Estudo mostra que governo gastou uma média de US$ 185 milhões por ano entre 2020 e 2024 em subsídios para produzir essa eletricidade suja
Além das emissões de grandes quantidades de gases de efeito estufa, a geração de eletricidade com combustíveis fósseis é uma das mais caras, pesando nas contas de luz dos consumidores brasileiros. Um estudo liderado pelo Global Energy Monitor (GEM) mostra que o Brasil gastou uma média de R$ 1,07 bilhão (US$ 185 milhões) por ano em subsídios com a produção de energia a carvão de 2020 a 2024. Isso num país que detém uma das matrizes elétricas mais renováveis do mundo e dispõe de sol e vento à vontade para ampliar a oferta dessa eletricidade.
Apesar da baixa competitividade do carvão, o setor continua operando com o apoio estatal, justificado como parte de uma “transição justa”. Esses incentivos mantêm usinas antigas em funcionamento nas regiões carboníferas do Sul, explica a Folha. Plantas que, além de terem baixa eficiência, são as maiores emissoras de gases de efeito estufa do setor elétrico brasileiro.
O documento lembra que o Brasil ainda abriga uma das duas últimas propostas ativas de usinas a carvão na América Latina, a termelétrica Ouro Negro, em Pedras Altas (RS), de 600 megawatts (MW). Proposta em 2015 com financiamento chinês, ela vem fracassando sistematicamente em obter contratos em leilões de energia entre 2019 e 2022, superada por alternativas mais baratas, como gás fóssil e fontes renováveis.
Já a operação da usina de Candiota, também no território gaúcho, está ameaçada. Seus contratos venceram em dezembro de 2024, e a empresa sofreu multa do IBAMA por descumprimento de licença ambiental.
Mas o governo gaúcho se mexe para evitar o fechamento das termelétricas a carvão. A Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do estado (SEMA) deve abrir amanhã (8/4) uma consulta pública sobre “potenciais caminhos para uma transição justa e inclusiva”, que busca mapear desafios, vocações e oportunidades para as regiões carboníferas gaúchas, relata o MegaWhat.
O governo do Rio Grande do Sul alega que o encerramento das atividades carboníferas no estado vai colocar “4,5 milhões de empregos” em risco, um número bastante exagerado diante do tamanho do setor. Mas não lembra que milhões de gaúchos foram afetados pelas chuvas extremas que castigaram o estado por quase um mês há um ano. Temporais anormais que a ciência já comprovou terem relação direta com as mudanças climáticas, provocadas pela queima de carvão, petróleo e gás fóssil.
- Em tempo 1: O estudo do GEM também mostra que a adição de novas plantas a carvão cresceu em 2024 no menor ritmo em 20 anos. No ano passado, 44,1 gigawatts (GW) de capacidade de energia a carvão foram comissionados, enquanto 25,2 GW foram aposentados, com um aumento líquido de 18,8 GW. A capacidade comissionada foi quase 30 GW abaixo da média anual de 2004 a 2024, de 72 GW, um sinal da desaceleração contínua na construção global a carvão. Ainda assim, China e Índia continuam impulsionando a fonte e foram mais uma vez as grandes investidoras em novas termelétricas a carvão. Reuters, Bloomberg, Independent e Business Standard repercutiram o estudo.
- Em tempo 2: Aproveitando a sanha de Donald Trump por combustíveis fósseis e seus ataques às fontes renováveis de energia, a usina a carvão de Colstrip, em Montana, a mais poluente dos Estados Unidos, está solicitando ao governo uma isenção dos mandatos de poluição, informam Bloomberg e New York Times. Uma regra adotada pelo governo Biden em 2023 teria obrigado a instalação de novos equipamentos – Colstrip é a única usina de carvão no país a não ter controles modernos de poluição. Agora, a térmica pede isenção de dois anos para adotar essas regras, de acordo com a delegação do Congresso de Montana, que apoiou o pedido.
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Albert Hyseni / Unsplash