O ataque agora é contra os trabalhadores públicos

por Elaine Tavares, em Palavras Insurgentes

Sempre é preciso repetir. Não há surpresa nas ações do governo federal. Tudo que está fazendo, foi anunciado. Em meio às mentiras escabrosas como a da mamadeira de piroca, estavam também as verdades. Assim que não há nenhuma enganação. O que está sendo feito foi aceito pela maioria dos eleitores que colocou na presidência Jair Bolsonaro. O ódio aos indígenas, aos sem-terra, aos pobres, aos trabalhadores públicos, tudo anunciado. 

Por isso não é novidade que toda a ação econômica prevista e planejada pelo ministro Paulo Guedes seja contra a maioria da população, que se encaixa no perfil acima citado. Esse é um governo dos ricos, dos banqueiros, dos fazendeiros, dos mineradores e das transnacionais. Foi assim que se fez a reforma trabalhista, arranjada para aliviar a vida dos empresários, dos patrões. Os trabalhadores pagarão a conta da crise e permitirão que em meio ao caos os seus patrões sigam levando os filhos à Disneylandia e tomando vinho francês. Enquanto isso se observa  o crescimento exponencial de gente trabalhando na rua, em subemprego, bem como a volta da fome, dos moradores de rua e a exacerbação da violência.

Feito o “ajuste” com os trabalhadores da iniciativa privada o governo agora se volta para o serviço público. Algumas carreiras são admitidas como essenciais, mas a maioria é vista como entrave ao projeto de lucro acima de tudo, da elite nacional. Segura-se a onda do judiciário, que serve aos interesses da horda, da receita federal, talvez, e os demais começam a sofrer o processo de destruição. 

A última agora é economizar em cima dos trabalhadores públicos. Segundo o ministro da economia os “gastos” com a máquina pública são altos. Como se o serviço público não fosse um direito. 

A proposta inicial é acabar com os planos de carreira conquistados com muita luta pelos trabalhadores, que sequer conseguiram ainda garantir uma data base. Isso significa que os aumentos salarias sempre têm de ser arrancados na luta. Com muita batalha vieram os planos de cargos e salários, que garantem progressões sistemáticas por tempo de serviço. Coisa muito pouca. No caso dos trabalhadores das universidades, por exemplo, há 16 degraus para subir na carreira, que são escalados de dois em dois anos, com um reajuste ínfimo de 3,7%.  E é aí que o governo quer “economizar”. Tirando o direito dos trabalhadores. Segundo Guedes, haveria uma economia de 10 bilhões. E tudo deve ser feito autoritariamente com Medida Provisória.

Ou seja, não passa pela cabeça do ministro, nem dos demais governantes, discutir a dívida pública, por exemplo, que transfere quase a metade do orçamento total brasileiro para os bancos, pagando juros de uma dívida ilegal e ilegítima. O sacrifício só é exigido dos trabalhadores. Nenhum problema em perdoar as dívidas dos fazendeiros que chegam a 17 bilhões.  Só isso já ultrapassaria o valor que o governo quer “economizar” com o serviço público. E não estão contabilizadas aí outras dívidas não pagas, como as dívidas previdenciárias de outros empresários, cujo montante chega a 331 bilhões. Por que não cobrar dessa gente? Por que tentar colocar a culpa do chamado “rombo” sobre o serviço que se presta ao cidadão? Ora, porque que essa é a proposta do governo: proteger os ricos. Só o violento dono da Havan deve mais de 160 milhões aos cofres públicos. E a ele, nada toca.

As universidades públicas já estão sofrendo com o corte de verbas, com o qual o governo pretende chantagear as administrações e comunidades para a adesão a um projeto que finalmente privatiza a universidade. Também estão vendo sumir todos os serviços terceirizados, os quais não podem mais ser bancados pela falta de recursos. Agora, com a retirada de direitos dos trabalhadores, pretendem colocar mais uma pá de cal sobre a já combalida instituição. E assim, como um castelo de cartas, pegando todo o serviço público que realmente chega à população como saúde, educação, segurança, alimentação etc…

Por isso que pouco importa falar sobre a mulher do presidente francês. Mais valeria estarmos atentos a toda essa perda de direitos. Porque a hora de todos vai chegar. Já foram os trabalhadores do mundo privado, agora os públicos. E amanhã?  

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