A escalada nas críticas por parte de familiares e aliados políticos de Bolsonaro ao governo da China pode causar sequelas graves na balança comercial brasileira, o que afetará em cheio o agronegócio, principal setor exportador do país.
Para o presidente da Cargill no Brasil, Paulo Sousa, os insultos recorrentes de autoridades à China, principal consumidor de produtos agrícolas brasileiros, geram consternação para o setor. “É muito preocupante se você tem oficiais no governo brasileiro insultando o nosso maior cliente”, disse Sousa à Reuters. “Não é cabível para oficiais do governo fazer insultos ao nosso maior cliente. Eu diria que nem é muito inteligente”.
É alto o risco de restrições ao comércio Brasil-China. Como Jamil Chade informou ontem no UOL, o Itamaraty já admite que existe a possibilidade da China estabelecer barreiras sanitárias que podem afetar a entrada de carne bovina brasileira. O governo chinês anunciou o reforço da inspeção sobre alimentos frescos e carnes congeladas para evitar a entrada ou a intensificação de novas doenças no país. Por conta dos custos atrelados a essa fiscalização mais rígida, muitos importadores chineses estão optando por cancelar os pedidos. Em uma comunicação oficial para os principais exportadores brasileiros, o ministério das relações exteriores alerta que “as autoridades chinesas poderão, eventualmente, impor restrições à importação de produtos cárneos brasileiros e/ou solicitar maiores informações sobre as medidas preventivas adotadas pelos frigoríficos para evitar a contaminação dos alimentos a serem exportados”.
Em tempo: O Fakebook.eco fez um fact-check da carta encaminhada pelo governo brasileiro a membros do Parlamento Europeu no começo de junho, numa tentativa de tranquilizá-los sobre as questões ambiental e indígena, em um esforço para aliviar o cenário e facilitar a ratificação do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. Pelo tom da carta, o Itamaraty resume tudo a “falhas de comunicação” e minimiza problemas como o crescimento do desmatamento na Amazônia, o desinteresse da gestão Bolsonaro com políticas climáticas e os riscos aos quais os Povos Indígenas do país estão sendo expostos, questões que, de mínimas, não têm nada.