Na via do meio [sobre o suicídio indígena]

Suicídio indígena bate recordes. Mais do que opção, morte voluntária é consequência de uma existência em conflito, uma vida de quase-nada

Juliana Gonçalves – Revista Trip

Tinham uma casa na beira do rio. A família todo assistiu ao dia em que o pai saiu de casa sem motivo aparente e entrou na canoa. Não cruzou rio, não voltou. Deixou sua canoa ali, nem numa margem, nem na outra. Flutuava pelo meio. Nunca mais falou palavra nenhuma. Seu corpo no meio do rio vira uma terceira margem.

A estranha história do homem que abandona sua família para viver em uma canoa é o enredo de um dos escritos mais misteriosos do mineiro Guimarães Rosa. Batizado de “A terceira margem do rio”, o conto revela uma vida feita nem do lado de lá, tampouco do lado de cá. Se faz na via do meio num processo de dor, frustração e morte.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.

3 × dois =