Morre Francisco, o “Papa Verde”

Publicada em 2015, a encíclica Laudato Sí simbolizou o engajamento do Papa Francisco com as causas ambientais e a luta contra a crise climática

ClimaInfo

O Vaticano confirmou na manhã desta 2a feira (21/4) a morte do Papa Francisco, aos 88 anos de idade, em decorrência de um quadro de acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência cardíaca. Figura reformista, o sacerdote argentino Jorge Mario Bergoglio ficou marcado por posicionar o meio ambiente e o combate às mudanças climáticas no centro das preocupações da Igreja Católica em seus 12 anos de pontificado.

Como lembrou o Vatican News, um dos marcos foi a publicação da encíclica Laudato Sí, em 2015, meses antes da decisiva COP21 que resultou no Acordo de Paris. A primeira encíclica papal voltada a temas ambientais da história da Igreja, a publicação mesclou reflexões teológicas e preocupações práticas sobre o cuidado com a “casa comum” da Humanidade, a Terra. A encíclica também posicionou a questão ambiental dentro de outra preocupação importante de Francisco: a luta contra a desigualdade social.

“Não enfrentamos duas crises distintas, uma ambiental e outra social, mas sim uma crise complexa que é ao mesmo tempo social e ambiental. As diretrizes para a solução requerem uma abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da Natureza”, escreveu o papa.

Em 2013, Francisco publicou outra encíclica, Laudate Deum, na qual aprofundou suas reflexões sobre a crise climática, reforçando a urgência de seu enfrentamento. O texto ressaltou a ciência do clima, especialmente no que diz respeito à responsabilidade humana pelo aquecimento global e às projeções dos danos e riscos decorrentes da crise à sobrevivência humana. A encíclica também trouxe uma reflexão importante sobre a necessidade de uma reforma do multilateralismo, um tema caro no mundo atual.

“O mundo está se tornando tão multipolar e, simultaneamente, tão complexo que é necessário um quadro diferente para uma cooperação eficaz. (…) Tudo isso pressupõe que se adote um novo procedimento para a tomada de decisões e a legitimação das mesmas. (…) Neste contexto, são necessários espaços de diálogo, consulta, arbitragem, resolução de conflitos, supervisão e, em resumo, uma espécie e maior ‘democratização’ na esfera global, para expressar e incluir as diversas situações”, pontuou o Sumo Pontífice.

O engajamento de Francisco com as discussões ambientais e climáticas também se refletiu no Sínodo da Amazônia, realizado em 2019. Além de abordar os desafios da Igreja em seu trabalho missionário na região, o encontro serviu também como espaço para reforçar a defesa da floresta e de seus Povos em um momento particularmente delicado do ponto de vista político – o primeiro ano da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Em artigo no site The Conversation, a professora Célia Deane-Drummond, da Universidade de Oxford, destacou que o papado de Francisco trouxe três mudanças importantes para o movimento climático internacional. Primeiro, o maior envolvimento político do próprio Papa na diplomacia climática, com a participação do Sumo Pontífice em diversas COPs. Segundo a defesa do protagonismo dos Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais. E, por fim, o impulso para grupos ativistas dentro da própria Igreja se envolver mais ativamente na agenda climática.

O legado climático de Francisco foi lembrado no exterior por AxiosEuronews e TIME, entre outros. No Brasil, veículos como Brasil de FatoExame((o)) eco e Um Só Planeta, além da MetSul, abordaram a morte do Papa e a reflexão ambiental deixada por ele.

Papa Francisco caminha ao lado de índios durante os eventos do Sínodo da Amazônia, reunião de três semanas aborda a preservação da floresta. Foto: Claudio Peri /EFE

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