Arquivo da Repórter Brasil mostra um histórico de violações ambientais, trabalhistas e sanitárias envolvendo a dona de marcas como Friboi, Swift e Seara.
Antes de estar no centro de um escândalo de corrupção que coloca em risco o mandato do presidente da República, a JBS sofreu acusações que vão muito além da apropriação do dinheiro público. Matérias da Repórter Brasil dos últimos oito anos escancaram problemas trabalhistas, ambientais e sanitários na empresa.
O histórico da maior produtora de proteína animal do mundo inclui compra de produtos de fazendas com trabalho escravo, desmatamento ilegal, maus tratos aos animais e até supostos favorecimentos no Judiciário. As manifestações da JBS sobre cada caso, à época da publicação, estão dentro das reportagens.
Março de 2017: Frigoríficos da empresa no sudeste do Pará compravam gado criado em área de desmatamento ilegal que estavam embargadas pelo Ibama. A prática é considerada crime ambiental e revela um esquema de manipulação dos documentos que certificam a origem do boi.
O caso foi descoberto pela operação Carne Fria, deflagrada pelo Ibama, que também investigou outros frigoríficos. A empresa adquiriu 49.468 cabeças de gado ilegais e foi multada em R$ 24,7 milhões pela prática.
Fevereiro de 2017: A Reforma da Previdência, proposta pelo governo federal no final de 2016, ignora os R$ 426 bilhões que não são repassados pelas empresas ao INSS. O valor da dívida equivale a três vezes o chamado deficit da Previdência em 2016.
Levantamento da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional mostra que a JBS é a segunda empresa que mais deve ao governo: R$1,837 bilhão, atrás somente da Varig.
Setembro de 2016: Investigação da Repórter Brasil mostrou que os fornecedores da JBS violam a política de bem-estar animal da empresa e as recomendações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento sobre o assunto.
Entre os maus tratos, a investigação encontrou bezerros sendo queimados no rosto com ferro quente em Mato Grosso, bois tomando choques elétricos em Goiás, uma vaca recebendo pauladas em São Paulo e um filhote recém-nascido com uma corda amarrada no pescoço pela qual era arrastado por um cavalo no Mato Grosso do Sul.
Agosto de 2016: A JBS e outros frigoríficos do Brasil não reconhecem as doenças que seus funcionários contraem no ambiente de trabalho. O problema foi constatado nos frigoríficos da empresa por auditores fiscais, e é corroborado por depoimentos dos funcionários.
Ao fazer isso, a empresa economiza em diferentes frentes, e todos os outros contribuintes acabam pagando pelos problemas através do INSS. Enquanto isso, os trabalhadores doentes seguem sem nada que possa amenizar os seus problemas.
Julho de 2016: Da fazenda ao curtume, trabalhadores ligados à JBS queixaram-se do desrespeito a direitos básicos em todas as etapas da indústria da carne. A Repórter Brasil ouviu, em três estados do país, vaqueiros em fazendas, caminhoneiros da empresa, além de empregados de frigoríficos e curtumes – onde o couro dos bois é tratado.
Todos os dias, aproximadamente 15 milhões de frangos são transportados no Brasil das fazendas para o abate em frigoríficos. Colocar os frangos em caixas – e, posteriormente, as caixas em cima dos caminhões – é uma tarefa árdua, realizada por equipes que percorrem rodovias e estradas de terra a bordo de pequenas vans.
Os trabalhadores das empresas terceirizadas da JBS estão entre os que sofrem nessa atividade. Em uma fiscalização do Ministério do Trabalho, nove apanhadores de frangos foram resgatados do trabalho análogo ao escravo em fevereiro de 2015, desta vez em Forquilhinha (SC). O grupo, em parte oriundo do Paraná, havia sido arregimentado por uma empresa terceirizada que prestava serviços à JBS, dona de um frigorífico no município.
Abril de 2015: Com três acidentes graves em apenas um ano, a JBS foi alvo de ações milionárias que denunciaram falta de segurança para trabalhadores nos frigoríficos.
No Mato Grosso do Sul, um trabalhador teve seu braço violentamente tragado por uma máquina enquanto a limpava. No Paraná, outro funcionário teve a mão decepada enquanto limpava uma máquina de moagem de suínos. Já um mecânico em São Paulo morreu depois de cair em uma máquina de trituração.
Março de 2015: A empresa adquiriu centenas de cabeças de gado de Cirineide Bianchi Castanha, mãe de Ezequiel Antônio Castanha, preso pela Polícia Federal sob acusação de ser “o maior desmatador da Amazônia em todos os tempos”.
