A região do Vale do Javari (AM), na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, continua sendo um território dominado pela criminalidade
O Ministério Público Federal (MPF) denunciou formalmente nesta 5a feira (05/6) Ruben Dario Villar, conhecido como “Colômbia”, como mandante do assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, exatamente três anos após o crime no Vale do Javari. A ação judicial ocorre sete meses após a Polícia Federal concluir as investigações que apontam o envolvimento do acusado, preso desde dezembro de 2022 por este e outros crimes ambientais e de narcotráfico, noticiou O Globo.
A região da tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, palco do duplo homicídio, continua marcada por tensão e medo devido à forte presença de narcotraficantes e outros criminosos. Apesar das prisões dos executores materiais – Amarildo da Costa Oliveira (“Pelado”) e seus irmãos -, o processo judicial não avançou para a fase de julgamento, mesmo com recurso do MPF ao STJ em outubro passado para manter o júri popular contra os réus.
As investigações revelaram que Bruno Pereira, servidor da FUNAI ameaçado por seu trabalho de proteção territorial, teria descoberto um esquema de lavagem de dinheiro do narcotráfico através da venda ilegal de peixes e animais silvestres. Dom Phillips acompanhava o indigenista para reportagem acerca da região com maior concentração de indígenas isolados do mundo quando foram assassinados, em 5 de junho de 2022. Os corpos foram encontrados dez dias depois com sinais de violência extrema.
Três anos após o crime que chocou o mundo, o caso permanece sem condenações, refletindo as dificuldades da Justiça em combater o crime organizado em áreas remotas da Amazônia. Enquanto isso, as comunidades indígenas do Vale do Javari continuam vulneráveis às ações de redes criminosas que operam na região fronteiriça.
Para dar prosseguimento às lutas promovidas por Bruno e Dom, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA) lançou um manifesto na 5ª feira 5/6. O documento busca preservar a memória das vítimas e de outros defensores da floresta, além de cobrar medidas efetivas para proteger os guardiões dos territórios indígenas. A organização também convocou uma mobilização nas redes sociais, incentivando o uso das cores verde ou branco e das hashtags #BrunoEDom, #JustiçaParaBrunoEDom e #ValeDoJavari para homenagear os dois e ampliar a visibilidade da causa indígena, informou o 18horas.
Com a mesma intenção de utilizar a dimensão política da memória, a CNN Brasil destacou o livro “Como Salvar a Amazônia”, que Dom Phillips escrevia antes de ser assassinado, lançado postumamente em 27/5, após ser finalizado por amigos e colaboradores – incluindo o líder indígena Beto Marubo e jornalistas como Eliane Brum e Tom Phillips. A obra, publicada pela Companhia das Letras (384 páginas), articula diário de viagem, investigação jornalística e manifesto ambiental, incluindo fotos pessoais de Dom, além de registros de seu trabalho na Amazônia. O Guardian também rememorou o complexo contexto do assassinato no Vale do Javari, em reportagem especial. Em O Globo a memória é mais íntima, em tocante relato da antropóloga Beatriz Matos, esposa do indigenista Bruno Pereira.