Povo Pataxó amplia barreiras contra covid-19 e cobra providências do Estado

Nas Terras Indígenas Comexatibá e Barra Velha, no extremo sul da Bahia, Pataxó bloqueiam rodovias para proteger suas aldeias da contaminação

por Tiago Miotto, em Cimi

Os Pataxó das Terras Indígenas (TI) Comexatibá e Barra Velha, no extremo sul da Bahia, reforçaram na última semana as barreiras sanitárias em seus territórios, para evitar a circulação de pessoas estranhas em meio à pandemia de covid-19. Os indígenas também cobram medidas de proteção e prevenção das autoridades públicas e buscam conscientizar a população local a respeito dos riscos da covid-19.

Em pelo menos duas das nove aldeias que compõem a TI Comexatibá, no município de Prado, os Pataxó bloquearam novamente estradas que cortam seus territórios. Na aldeia Mucugê, o bloqueio na estrada que dá acesso aos distritos de Guarani e Corumbau iniciou nesta terça-feira (12) e não tem prazo para terminar.

“Estamos enfrentando essa epidemia, pedimos que o país tome conta do nosso povo, porque aqui no município de Prado estamos abandonados”, afirma o cacique da aldeia Mucugê, Tihy Kamayurá Pataxó. “Pedimos que o Ministério Público Federal chame a Funai, chame a Sesai, e faça elas cumprirem o dever que têm com essa nação”.

“Estamos sentindo a falha dos órgãos públicos, como a Funai, a Sesai, o CRAS indígena e a prefeitura municipal de Prado. Até agora estamos aqui invisibilizados, sem nenhum suporte de higiene. Precisamos de apoio também em materiais como máscaras, álcool em gel, alimentação, até porque está difícil ir até a cidade”, explica Mandy Pataxó, morador da mesma aldeia.

“Pedimos que o Ministério Público Federal chame a Funai, chame a Sesai, e faça elas cumprirem o dever que têm com essa nação”

Turistas preocupam indígenas

Em abril, indígenas da TI Comexatibá já haviam bloqueado rodovias que atravessam seu território para evitar a circulação de turistas na região. A terra indígena se estende até o litoral, numa região onde também há comunidades pesqueiras, unidades de conservação e praias que normalmente recebem muitos turistas.

Com a pandemia, entretanto, indígenas e moradores de comunidades tradicionais da região tem tentado evitar a circulação de turistas e conscientizar as pessoas sobre a importância de respeitar o distanciamento social.

Essa foi a principal motivação da barreira erguida pelos Pataxó da aldeia Tawá, na mesma terra indígena. As lideranças também reclamam da falta de assistência do poder público.

“O pessoal do turismo continua vindo para Corumbau, grande número de infectados crescendo. Estamos resguardando a comunidade, que não tem nenhum posto de saúde, não tem atendimento médico, a estrada está péssima. Então fica aí o alerta para quem vier para [a comunidade] Veleiros: está fechado”, avisa a liderança Reinaldo Pataxó, da aldeia Tawá, de máscara, num vídeo divulgado pelos indígenas.

“Tomamos essa decisão e não temos previsão de quando vamos abrir. Pedimos apoio das autoridades. É de vidas que estamos tratando aqui”

Barra Velha

Na TI Barra Velha, cujo território abrange partes dos municípios de Porto Seguro, Prado e Itamaraju, pelo menos cinco aldeias já aderiram às barreiras sanitárias como medida de proteção contra o novo coronavírus: as aldeias Boca da Mata, Barra Velha, Pé do Monte, Aldeia Nova e Aldeia Craveiro.

“Na sede do nosso município já tem muitos casos, está crescendo numa velocidade assustadora”, afirma o cacique Jozino Braz, da Aldeia Nova, na TI Barra Velha.

No dia 13 de maio, o estado da Bahia já registrava 6.547 casos confirmados de covid-19 e pelo menos 236 óbitos – a maioria dos quais concentrados na capital, Salvador. Na região dos territórios Pataxó, já haviam sido registrados 42 casos e uma morte em Porto Seguro, oito casos em Itamaraju e cinco em Prado.

“Tomamos essa decisão e não temos previsão de quando vamos abrir. Só quando os órgãos de saúde nos orientarem. Pedimos apoio das autoridades. É de vidas que estamos tratando aqui”, reitera o cacique Jovino Pataxó.

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