Há surpresa nas pesquisas sobre o Rio? Por Gilberto Maringoni

1. OS INDICATIVOS DAS SONDAGENS de opinião pública mostram que a maioria da população carioca aprova a matança patrocinada por Claudio Castro no Alemão e na Penha. Segundo o Datafolha, 57% dos moradores da região metropolitana do Rio de Janeiro consideram a operação um “sucesso”. Já a pesquisa Genial/Quaest mostra que 64% da população do estado do RJ aprovam o raid das forças de segurança. Os levantamentos têm metodologias distintas, mas a tendência é convergente.

2. ANTES QUE APAREÇAM OS OPORTUNISTAS de sempre, falando em “pobre de direita”, vale dizer que a Quaest revela algumas nuances. Segundo a amostragem, 50% dos moradores do estado avaliam que a PM deve tentar prender uma pessoa com fuzil na mão antes de atirar, contra 45% que defendem atirar primeiro. Um total de 52% opina que o estado está mais inseguro depois do massacre, contra 35% que pensa o oposto.

3. AS AFERIÇÕES FORAM REALIZADAS sob enorme carga emocional do choque causado pela maior chacina da História do Brasil, o que pode tornar os resultados voláteis. Seria interessante que os dois institutos voltassem a colher opiniões mais adiante, para verificar se as tendências se mantêm. Por mais estranho que possa parecer, os resultados não causam surpresa e mostram tendências contraditórias nos pontos mencionados.

4. PARA ALÉM DE TUDO, é preciso abrir o foco de análise e levantar pelo menos dois pontos relevantes no contexto da fúria assassina da gestão Claudio Castro.

5. O PRIMEIRO É A INEXISTÊNCIA de contraponto claro ao comportamento alucinado da extrema-direita. Diante de 130 cadáveres, qual a reação daquilo que se chama “o outro lado”, levando-se em conta que não estamos debatendo uma ação meramente policial, mas uma ofensiva política fascista? O outro lado seria o governo federal e o principal partido de sua base parlamentar.

6. NÃO É OFERECIDO à população nenhum contraponto claro à brutalidade sem freios. O presidente da República, como costuma acontecer em situações de conflito, decidiu jogar parado. Sancionou uma lei aprovada pelo Congresso, apresentada por Sérgio Moro, de confuso endurecimento penal, e fez propaganda vazia da PEC da Segurança Pública. Seu ministro da Justiça voou para o Rio, somando-se tacitamente a Claudio Castro na investida punitiva. Notas oficiais primaram pela irrelevância. O governo decidiu não disputar a opinião pública, acatando sugestões de marketing para deixar a coisa esfriar, de olho em pesquisas de popularidade.

7. AS PRINCIPAIS FIGURAS PÚBLICAS do partido mais importante da base oficial, o PT, têm posições semelhantes às da extrema-direita. É o caso do prefeito Quaquá, do ministro Rui Costa e dos governadores Jerônimo Rodrigues e Elmano de Freitas, em especial.

8. O SEGUNDO PROBLEMA É ESTRUTURAL. O atual governo dá curso a uma diretriz neoliberal que já dura 31 anos, sendo que metade desse período tem sido de duros e ininterruptos ajustes fiscais. Embora as administrações Temer e Bolsonaro tenham levado a dinâmica ao paroxismo, os fundamentos da economia seguem sendo cortes de gastos, juros na estratosfera, desnacionalizações e privatizações, ora explícitas, ora disfarçadas de concessões e PPPs.

9. NA PRÁTICA, MANTÉM-SE a implosão de direitos promovidos pela reforma trabalhista de 2017, cortes de serviços sociais, aumento do nível de emprego com baixíssimos salários, políticas de encarceramento em massa etc. O grande projeto nacional é desmantelar a Educação, a Ciência, a Saúde e o que resta das estatais através do garrote implacável do arcabouço fiscal. Ou seja, para as populações pobres e miseráveis continua-se com a boa e velha concentração de renda, pontuada por soluções parciais, como revisão da tabela do Imposto de Renda e políticas sociais focadas, alvo atual da tesoura planaltina.

10. PARA UMA POPULAÇÃO apavorada com a violência do tráfico, das milícias e da polícia, que não vê disputa de valores na sociedade e com uma orientação financista e contracionista por parte do Ministério da Fazenda e do Banco Central, a preferência pela matança não deveria surpreender ninguém.

11. REPITO O QUE ESCREVI há alguns dias: a extrema-direita impôs sua agenda para a corrida presidencial e colocou o progressismo na defensiva. Temos 11 meses para virar o jogo. Não se pode jogar parado, como se a vitória em 2026 viesse pela força de gravidade. Nosso problema não é de polícia, mas de política.

Imagem capturada de vídeo “Liberte o futuro”.

Encaminhada para Combate Racismo Ambiental por Sonia Maria Rummert.

 

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