Antônia Melo da Silva, ativista ambiental brasileira historicamente reconhecida pelo seu trabalho enquanto coordenadora geral do Movimento Xingu Vivo para Sempre, recebeu, nesta terça-feira, 10, o prêmio da Fundação Alex Soros para ativistas ambientais e dos direitos humanos.
A premiação é uma homenagem ao seu papel inspirador liderando campanhas para impedir a construção da barragem de Belo Monte e outros projetos de infraestrutura que causam danos à região amazônica. Com a construção da barragem já em andamento, ela agora pressiona as autoridades por reparações para as comunidades que o projeto expulsou de suas terras, na região do Xingu – localizado no estado do Pará.
“O complexo de Belo Monte é um projeto de destruição”, disse Antônia Melo da Silva. “A usina traz morte para a flora, a fauna, e incontáveis culturas de povos tradicionais e indígenas que vivem na bacia do Xingu. Nossa comunidade enfrenta um aumento da violência, do desemprego e da miséria pela ganância do governo e um grupo de empresários que querem explorar nossas terras e rios por lucros. Eu dediquei minha vida a lutar contra esse projeto, e mesmo que ele tenha ido adiante, eu continuarei lutando contra o que Belo Monte representa: um modelo de desenvolvimento destrutivo, insustentável e inviável.”
Há duas décadas, Antônia Melo, mãe de cinco filhos, fundou o Movimento Xingu Vivo Para Sempre, um coletivo de organizações sociais e ambientais localizado em Altamira – região do Brasil impactada pelo projeto da Hidrelétrica de Belo Monte. O movimento incorpora os grupos unidos em oposição à hidrelétrica, incluindo as comunidades ribeirinhas, pescadores, trabalhadores rurais, indígenas e organizações religiosas e de mulheres.
O Xingo Vivo Para Sempre também estabeleceu conexões com movimentos de outros trechos de rios amazônicos brasileiros e de países fronteiriços. Através dessas alianças, o povo indígena Munduruku obteve sucesso na suspensão dos planos governamentais de construir uma mega usina no Rio Tapajós.
Belo Monte
O projeto de Belo Monte foi proposto inicialmente em 1975, mas a licença para construir o complexo – que é a terceira maior usina hidrelétrica do mundo – foi concedida apenas em junho de 2011. Quando a construção estiver completa, em 2019, o complexo conterá três usinas e diversos diques, criando o Reservatório Calha do Xingu, que terá a capacidade para mais de 2 bilhões de metros cúbicos e uma área de aproximadamente 336 quilômetros quadrados. No entanto, o complexo da usina irá alagar uma área de aproximadamente 389 quilômetros quadrados de floresta amazônica, dizimar áreas de pesca que alimentam e sustentam as comunidades ribeirinhas e causar o deslocamento de 40.000 pessoas.
Em cidades próximas de Belo Monte, os níveis de violência, exploração sexual infantil e tráfico de pessoas saltaram de forma exponencial, devido ao fato da região não ter sido preparada para receber o grande fluxo de trabalhadores trazidos pela construção da usina.
Para Caio Borges, coordenador de Empresas e Direitos Humanos da Conectas, “Antônia Melo é uma liderança para os povos indígenas e comunidades tradicionais. Ela enfrentou ameaças, perdas e resistências de todas as formas, e mesmo assim continuou firme em sua luta que já perdura décadas”.
“Como um resultado da luta liderada por ela contra Belo Monte, houve uma enorme conscientização pública o debate no Brasil acerca das consequências sociais, ambientais e econômicas das grandes usinas no contexto amazônico – e dos enormes esquemas de corrupção que envolvem a construção dessas usinas. Ela é uma das heroínas dos direitos ambientais e humanos, e eu acho que ninguém merece mais o prêmio do que ela”.
O Prêmio
O Prêmio Fundação Alexander Soros para o Ativismo Ambiental e de Direitos Humanos, que reconhece anualmente ativistas que trabalham no âmbito do ambientalismo e dos direitos humanos, é escolhido por um comitê de nomeação composto pelo co-fundador da Global Witness, Patrick Alley; a Primeira Presidente dos Direitos Humanos, Elisa Massimino; o estudioso dos direitos humanos Aryeh Neier; o Diretor-Executivo da Human Rights Watch Kenneth Roth e o advogado William Zabel. Antônia é a sexta pessoa a receber a premiação.
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Imagem: Antônia Mello, da ONG Xingu Vivo, sob uma goiabeira, no quintal da casa onde viveu 35 anos e criou 5 filhos – Foto Marizilda Cruppe.