OTSS Bocaina reforça diálogo entre saber científico e tradicional para a Promoção da Saúde

Vinicius Carvalho, OTSS/Fiocruz

Brasília sediou (23/11 a 3/12) o 14º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva (Abrascão 2025), sob o tema Democracia, Equidade e Justiça Climática: saúde e os enfrentamentos dos desafios do século 21. Entre os participantes, o Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS Bocaina), uma parceria entre a Vice-presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz) e o Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT), apresentou um total de 11 trabalhos que destacaram a relevância da integração entre conhecimento científico e saberes de povos e comunidades tradicionais na abordagem dos desafios da saúde coletiva.

Os trabalhos abrangeram modalidades como Pôster Eletrônico, Apresentação Oral Curta, Comunicação Oral Curta, Relato de Experiência, Relato de Pesquisa e Produção Técnica, abrangendo os eixos temáticos Ambiente, clima, justiça ambiental e saúde, Movimentos sociais e educação popular em saúde, Democracia, Participação e Controle Social na Saúde, Saúde dos Povos Indígenas e Determinação Social, Equidade e Promoção da Saúde.

“Levamos uma delegação diversa, composta por pesquisadores acadêmicos e comunitários. E essa presença nos permite posicionar o Observatório como uma possibilidade potente no debate da saúde coletiva a partir da construção de diálogos entre olhares heterogêneos e diversos”, afirma o coordenador-geral de Governança e Gestão do OTSS, Leonardo Esteves.

Segundo ele, as ações apresentadas pelo OTSS destacaram o compromisso com a participação social e a democracia. O projeto Governança viva e promoção da saúde: a construção participativa do modelo de governança e gestão do OTSS ilustrou a construção de modelos de gestão participativos capazes de mobilizar organizações públicas e movimentos sociais para atuarem em conjunto na promoção da saúde e do desenvolvimento sustentável.

Já a iniciativa Biblioteca de tecnologias sociais e ancestrais: fortalecimento de saberes tradicionais para políticas públicas em territórios costeiros demonstrou a relevância do saber tradicional na prototipagem de processos de incubação dedicados à promoção de Territórios Sustentáveis e Saudáveis, estabelecendo uma conexão direta entre a pesquisa acadêmica e as práticas locais das comunidades tradicionais.

Justiça climática

A justiça climática e ambiental, tema central do Abrascão 2025, também foi abordada nos trabalhos do OTSS. Diversas apresentações inseridas no Eixo 03 – Ambiente, clima, justiça ambiental e saúde discutiram os impactos das mudanças climáticas e a busca por territórios mais justos. O projeto Redes foi destaque em múltiplos painéis, incluindo os trabalhos A educação ambiental crítica: o fortalecimento da organização comunitária de pescadores artesanais no Litoral Norte Paulista e na Baía da Ilha Grande e Riscos e desastres no contexto de um projeto de educação ambiental orientado a comunidades tradicionais: o caso do projeto Redes no Litoral Sul Fluminense e Norte Paulista.

“Cito o meu exemplo, que entrei num curso do projeto Redes, me tornei educador e, a partir daí, conseguimos fundar a associação de pescadores do bairro de Maresias (SP). Com a associação fundada, começamos a ocupar os espaços. Conquistamos cadeira no conselho da marinha, no conselho de pescadores municipal. Mostramos que a partir do fortalecimento do projeto Redes a gente criou autonomia da comunidade para ocupar os espaços e fortalecer a luta pela pesca artesanal e pela saúde”, explica Jade Branco, caiçara e pesquisador comunitário coautor de um dos trabalhos.

Outra contribuição foi a Proposição de novos impactos e recomendações ao licenciamento ambiental: refletindo sobre o relatório analítico do GT Perdas e Danos (OTSS/Fiocruz) sobre comunidades tradicionais. Esta iniciativa levantou a discussão sobre a necessidade de revisar práticas de licenciamento que, muitas vezes, desconsideram o tema da saúde, os saberes e as realidades locais, contribuindo para a vulnerabilidade de comunidades e para o racismo ambiental. Já a mesa Resistências, território e saúde integral frente a grandes empreendimentos extrativistas reforçou o papel da Fiocruz e do FCT, por meio do OTSS, na defesa dos direitos territoriais e da saúde.

Sustentabilidade e soberania alimentar como elementos de saúde

As iniciativas do OTSS também incluíram projetos que vinculam a saúde à sustentabilidade e à valorização da sociobiodiversidade. O trabalho Saúde, sociobiodiversidade e soberania alimentar: o coletivo Cozinha das Tradições do Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT) e práticas alimentares na Serra da Bocaina exemplificou a importância das práticas alimentares tradicionais para o bem-estar e a autonomia. Esta pesquisa, alinhada ao Eixo 10 – Democracia, Participação e Controle Social na Saúde, evidenciou como o resgate dessas tradições contribui para a segurança alimentar e a saúde coletiva.

Adicionalmente, a Implantação de banheiro ecológico como instrumento de permanência territorial na Aldeia Nhamandu Rio Bonito, Ubatuba – SP demonstrou soluções sustentáveis que visam a permanência de povos indígenas em seus territórios, um fator crítico para a saúde e a autonomia, conforme discutido no Eixo 31 – Saúde de Povos Indígenas.

O Observatório também destacou a capacidade de resposta da Fiocruz e do FCT a situações de crise. A campanha Cuidar é Resistir: resposta à pandemia com solidariedade e economia solidária em comunidades tradicionais ilustrou a vitalidade da organização comunitária e da economia solidária como estratégias de enfrentamento e resistência, especialmente em contextos de alta vulnerabilidade. Esta iniciativa, originária da Incubadora OTSS, reforçou a importância da construção de uma sociedade atenta e comprometida com o bem-viver.

Foto: OTSS

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