Discussões resultantes do processo de formação do Programa de Agentes Educadoras e Educadores Populares de Saúde (AgPopSUS), que tem como principal objetivo estimular ações de promoção da saúde.
Por Maria Jardilene*, Brasil de Fato
O programa Agentes Educadores e Educadoras Populares de Saúde (AgPopSUS) é uma iniciativa do Ministério da Saúde (MS), ancorada na Política Nacional de Educação Popular em Saúde (PNEPS-SUS). Criado para fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS) e garantir que comunidades de todo o país tenham voz e protagonismo na defesa do direito à saúde, o programa já formou milhares de agentes em todo o Brasil.
De acordo com o MS, o objetivo é formar 11 mil agentes populares em saúde. A iniciativa está presente em áreas urbanas, rurais, florestas e águas, alcançando populações diversas e fortalecendo saberes tradicionais e práticas comunitárias.
Na Paraíba, são 22 turmas em andamento, envolvendo movimentos sociais, trabalhadores do campo e da cidade, juventudes, mulheres e lideranças comunitárias. Cada turma mergulha nos eixos formativos definidos nacionalmente, que incluem temas como educação popular, SUS e práticas populares de cuidado, feminismo, saúde mental, mudanças climáticas, racismo ambiental e, entre eles, o eixo Soberania Alimentar, Agrotóxicos e Combate à Fome.
A experiência da turma do MTD
Nesse território, a turma organizada pelo Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras por Direitos (MTD) concluiu sua formação com 19 educandos e educandas certificados. Para além dos números, a experiência se consolidou como espaço de fortalecimento político e comunitário.
Além disso, a atividade foi um mergulho nas memórias e nas práticas cotidianas. Trabalhar esse tema foi resgatar a história dos nossos antepassados, avós, pais e de nós mesmas. Compartilhar esses conhecimentos é resgatar nossas lutas e conquistas que nos fortalecem enquanto seres humanos, cidadãos e protagonistas de nossas próprias histórias.
O encontro começou com uma dinâmica intergeracional, valorizando os saberes das gerações passadas – o uso sábio da terra, a agroecologia, o cuidado com a alimentação nutritiva. A partir daí, foi feito um resgate da fome no Brasil, desde o período colonial até a atualidade, refletindo como o sistema capitalista segue negando direitos básicos como saúde, educação e cultura.
A realidade dos territórios
Na troca de experiências, surgiram preocupações com a expansão do uso de agrotóxicos em algumas comunidades. Existe uma grande propaganda sobre os venenos, que dizem facilitar o trabalho e melhorar a produção. Mas sua utilização chega aos pequenos agricultores de forma destruidora, comprometendo a vida saudável, a economia, a cultura e o meio ambiente. As multinacionais não estão preocupadas com a soberania alimentar, e sim com o lucro e a manutenção do sistema capitalista.
Ainda assim, as experiências agroecológicas mostradas durante a formação – como a visita a um lote de reforma agrária onde a diversidade de frutas, animais e práticas sustentáveis garantem a produção saudável – provaram que é possível produzir de outro modo. Nesse espaço, os educandos puderam refletir sobre o que produzem, como produzem e para quem produzem, relacionando essas escolhas com a luta pela reforma agrária, pela soberania alimentar e pela dignidade das famílias.
Saúde e luta coletiva
O relato da turma aponta também como a falta de soberania alimentar impacta diretamente o SUS. Populações adoecidas pela má alimentação e pela exposição a agrotóxicos sobrecarregam o sistema público de saúde, ampliando a necessidade de políticas públicas que incentivem práticas agroecológicas e comunitárias.
Na construção de um Brasil melhor, acreditamos e defendemos as práticas da agroecologia, da reforma agrária, das cozinhas solidárias e do AgPopSUS. Este programa tem uma linha sólida em relação à educação popular em saúde, porque as temáticas têm ligação concreta com o contexto social, com o SUS e com os movimentos sociais.
Um programa nacional com raízes populares
A experiência da turma do MTD é apenas uma entre as 22 formações que acontecem hoje na Paraíba. Juntas, elas integram uma rede nacional de educação popular em saúde que, ao mesmo tempo em que fortalece o SUS, ajuda a construir alternativas de futuro baseadas em justiça social, soberania alimentar e protagonismo popular.
Enxergamos o AgPopSUS como um programa que tem potencial para contribuir com nossa formação política e cidadã, que fortalece o SUS, e que nos possibilita lutar por nossos direitos de forma organizada, coletiva e saudável, física e mentalmente.
*Maria Jardilene é militante do MTD e educadora do AgPopSUS.
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Imagem: AgPopSUS
