Ganância de mercadores do ensino é motor da volta às aulas, denuncia líder dos professores de São Paulo

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“As mantenedoras do ensino básico estão ávidas por garantir a rematrícula dos seus alunos para o ano que vem. Com a ganância própria dos comerciantes ávidos, elas estão procurando abrir as escolas de qualquer maneira, para poderem, assim como verdadeiros abutres, atacar a sua clientela e garantir de alguma maneira a sua rematrícula.”

É a denúncia que faz o professor Celso Napolitano, presidente da Federação dos Professores do Estado de São Paulo, entidade que reúne 25 sindicatos e representa 160 mil professoras, professores, auxiliares e técnicos de ensino da rede privada da educação básica, ensino superior e Sesi/Senai no Estado. Em entrevista ao TUTAMÉIA, ele diz que essa ganância pode ter consequências funestas para os alunos e suas famílias e para toda a comunidade:

“Consultamos especialistas, epidemiologistas. Os cientistas foram unânimes em se manifestar contra a volta às aulas presenciais neste momento. Todos eles falam, com grande receio, sobre a possibilidade de um novo vetor de expansão da pandemia. Foram unânimes em dizer que vidas humanas não podem ser arriscadas, que vidas humanas não podem ser utilizadas como experiência. Além disso, especialistas em pedagogia e psicologia, com raríssimas exceções, também se mostram céticos com relação ao benefício que poderia ser usufruído pelos alunos com essa volta”, diz ele (clique no vídeo abaixo para ver a entrevista completa e se inscreva no TUTAMÉIA TV).

Na avaliação do professor Napolitano, a discussão sobre a volta às aulas presenciais –e mesmo a volta parcial, como está sendo proposta para agora, imediatamente, no ensino fundamental—atende a outros interesses que não os dos estudantes nem os da comunidade:

“O que está acontecendo na maioria das cidades do estado de São Paulo é que os prefeitos estão com um olho na saúde da população –um olho quase fechado– e metade desse olho e o outro muito abertos focando na eleição, na possibilidade de reeleição. Tomam atitudes que procuram agradar gregos e troianos. Proíbem as escolas municipais de atuarem, porque têm receio do que possa acontecer com as crianças e com os trabalhadores das escolas municipais, mas lavam as mãos no que se refere às escolas estaduais e, principalmente, à rede particular de ensino. Estão se rendendo aos argumentos dos mercadores do ensino.”

Do ponto de vista educacional, não há ganho nenhum, afirma: “Qual o sentido desse retorno? As escolas vão adotar qualquer tipo de ação “educacional” como sendo atividade extracurricular. Isso poderia ser relevado se a atividade para a criança fosse de suma importância. Mas não há educador que consiga esclarecer que uma atividade, um dia por semana, até o final do ano, o que vai dar sete ou oito idas à escola, possa suprir essa necessidade emocional de que muitas pessoas falam. Se essa criança for um dia à escola, o que acontece com ela nos outros quatro dias da semana?”.

Em resumo, diz “Não há o que argumentar quando vidas estão em jogo. Não há o que apostar quando vidas estão em jogo. Se houver o risco, um pequeno risco que seja, que aconteça o aumento de contaminação que está sendo vislumbrado por cientistas do mais alto calibre acadêmico e científico, se existe essa possibilidade, a atitude que tem de se tomar é manter as escolas fechadas”.

Napolitano lembra que “se hoje o número de contaminações dos jovens e o número de mortes não é tão grande é porque as escolas continuam fechadas até agora. Se as escolas tivessem sido abertas quando a ganância dos grupos mercantis e dos mantenedores de ensino exigiu, hoje estaríamos lamentando um número maior de crianças atingidas e talvez um número ainda maior de mortes do que esse absurdo que são 143 mil mortes pela covid no país”. Por isso, ele reafirma: “Faço parte do grupo que preconiza o não retorno às aulas presenciais neste ano, e o retorno, quiçá no ano que vem, em condições muito mais seguras”.

Na entrevista, conversamos também sobre outras ameaças ao ensino brasileiro que, no entender do presidente da Fepesp, sofre ataques por parte do governo federal:

“Pelo que a gente viu até agora, pelo que está posto, pelos ministros que foram escolhidos e pelas pessoas que influenciaram na escolha desses ministros, eu posso dizer que esse governo não é a favor da educação, não é a favor de uma educação democrática, não é a favor de uma educação libertadora, não é a favor de uma educação que promova a proteção das pessoas de modo a proteger a soberania desse país. Muito pelo contrário. É um governo que está se colocando de joelhos perante uma nação do mundo—isso nunca aconteceu com este país– e está se colocando abertamente em favor dessas grandes corporações multinacionais.”

O ensino superior é alvo, na avaliação de Napolitano: “A universidade pública tem sofrido reiterados ataques desse governo. Essa é uma questão que diz respeito à própria sociedade brasileira. A autonomia universitária está sendo vilipendiada por esse governo, enquanto as universidades particulares se utilizam desse conceito –autonomia—exatamente para subjugar os docentes e para reduzir a qualidade de ensino, a qualidade de educação.”

As consequências para o país e, especialmente, para a juventude brasileira, são altamente negativas: “Os jovens estão sendo espoliados por essas grandes corporações mercantis. Está havendo um verdadeiro estelionato com essa juventude que procura ascender socialmente mercê de uma formação acadêmico, e isso está lhe sendo negado de maneira flagrante. Eu temo que a adoção das novas tecnologias vá precarizar ainda mais o ensino superior neste país, principalmente nessas instituições mercantis, que só visam ao lucro”.

O que leva Napolitano a conclamar: “Todos nós devemos nos unir, efetivamente, na defesa de nossa educação. E não permitir esses grandes grupos mercantis se apossem da inteligência brasileira e possam ferir a soberania nacional com a formação indevida e desqualificada dos jovens brasileiros. Nós não podemos perder esta geração de jovens”.

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