Lideranças indígenas tinham solicitado do Exército, em abril, o retorno da fiscalização permanente contra os garimpos nos rios Uraricoera e Mucajaí
Por Polyana Girardi, na Folha BV
O Comando da 1ª Brigada de Infantaria de Selva pediu que as pessoas que ainda estão na região de garimpo nos rios Uraricoera e Mucajaí abandonem a região de forma ordeira e pacífica. O pedido foi feito após um incidente envolvendo garimpeiros e uma equipe da 1ª Brigada que estava fazendo bloqueio fluvial no Rio Mucajaí.
Os militares tentavam, com o bloqueio, impedir o abastecimento do garimpo ilegal na terra indígena Yanomami.
Segundo o registro da ocorrência, por volta da 23h30 a tropa avistou uma embarcação que se deslocava no rio em direção à área indígena. Ao solicitar a parada para verificação, o piloto que conduzia o barco acelerou o motor tentando fugir da abordagem.
A tropa perseguiu a embarcação e conseguiu interceptá-la. No interior do barco encontrou cinco pessoas e apreendeu cerca e 850 litros de combustível, além de gêneros alimentícios que serviriam para abastecer garimpeiros que fazem mineração na reserva Indígena Yanomami. Os gêneros e combustível foram apreendidos e os ocupantes do barco cadastrados.
Na ação da tropa, um dos garimpeiros feriu-se levemente sendo conduzido para a Sesai na Comunidade Indígena Sikamabiu, onde foi atendido.
Na atual fase da Operação, o Exército permite o acesso de embarcações à região desde que as pessoas que desejam adentrar a área sejam cadastradas e cumpram as regras determinadas (embarcação tripulada por no máximo duas pessoas e conduzir apenas os alimentos e combustível necessário para a viagem de ida e volta).
“Essa ação visa permitir a retirada dos garimpeiros que hoje se encontram na região. Ações empreendidas no sentido de tentar furar o bloqueio somente servem para que o Exército reforce a presença na região. O Exército Brasileiro continuará a cumprir suas atribuições conforme determina a Constituição e as leis, visando proteger o território nacional, a população e prevenir as ações ilícitas na área da fronteira norte de nosso país”, informaram os militares por meio de nota.
Indígenas denunciam que 20 mil garimpeiros estão no local
Lideranças dos povos Yanomami e Ye´kwana tinham solicitado do Exército, em abril, o retorno da fiscalização permanente contra o garimpo nos rios Uraricoera e Mucajaí . No início do ano, o Exército abandonou as bases de fiscalização permanente na área, o que fez a invasão se intensificar. A estimativa dos indígenas é que mais de 20 mil garimpeiros estejam ilegalmente dentro da Terra Indígena Yanomami, ocupando as calhas dos Rios Uraricoera, Mucajaí, Couto de Magalhães e as cabeceiras dos Rios Catrimani, Novo e Apiaú.
Sindicato – O presidente do sindicato dos Garimpeiros do Estado de Roraima, Crisnel Francisco Ramalho, disse que não se envolve em questões do garimpo ilegal e que o sindicato não apoia ou tão pouco aprova atitudes que de acordo com ele são consideradas ´baderneiras`.
“O sindicato é totalmente legalizado. Há 22 anos estamos nos preparando para que, se houver legalização da atividade de extração na mineração em Roraima, possamos participar. Somos o único sindicato que atua dentro das leis e esclarecemos que nenhuma atitude de garimpeiros dentro das reservas possui ligação conosco”, ressaltou.
Exportação – O ouro se tornou, em 2019, o segundo maior produto de exportação de Roraima sem que o Estado tenha uma única mina operando legalmente.
Atualmente, o governo Bolsonaro prepara um projeto para legalizar a mineração em terra indígena, o que pode afetar um terço das TIs no país. Prevista na Constituição de 1988, a atividade nestes territórios nunca foi regulamentada e é alvo de discussão no Congresso.
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Vista aérea de garimpos ilegais na TI Yanomami, próximo à comunidade Ye’kwana, região Waikás. Foto: Rogério Assis – ISA