Documentos obtidos pela Repórter Brasil revelam que os animais eram provenientes de Nova Bandeirantes, Mato Grosso, região onde a família controla diversas propriedades. Antes dessas vendas, em fevereiro de 2013, o pai de Ezequiel, Onério Castanha, transferiu mil cabeças de gado que estavam em seu nome para Cirineide – esposa de Onério e mãe de Ezequiel. Pai e filho são réus de ação penal movida pelo Ministério Público Federal do Pará (MPF-PA).
Agosto de 2014: A JBS foi condenada pela Justiça Trabalhista em dois processos diferentes abertos pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) com base em infrações sistemáticas de leis trabalhistas.
A empresa serviu alimentos contaminados aos empregados, incluindo carne com larvas de moscas varejeiras. A unidade industrial de Juruena (MT) também teve vazamento de gás amônia, tóxico aos trabalhadores.
Maio de 2013: Durante quase 10 de seus 49 anos de vida, Joaquim Eduardo permaneceu alojado nos fundos de uma propriedade rural, em Dourados, no Mato Grosso do Sul (MS). Isolado, ele não dispunha de água potável ou qualquer outra forma de abastecimento. Para matar a sede, tomar banho ou realizar necessidades, deveria caminhar até um açude próximo que construiu ao chegar no local.
A JBS havia comprado vinte cabeças de gado da fazenda. Após ser informada do caso, a empresa cortou o fornecimento. O resgatado recebeu R$25.360,97, pagos em juízo pelo grupo JBS devido à venda de 20 cabeças de gado bovino da criação do fazendeiro para a empresa.
Setembro de 2012: A rotina dos trabalhadores da indústria de abate de aves, suínos e bovinos envolve inúmeros riscos devido ao manuseio de instrumentos cortantes, a pressão por altíssima produtividade e, não raro, jornadas exaustivas em ambientes frios e insalubres. A investigação Moendo Gente mostrou os maiores problemas nessa indústria.
Entre os frigoríficos investigados, estavam plantas da JBS, onde foram encontrados os problemas relativos à saúde e segurança dos empregados
Outubro de 2011: A empresa comprou animais de propriedades rurais da “lista suja do trabalho escravo”, embargadas por irregularidades ambientais e localizadas em terras indígenas Maraiwatsede. O frigorífico foi notificado pelo Ministério Público Federal (MPF) pela compra irregular desse gado no estado do Mato Grosso.
Março de 2011: O levantamento “Quem se beneficia da destruição da Amazônia”, produzido pela Repórter Brasil, mostrou casos de violação de direitos socioambientais ocorridos na Amazônia, as empresas envolvidas, a relação com o consumidor paulistano e a posição assumida pelas companhias diante das constatações. A JBS foi citada três vezes.
Janeiro de 2011: A baixa temperatura dentro do frigorífico, a falta de agasalho adequado e a permanência no local de trabalho por período superior ao legalmente permitido são algumas das causas que levaram a JBS a ser condenada pelo Tribunal Regional do Trabalho da 18ª região em janeiro de 2011.
A empresa foi condenada pelas violações em uma Ação Civil Pública e obrigada a pagar R$1.000 por funcionário enquanto não regularizasse essas situações.
Dezembro de 2010: Apenas no final de 2009, nove trabalhadores desmaiaram no frigorífico da JBS em Naviraí (MS). Dois foram levados ao hospital para tratamento dos ferimentos decorrentes das quedas sofridas após os desmaios. Esse e outros problemas levaram à interdição do setor de abate do local.
Quase aposentado, o desembargador Abdalla Jallad liberou o funcionamento do frigorífico. O magistrado teria sido instado pelo então governador do Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (PMDB), a atuar em favor da empresa. Apurações relativas ao caso correram sob sigilo no âmbito do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Abril de 2010: O grupo móvel de fiscalização ao trabalho escravo encontrou 28 trabalhadores rurais sem acesso a estruturas básicas de sanitários, à água e fiação elétrica e dividindo espaço até com cavalos e mulas. Eles eram submetidos a longas jornadas (das 5h da manhã às 18h, sem descansos regulares) e sufocados pelo endividamento (cobranças de “aluguel”, de alimentação e até equipamentos de proteção e ferramentas de trabalho).
As libertações de condição análoga à escravidão ocorreram na Fazenda Tarumã, em Santa Maria das Barreiras (PA), que pertence à CSM Agropecuária S/A. De acordo com a fiscalização, a Tarumã atuava como fornecedora de um frigorífico da JBS.
Setembro de 2009: Investigação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal aponta a prática de diversos crimes cometidos para favorecer frigoríficos, entre eles a JBS, que teriam o respaldo de uma “quadrilha” montada na Superintendência Federal da Agricultura em Rondônia (SFA/RO), repartição local do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Entre as infrações, está a concessão de laudos frios e a liberação para funcionamento das unidades de produção. As supostas fraudes ocorreram entre 2007 e 2009.