BA – Itamaraju, um município encurralado pelo plantio de eucalipto das Empresas SUZANO e STORA ENSO

Por Ivonete Gonçalves*

Circundada por mais de um milhão de hectares de eucaliptos plantados, o município de Itamaraju, no extremo sul da Bahia, ainda conta com áreas de remanescentes da Mata Atlantica e uma economia diversificada. A agricultura familiar é o setor econômico mais importante do município, considerado o maior gerador de emprego e renda, acompanhado das atividades como a pecuária, café conilon, cacau, pimenta-do-reino e frutas como maracujá, mamão e banana.

É uma situação muito confortável, do ponto de vista, da soberania alimentar, impossível, nos municípios, onde a plantação de eucalipto chega a até 60% de sua área total. Tanto que em tempos de greve de caminhoneiros, Itamaraju não tem problemas com falta de alimentos. E são ainda, na grande maioria, alimentos orgânicos, sem venenos, oriundos da agricultura familiar.

E assim é. porque o município conta com uma Lei Municipal, 583, que limita o plantio de eucalipto, desde 2001. Mesmo com os benefícios visíveis, as empresas SUZANO e Veracel Celulose, tenta derrubar essa Lei. Em 2017, por exemplo, a SUZANO, através de um fazendeiro tentou um lobby na Câmara de Vereadores do município com o apoio do Prefeito. A comunidade fez pressão e eles recuaram. Dessa vez, o instrumento  utilizado foi a Justiça. Uma Juíza deu sentença favorável ao fazendeiro alegando que a Lei inviabiliza a atividade econômica que o proprietário requer e assim a Lei, para ela é inconstitucional.

Mas, em audiência Pública, convocada pelo Vereador Marcão da CUT,  no dia 12 de fevereiro, a comunidade de Itamaraju foi unanime em dizer NÃO, para essa decisão. Para os vereadores presentes, Evandro, Egnaldo e Marcão da CUT, e as entidades como o Sindicato dos Bancários do Extremo Sul da Bahia, Central Única dos trabalhadores da Bahia, Centro Agroecológico TERRA VIVA, Igrejas evangélicas,  Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras sem Terra (MST), Presidente do Sindicato dos Agricultores Familiares, e o Ex-vereador Joel, autor da Lei em 2001, que ressaltou a disposição em continuar lutando para que Itamaraju não seja destruída pela monocultura de eucalipto.

João Climário, relembrou o movimento que há mais de 20 anos tem mantido Itamaraju fora do circuito do Eucalipto, e ressaltou o que representa estar fora desse circuito, em comparação aos municípios vizinhos. Mesmo Itamaraju sofrendo as consequências da plantação de eucalipto em municípios vizinhos, como nos recursos hídricos, contaminados pelos venenos, ainda conta-se, com nascentes locais que representam uma trégua.

Maristela, liderança do Movimento sem Terra (MST), traz a realidade das escolas do campo, que são pulverizadas com veneno, visto que estão cercadas pela monocultura de eucalipto e onde os agricultores não conseguem mais fazer seus roçados, pois, plantam e os venenos matam o que foi plantado. Como Teixeira de Freitas no assentamento Fábio Santos. Lembrou ainda, que a Suzano já tem a licença para plantar eucalipto transgênico e que a população regional não tem conhecimento do que isso significa, quais as implicações. A população não tem conhecimento se o eucalipto transgênico vem sendo plantado ou não. São apenas duas empresas com mais de um milhão de hectares de eucalipto, a SUZANO e STORA ENSO e ainda querem avançar pelas últimas reservas de Mata Atlântica.

Portanto, não houve uma voz sequer que erguesse a bandeira do plantio de eucalipto em Itamaraju, durante a Audiência. E um juiz ou uma juíza não pode ter o direito de dizer o que é melhor para o município, pois a vontade do povo é soberana e o povo de Itamaraju repudia o eucalipto como atividade econômica em Itamaraju, conclui João Climário. Mas, essa questão certamente ainda vai durar já que uma empresa, a FIBRASA, já plantou sem licença e abre precedentes para outros plantios.

*Enviada para Combate Racismo Ambiental.

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