Na xepa do governo Temer, o Congresso liquida o que sobrou da República, por Leonardo Sakamoto

no blog do Sakamoto

Está chegando a hora da xepa do governo Michel Temer. E, como era de se esperar, o Congresso Nacional – a maior feira livre do país – está liquidando o que sobrou da República.

Digo o que sobrou por que, convenhamos, a profusão de projetos arrombadores de orçamento e destruidores da dignidade e da moralidade que estão circulando na praça são apenas a consequência lógica do que foram os últimos dois anos.

Para um país que aprovou uma Reforma Trabalhista que permite gestantes e lactantes em trabalhos insalubres e dá a empresas o poder de exigir contratos de exclusividade com trabalhadores autônomos, uma proposta que facilita a liberação de agrotóxicos e outra que libera a contratação de parentes de parlamentares em estatais até que fazem sentido.

Afinal, é tudo passada de mão na bunda alheia sem autorização.

E o que é uma conta de quase R$ 70 bilhões em pautas-bomba empurrada para ser paga pelo próximo governo diante de um presidente da República que torrou bilhões na compra de votos necessários para livrar seu excelentíssimo pescoço da guilhotina em denúncias criminais apresentadas pela Procuradoria-Geral da República.

Perdões de dívidas de grandes empresas e de ruralistas foram concedidos e até a liberdade de trabalhadores escravizados acabou na mesa de negociação. O governo chegou a montar um balcão no plenário da Câmara dos Deputados para atender as demandas.

O governo parece cada vez mais disfuncional ao caminhar para o seu fim. Só parece, pois ele segue em forma, cumprindo o papel para o qual foi apoiado. Do lado da velha política, garantir acesso aos recursos de forma rápida e fácil. E, do lado do poder econômico, reduzir a regulamentação do trabalho e o peso dos direitos sociais no orçamento. Agora, é vender o estoque, assinar uns papagaios e passar o ponto.

E, no Congresso, é cada um por si e o Fundo Partidário por todos.

Grande parte da sociedade até fica indignada, mas não acredita mais em seu país. Outra parte grita e ninguém ouve. Tem os que passam todo o tempo discutindo se o nazismo é de direita ou de esquerda. Há aqueles que não sabem o que está acontecendo e acham que tudo é uma luta contra a venezuelização bolivariana do mundo. E uma minoria da minoria da minoria, rica pacas, enche os bolsos com o sequestro do Executivo pelo Legislativo.

Respirem fundo. A próxima legislatura poderá ser pior e o governo pode operar o milagre de nos fazer sentir saudade deste.

Michel Temer e Rodrigo Maia. Foto: Givaldo Barbosa/Agência o Globo

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