Em meio à pressão por licença na foz do Amazonas, IBAMA muda coordenador de licenciamento para petróleo e gás

Órgão justifica que Ivan Werneck Sanchez Bassères foi aprovado em um programa da ONU, mas nos bastidores do órgão ambiental afastamento gera sentimento de insegurança

ClimaInfo

Desde maio de 2023, quando negou a licença para a Petrobras perfurar um poço no bloco FZA-M-59, na foz do Amazonas, o IBAMA é pressionado pela ala do governo que defende a exploração de petróleo no Brasil “até a última gota”. Nas últimas semanas, esse grupo, liderado pelo ministro de Minas e Energia (MME), Alexandre Silveira, e pela presidente da petroleira, Magda Chambriard, ganhou um reforço de altíssimo peso: o presidente Lula, que chegou a falar em “lenga-lenga” do IBAMA e que o órgão “agia contra o governo”. Fala bem parecida com a do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), eleito presidente do Senado no início deste mês, que acusou o IBAMA de “boicote contra o Brasil” em outubro do ano passado.

Por isso causou bastante surpresa o anúncio de que Ivan Werneck Sanchez Bassères, coordenador de Licenciamento Ambiental de Exploração de Petróleo e Gás Offshore do IBAMA, está sendo afastado temporariamente. Segundo Ancelmo Gois, n’O Globo, o posto de Bassères será assumido por um antigo coordenador que, anos atrás, foi responsável por gerenciar o pedido da BP para perfurar poços exploratórios de petróleo na foz – a licença não foi concedida.

Em nota, o IBAMA disse que Bassères foi aprovado no “United Nations – Nippon Foundation Fellowship” de 2025, organizado pela Divisão de Assuntos Oceânicos e Direito do Mar da ONU, informam Carta CapitalCNNPoder 360 e Brasil 247. A seleção ocorreu entre setembro e novembro de 2024; o programa começa em 26 de março e dura nove meses – ou seja, até o fim do ano.

“Após o término do programa, o servidor deverá retornar ao IBAMA”, informou o órgão. “Seu afastamento ainda depende de autorização, a ser publicada no Diário Oficial da União, e sua eventual exoneração do cargo em comissão que atualmente ocupa é condição para a sua participação”, completou.

A explicação não convenceu analistas do órgão ambiental. Ainda de acordo com Ancelmo Gois, a saída de Bassères gerou insegurança no IBAMA. Isso porque o atual coordenador manifestou concordância com os técnicos por diversas vezes no processo de licenciamento da Petrobras na foz do Amazonas.

Além disso, a saída de Bassères reforça a preocupação com mudanças no comando do IBAMA após a artilharia pesada que o órgão vem recebendo de Lula e companhia nas últimas semanas. Nos bastidores, falou-se na substituição de Rodrigo Agostinho por Márcio Macêdo, secretário geral da Presidência da República e aliado da turma pró-petróleo do governo, que conta também com o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa.

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