Na superfície, presidente estrila e tenta mobilizar seus seguidores mais fiéis. Nos subterrâneos, avança — especialmente entre os mais pobres — a percepção de que condições de vida irão de mal a pior
por Artur Araújo, em Outras Palavras
Fonte insuspeita — o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV) — comunica à praça que a fadinha das expectativas era de fato bruxa má. É o Valor Econômico quem conta, em matéria na edição de hoje.
“‘O efeito lua de mel do período pós-eleitoral foi zerado’, dizem os economistas Aloísio Campelo e Viviane Seda Bittencourt. Em resumo, a melhora que havia ocorrido após o pleito do fim do ano passado já foi devolvida. Em maio, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) caiu 2,9 pontos, para 86,6 pontos, enquanto o Índice de Confiança Empresarial (ICE) recuou 2 pontos, para 91,8 pontos. A análise faz parte do Boletim Macro do Ibre/FGV, que será divulgado hoje.”
Nada como a realidade, mesmo que lunar em sua aridez, para colocar os contos de fadas, antes elevados a “teoria econômica”, de volta nas prateleiras de ficção infanto-juvenil.
“A confiança de empresários e consumidores piorou novamente em maio, num sinal de alerta sobre a situação geral da economia, apontam Aloisio e Viviane, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). Foi a quarta queda seguida dos dois indicadores, que alcançaram os menores níveis desde outubro de 2018, refletindo o fraco desempenho da economia e os níveis elevados de incerteza.
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Os economistas destacam que ‘a distância entre os indicadores de expectativas e da situação atual vem diminuindo de forma não virtuosa desde fevereiro, acendendo um sinal amarelo em relação ao estado geral da economia’. De acordo com eles, ‘as expectativas, que haviam impulsionado a alta da confiança no período de lua de mel, voltaram a piorar’.
Além disso, ‘houve redução do grau de satisfação com a situação atual, especialmente entre os consumidores’, com avaliações menos favoráveis em relação à economia e à situação financeira das famílias, principalmente entre as de menor poder aquisitivo, aquelas cuja renda familiar vai até R$ 2,1 mil mensais. ‘Sem uma reação significativa do mercado de trabalho, os consumidores que ainda possuem reservas agem com cautela.’
Ao analisar a confiança empresarial, os economistas destacam que a queda em maio foi mais intensa no comércio e em serviços. ‘O setor da construção permanece estagnado e sem sinais de recuperação no curtíssimo prazo, enquanto a confiança industrial patina entre os 90-100 pontos.’ O ICE consolida os índices de confiança de indústria, serviços, comércio e construção.”