Em vídeo, Guarda de Caxias remove à força indígenas que vendiam produtos na rua

Fernanda Canofre – Sul21

Em um vídeo com mais de 3 mil compartilhamentos, circulando desde sábado (21) nas redes sociais, um grupo de agentes da Guarda Municipal de Caxias do Sul aparece rendendo e levando para a viatura dois indígenas que comercializavam produtos em uma calçada próxima à Praça Dante Alighieri, no centro da cidade. Nas imagens publicadas no perfil de Marcelo de Lima Maciel, no Facebook, uma mulher indígena aparece sendo segurada pelos braços por dois agentes. Ela se debate e um deles a derruba no chão, segurando seu rosto contra a calçada, enquanto coloca algemas. Pelo menos oito agentes da Guarda Municipal aparecem nas imagens fazendo a apreensão dos produtos, dos dois ambulantes e de uma criança que os acompanhava.

Para o secretário municipal de Segurança Pública de Caxias, José Francisco Mallmann, não houve exagero ou uso desproporcional da força por parte dos agentes públicos. “Se houver qualquer tipo de abuso, a Guarda Municipal tem uma corregedoria que pode apurar. Na nossa avaliação, o procedimento foi feito de acordo com o manual que tem a Guarda nesses casos”, afirma ele.

A ação que terminou na detenção dos dois indígenas faz parte da Operação Centro Legal, iniciada na semana passada pelo novo prefeito da cidade, Daniel Guerra (PRB), que visa coibir “o comércio ilegal de mercadorias no centro da cidade”. O problema seria que os indígenas comercializavam produtos industrializados e sem procedência comprovada. Uma nota publicada no site da prefeitura diz que as ações – que ocorrem de segunda a sábado, das 8h às 18h – são para todos: “caxienses, pessoas de outros lugares do Brasil ou estrangeiros”.

O secretário de Segurança também defendeu o trabalho da Guarda afirmando que o vídeo “coloca metade da história (…) para confundir a população”. “O que não está colocado é a abordagem do guarda, que chegou, explicou e o que a indígena disse? Que ela só obedeceria a Polícia Federal, que ela entendia que só quem poderia fazer isso é a Polícia Federal. (…) Ela avançou contra o guarda, mordeu o guarda e ameaçou de morte. O guarda teve que dominar e, para não haver lesões corporais, ela teve um comportamento histérico, tiveram que chamar mais dois guardas para dominar essa pessoa”, explica Mallman.

O outro lado, no entanto, segundo o homem responsável pela gravação do vídeo, o artista Marcelo de Lima Maciel, foram os minutos antes da Guarda Municipal segurar a indígena, que ele não teve tempo de gravar. “Os guardas chegaram e pediram para os índios saírem dali, eles disseram que não iriam sair e mostraram identidade. Os guardas empurraram o índio e, quando ele caiu pra trás, um deles foi sacando a arma de choque. Deram choque nele ali. Foi aí que a índia, que estava com ele, correu pra ajudar, seguraram ela e ela tentou se defender”, relata Marcelo.

Acostumado a vender seus CDs de RAP nas ruas de Caxias do Sul há três anos, Marcelo diz que nunca tinha visto uma reação tão desproporcional da Guarda Municipal com ambulantes. Ele conta que os indígenas têm costume de ficar no ponto em que estavam na sexta-feira (20), quando ocorreu a apreensão, e que nunca haviam sido abordados. O próprio Marcelo diz ter sido interpelado pela Guarda na semana passada, mas que não teve problemas.

Os indígenas são mãe e filho, da tribo kaingang de Farroupilha. O menino que acompanhava os dois e também foi levado pela Guarda é filho do rapaz. Segundo testemunhas, ele começou a chorar no momento em que o pai foi derrubado e teve de ser apoiado por funcionários de uma farmácia próxima, enquanto a Guarda seguia com a ação.

A coordenadoria regional da Fundação Nacional do Índio (Funai) responsável por atender a área onde vivem os indígenas diz que irá apurar o caso. Segundo Jorge Carvalho, coordenador da Funai de Porto Alegre, nesta terça-feira (24), eles terão uma reunião com a prefeitura municipal de Caxias e com os indígenas que comercializam produtos na cidade para “diminuir a distância nas relações”. “Vamos ouvir a Prefeitura, porque os índios já tinham autorização para vender naquele local. Queremos entender o que houve”, afirma.

Carvalho diz ainda não saber o resultado do exame de corpo de delito dos dois indígenas agredidos para afirmar se houve lesão corporal e qual a extensão, mas afirma: “No psicológico sim, com certeza isso está marcado para eles”.

O Conselho Indigenista Missionário (CIMI) também estuda o caso e deve se manifestar nos próximos dias.

Mulher foi levada por guardas junto ao filho e ao neto. Toda a mercadoria que tinham foi apreendida | Foto: Reprodução/ Facebook

https://www.facebook.com/esquinadorapcxs/videos/273434839742564/

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