Especialistas rebatem defesa de Barroso de privatização da UERJ

No Justificando

Em artigo publicado no jornal O Globo neste sábado, 15, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), defendeu um modelo de financiamento privado para as Universidades Públicas nos moldes norte-americanos. O ministro se baseou na crise financeira na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) para propor a privatização do ensino público superior. “Precisamos conceber uma universidade pública nos seus propósitos, mas autossuficiente no seu financiamento” – afirmou.

O ministro ainda defendeu a reunião das “melhores cabeças do país e, talvez, uma consultoria internacional” para repensar o sistema público de ensino, além dela ter uma gestão profissional e “despolitizada”.

O artigo causou incômodo e foi rebatido por especialistas e movimentos. Nas redes sociais, o Professor da Universidade Federal Fluminense e Doutor pela UERJ, Enzo Bello, destacou que não há como se comparar o contexto estadunidense com o brasileiro – “Nas linhas e entrelinhas, [Barroso] indica o modelo estadunidense, financiado por “doações de ex-alunos” e grandes corporações privadas. Contexto completamente diferente do Brasil, sobretudo em termos de formação histórica, cultural, socioeconômica… e constitucional!”.

“É evidente que esta proposta se desdobra da PEC 55: Trata-se de liquidar o ensino superior público, universal e gratuito e sua autonomia pedagógica diante do grande capital. Trata-se de submetê-lo radicalmente ao mercado, sobretudo quando a lei de cotas impõe a presença de 50% dos alunos vindos de escola pública” – resumiu o Professor da UFRJ, Carlos Eduardo Martins.

Já o Movimento Direito para Quem? destacou em nota que o ministro utilizou de eufemismo para defender a privatização do ensino e que, de forma conveniente, não responsabilizou as administrações de Cabral e Pezão, ex e atual governador do Estado, no sucateamento da Universidade.

Leia a nota completa do Movimento Direito para Quem?

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O Ministro Luís Roberto Barroso vem hoje ao Jornal O Globo propor caminhos para solucionar a grave crise experimentada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – reflexo evidente da penúria financeira por que passa a Unidade da Federação. Bebe nas águas de sua própria formação para sugerir que imitemos o modelo preponderante nos Estados Unidos da América e, em suas palavras, tenhamos uma Universidade “pública nos seus propósitos, mas autossuficiente no seu financiamento”. Eufemismo para a boa e velha privatização. Aquela mesma “solução” implementada por sucessivos governos neoliberais em setores diversos da economia brasileira – que terceirizou a gestão de assuntos estratégicos para grupos privados e sangra até hoje o patrimônio da nação.

Talvez porque Ministro do Supremo Tribunal Federal, o Professor Luís Roberto Barroso se eximiu de críticas essenciais a quem desejava tocar no assunto: nenhuma palavra sobre o (des)governo de Cabral e Pezão; nenhuma palavra sobre a ausência de investimentos produtivos na educação fluminense há anos; nenhuma palavra sobre o sucateamento da Universidade pública mesmo quando o Estado vivia períodos de bonança econômica.

O desejo das elites brasileiras por copiar exemplos americanos é mais velho do que andar para frente. Vem da República Velha, passa por Lacerda, pelo regime militar e, mais recentemente, por Collor e FHC. “Soluções” como esta ignoram os níveis de desigualdade social encontrados naquela sociedade – muito tributário de uma educação superior absolutamente elitizada, acessível a grupos privilegiados independentemente de processos de seleção justos e republicanos – e ignoram a própria realidade e história brasileiras.

A comunidade acadêmica uerjiana e a população do Estado do Rio de Janeiro desejam soluções que respeitem a verdadeira vocação desse espaço incrível de produção de conhecimento e independência: que a UERJ siga pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada; que os governos federal e estadual compreendam a importância da educação superior no processo de recuperação do crescimento econômico e que os modelos importados de privatização sejam rechaçados, na certeza de que no horizonte de superação dessa crise está um país mais forte, democrático e independente.

Comments (1)

  1. Sim, senhores. Faz alguns anos que os fatos convenceram-me de que: 1.Somente um pais muito rico, sem problemas graves na área de saúde pública – sequer conseguimos debelar a infestação de uma meia dúzia de mosquitos letais – , segurança e oferta de empregos pode oferecer educação pública gratuita de nível superior e de ppg; 2-O ministro Barroso é pessoa inteligente e corajosa ao falar francamente sobre o que a maioria dos políticos sabem – omitem-se para não perder votos; 3-O Estado brasileiro não tem dinheiro para suportar o financiamento integral de escolas técnicas de ns e ppg. 4-Não é justo que a classe média pague a faculdade e o ppg de filhos de banqueiros, senadores, industriais bem sucedidos [também há falidos], ministros da alta magistratura, atores da Globo, SBT etc. 5-Parte da solução: a) bolsas para estudantes pobres e de alto rendimento escolar – isso é mérito; b) a família apresentará declarações do IR/MF para comprovar a condição econômica; c) uma faixa de estudantes pobres ou remediados poderá receber financiamento do GF para paga seus estudosr em até 10 após formado. Enfim, basta de demagogia, é hora de abrir um debate nacional .

    Ary Txay – [email protected] / bel. em adm. pública, espec. em adm. municip. e meio ambiente, escritor

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