Provocações de Bolsonaro a Biden podem custar caro para o Brasil

ClimaInfo

O tom agressivo das manifestações recentes de Bolsonaro e outras autoridades do governo federal com relação à posse de Joe Biden como presidente dos EUA prenuncia um cenário de dificuldades no relacionamento bilateral, com a crise ambiental brasileira como pano de fundo.

No Poder360, Thomas Traumann sugere que os ataques do presidente brasileiro ao futuro contraparte norte-americano fazem parte de uma estratégia eleitoral de Bolsonaro para 2022, “para reforçar sua popularidade junto aos fazendeiros e garimpeiros da Amazônia, a extrema-direita trompista [sic] brasileira e os militares nacionalistas”. Na mesma linha, Sergio Lamucci escreveu no Valor que o falatório inconsequente de Bolsonaro destrói qualquer chance de diálogo com o novo governo dos EUA e consolida o isolamento político do Brasil no cenário internacional.

N’O Globo, Henrique Gomes Batista mostrou que a retórica pró-Trump está gerando uma grande insatisfação dentro do Itamaraty. A Associação e Sindicato dos Diplomatas Brasileiros (ADB) condenou declarações recentes do ministro das relações exteriores, Ernesto Araújo, no Twitter, nas quais ele relativizou o ataque de vândalos trumpistas ao Capitólio norte-americano e reforçou alegações infundadas de “fraude” nas eleições presidenciais de novembro passado. Fontes ligadas ao ministério e à ADB confirmaram que o clima dentro da diplomacia brasileira nunca esteve tão ruim.

Como quase sempre, o foco de Bolsonaro não está no exercício do governo atual, mas sim na próxima eleição. O problema é que, com essa estratégia, o possível ganho eleitoral de Bolsonaro acontecerá ao custo do prejuízo econômico certeiro do Brasil.

Em tempo: A América Latina deve ser uma prioridade na agenda climática do futuro governo Biden nos EUA, defendeu a analista Lisa Viscidi, diretora do think tank Inter-American Dialogue. Em artigo no NY Times, Viscidi destacou a experiência política do futuro presidente na região e o diálogo que Biden vem tendo com lideranças políticas latino-americanas, em particular na Argentina, Chile e Costa Rica. Para ela, a nova Casa Branca precisa incentivar a transição energética no continente, facilitando investimentos em energia limpa nos países latino-americanos, e prover mais apoio à adaptação e à resiliência climática, em particular na América Central e no Caribe. Outro foco é a questão do desmatamento na Amazônia: mesmo com as potenciais tensões entre Biden e Bolsonaro, os EUA devem agir para ajudar e pressionar o governo brasileiro na conservação e no desenvolvimento sustentável da floresta.

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