Nas 4 capitais analisadas pelo Instituto Pólis, racismo ambiental amplia desigualdades no acesso a saneamento e saúde
Por Adele Robichez, Gabriela Carvalho e Lucas Krupacz, Brasil de Fato
Um estudo inédito do Instituto Pólis revela que o racismo ambiental aprofunda desigualdades nas cidades brasileiras diante da crise climática. O levantamento, realizado em Belém (PA), Porto Alegre (RS), Recife (PE) e São Paulo (SP), mostra que a população negra é maioria nas áreas mais expostas a enchentes, deslizamentos e doenças ligadas à falta de saneamento básico.
Segundo Cássia Caneca, diretora do Instituto Pólis, entrevistada no Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, a pesquisa quis entender o papel das cidades no enfrentamento às mudanças do clima e constatou que “a vida de pessoas racializadas e empobrecidas nos territórios negros da cidade é muito mais difícil, e o avanço das políticas públicas, como o saneamento, muda diretamente essa realidade”. O levantamento mostra que, em São Paulo, apenas 77,2% das áreas periféricas têm acesso a esgoto, enquanto a média do município supera 91,7%.
Em Belém, pessoas negras têm até 30 vezes mais chances de hospitalização por doenças de veiculação hídrica do que pessoas brancas. No Recife, os bairros brancos concentram os melhores índices de saneamento, arborização e renda: sete vezes superiores aos das comunidades negras e periféricas. Já em Porto Alegre, 40,2% das pessoas negras vivem em áreas de risco, número bem acima da média municipal.
Para Caneca, essas diferenças refletem um urbanismo “colonialista, que privilegia investimentos nas áreas centrais e deixa as populações periféricas expostas aos desastres climáticos”. Ela destaca que mulheres negras chefes de família estão entre as mais afetadas, acumulando os impactos da desigualdade, do trabalho de cuidado e da precariedade das moradias.
O relatório propõe medidas integradas, como urbanização de favelas, fortalecimento da saúde pública e criação de moradias em áreas centrais, para garantir a justiça climática nas cidades. “Pensar políticas interseccionadas e voltadas ao território é o que pode garantir uma vida minimamente sustentável diante dos efeitos da crise climática”, defende a diretora.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira: a primeira às 9h e a segunda às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.
Editado por: Nathallia Fonseca
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FOTO: FÁBIO PONTES
