Deputado Wlad emplaca irmão no comando da Superintendência do Incra no Tapajós

Réu no STF e com mandato cassado pelo TRE, Wladimir Costa (SD-PA) também recebeu emendas como agrado do governo Temer, cujo nome ele “tatuou” no ombro direito

Por Cauê Seignemartin Ameni – De Olho nos Ruralistas

Ele é conhecido no Congresso como Wlad. E por certas excentricidades. Em seu segundo mandato, agora um milionário, o deputado federal Wladimir Costa (SD-PA) é aquele que tatuou a imagem de Michel Temer no ombro direito. Mas não eternamente: era uma tatuagem removível. Tornou-se um personagem folclórico do impeachment, ao atirar confetes no plenário da Câmara, no dia 17 de abril de 2016. Em julho, ajudou a barrar a investigação contra o presidente com um discurso empolgado: “Tenham vergonha na cara! Temer é um homem ético, transparente”.

Sua ousadia por defender um presidente que responde por crime de corrupção em pleno exercício do mandato tem rendido bons frutos. Na semana passada (05/09), seu irmão Mário Sérgio da Silva Costa foi empossado como novo superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Tapajós, com sede no município de Santarém (PA).

Antes da nomeação, Mário Sergio era titular do Terra Legal em Santarém. O programa ligado à Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead), ligada à Casa Civil desde a extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário, logo no início do governo interino de Temer, em 2016, é responsável por destinar terras públicas federais nos estados da Amazônia Legal.

FANTASMAS E FONTES NÃO DECLARADAS

Em um misto de mundo público com mundo privado, o deputado foi flagrado pedindo nudes durante a votação contra Temer. Na esfera unicamente pública, Wladimir Afonso da Costa Rabelo – integrante de um partido coordenado pelo deputado Paulinho da Força (SD-SP) – coleciona processos e investigações.

Em julho de 2016, por unanimidade, o TRE-PA cassou o mandato do deputado por ter recebido R$ 410 mil “oriundo de fontes não declaradas” para a campanha de 2014, quando foi reeleito para o Congresso. Ele entrou com dois recursos no TSE e, por isso, ainda exerce o mandato. Em um desses recursos as contas foram aprovadas com ressalvas. O recurso contra a cassação do mandato ainda aguarda uma decisão do TSE.

O “deputado dos confetes” também é réu no STF na Ação Penal 528/2010, em dobradinha com outro irmão, Wlaudecir Rabelo. Segundo o Ministério Publico Federal (MPF), o deputado ficou com dinheiro destinado a servidores fantasmas. No fim de julho, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, reiterou nas alegações finais que Wlad cometeu crime.

Vejamos o que afirmou Janot sobre as provas da investigação:

– Elas formam um consistente mosaico probatório que revela o esquema criminoso capitaneado por Wladimir Costa, com o auxílio de seu irmão Wlaudecir Antonio da Costa Rabelo, para desviar, em proveito próprio, recursos públicos da Câmara dos Deputados no período de 25/02/2003 a 30/03/2005.

O relator do caso é o ministro Edson Fachin.

VERBA PARA CURSOS DE CANOAGEM

Em outra investigação, Wlad Costa é acusado pelo Ministério Público do Estado do Pará de desviar R$ 230 mil dos cofres públicos. Segundo os procuradores, a ONG Instituto Nossa Senhora de Nazaré, comandada por um assessor parlamentar do deputado, Ildefonso Augusto Lima Paes, embolsou os recursos repassados pela Secretaria Estadual de Esportes e Lazer para aplicar cursos de canoagem na Praia do Caripi, em Barcarena.

De acordo com o promotor Daniel Azevedo, Wlad era o líder do esquema, e “idealizou toda a operação, controlando as atividades de seus executores diretos”. Esse caso, investigado no inquérito 3884, está no STF sob a relatoria do ministro Dias Toffoli.

Além da nomeação de seu irmão no órgão federal, o deputado ganhou emendas parlamentares de presente do governo.  Segundo levantamento do Contas Abertas, ele recebeu R$ 6,9 milhões em emendas entre janeiro e julho. De acordo com o site, R$ 4,8 milhões foram destinados para o desenvolvimento sustentável de territórios rurais. Outro R$ 1,8 milhão foi destinado para apoiar a estruturação de serviços especializados no SUS.

DEPUTADO MULTIPLICOU SEUS BENS

Dono de um patrimônio de R$ 1,6 milhão durante as eleições de 2014, Wlad Costa não declarou nenhum bem rural. Ele não é membro da Frente Parlamentar da Agropecuária. Em 2010, eleito deputado pelo PMDB, Wlad declarou possuir R$ 220 mil, um valor sete vezes menor. O único bem declarado foi um apartamento.

O principal bem declarado em 2014 foi um “valor a receber do senhor Yorran Christie Braga da Costa”, R$ 1,2 milhão. Yorran é seu filho. O Diário do Pará contou, em 2014, que Yorran e a mãe de Wlad seriam donos de uma pousada e de um apartamento no Rio. Wlad moveu uma queixa-crime por calúnia contra o senador Jader Barbalho (PMDB-PA), mas a ministra Rosa Weber rejeitou o pedido.

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