Funai Campo Grande é agraciada com um coronel fazendeiro como coordenador regional. E nós?

Tania Pacheco

O Diário Oficial da União de hoje segue trazendo notícias ‘alvissareiras’: o atual ocupante da Secretaria Executiva do Ministério da Justiça (também apelidado ‘da Cidadania’) exonerou Evair Borges do cargo de Coordenador Regional da Funai em Campo Grande, MS. No mesmo ato, indicou para o posto o coronel da reserva do Exército Renato Vidal Sant’Anna.

Até onde sei, Evair Borges tem 16 anos de Funai, além de ser ele próprio indígena de etnia Terena, natural da Aldeia Lalima. Foi Chefe de Posto e da Coordenação Técnica Local (CTL) por 14 anos e estava na Coordenação Regional desde abril de 2014, inicialmente como substituto e, meses depois, efetivado.

Por outro lado, quem será o novo Coordenador Regional? O coronel, como já foi dito, é um militar da reserva. Na ativa, entre outros postos comandou o 23º Batalhão Logístico de Selva, sediado em Marabá. De onde vem essa informação e por que elas nos interessa?

Comecemos pela segunda questão: o comando do coronel é citado em notícia que tem por título “Sem-terra invadem seis fazendas no Pará”, de 16 de junho de 2004, e o uso do verbo ‘invadir’ é uma pista razoável sobre a visão de mundo do veículo da informação. O texto nos conta que uma das fazendas ‘invadidas’ teria sido  a Araripe, que ocupa 3,6 mil hectares entre os municípios de Marabá e Itupiranga. “O proprietário do imóvel é o coronel do Exército Renato Vidal Sant’Anna”, diz, antes de acrescentar: “comandante em Marabá do 23º Batalhão Logístico de Selva”.

A notícia dá alguns dados sobre as outras fazendas, dentre as quais uma merece destaque: “O dono da Santa Mônica é Lourival de Souza Costa, o Pirrucha, acusado de ser um dos mandantes do assassinato do diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rondon, Ribamar Francisco dos Santos. O crime foi no dia 6 de fevereiro deste ano”. E, depois de dizer que segundo o MST tratava-se de terras “griladas” da União,  informa ainda: “Os fazendeiros instalados ao longo das rodovias federais e estaduais no Sul do Estado estão contratando empresas de segurança e pistoleiros para defender suas terras. O clima é de tensão e há risco de conflitos armados”.

A fonte? Nada mais nada menos que o site do PSDB, conforme pode ser lido AQUI.

Seja lá como for, confesso que tentei, mas não consegui articular qual dessas informações credenciaria o coronel fazendeiro para a Coordenação da Fundação Nacional do Índio. Decidi então ir além do psdb. Tentei o Google, a Plataforma Lattes… tudo em vão.

Incompetência minha, com certeza. Mas juro que fiquei preocupada! Afinal, nos fazer engolir um coronel será a forma buscada para tentar preparar nossos estômagos para um general na presidência? Como esse (des)governo não cansa de nos mostrar corroborando a Lei de Murphy, parece que sempre será possível algo pior…

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Menina da etnia indígena Kaiapó . Foto de Ricardo Moraes, Reuters.