a jornalista Nanci Pittelkow, da equipe do observatório, a turma do curso de Defesa e Soberania decidiu batizar o grupo de Elizabeth Teixeira.

O documentário também passou pelo Pará, Maranhão, Alagoas, Pernambuco, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Imagem principal (Divulgação/De Olho nos Ruralistas): cartaz de lançamento do documentário Elizabeth

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