A Volkswagen publicou, neste domingo (14.mar.2021), anúncio na edição impressa dos principais jornais do país em que reconhece a sua atuação junto à ditadura militar (1964-1985). Eis a íntegra (188 KB).
Em comunicado, a empresa diz que “lamenta profundamente as violações de Direitos Humanos ocorridas naquele momento histórico e se solidariza por eventuais episódios que envolveram seus ex-empregados e seus familiares”.
“A Volkswagen reconhece que é responsabilidade comum de todos os agentes econômicos e da sociedade respeitar e promover os Direitos Humanos”, diz o texto.
A empresa cita que, “por meio de um acordo sem precedentes no país”, disponibilizará recursos a 2 fundos de defesa de direitos difusos e apoiará projetos destinados à promoção de “memória e verdade em relação a violações aos Direitos Humanos ocorridas no Brasil durante a ditadura”.
Em setembro do ano passado, a Volkswagen firmou um termo de ajustamento de conduta em que se comprometeu a pagar R$ 36,3 milhões a ex-funcionários da empresa, que foram perseguidos pela ditadura militar, que vigorou no Brasil de 1964 a 1985. Leia a íntegra do acordo.
Segundo o MPF (Ministério Público Federal), o termo teve como objetivo encerrar 3 inquéritos abertos contra a Volkswagen. Os procedimentos investigavam denúncias de que ex-funcionários da empresa foram alvo de perseguições, por causa da orientação política que tinham.
Documentos obtidos pelo MPF e pelos ministérios públicos de São Paulo e do Trabalho apontaram que a prática era incentivada pela companhia. Há relatos de que os ex-empregados perseguidos foram vítimas de prisões e torturas ao longo do regime militar.
O Poder360 procurou a empresa para verificar se a publicação do comunicado neste domingo tem alguma motivação específica. Até a publicação desta reportagem, não houve resposta.
LEIA A ÍNTEGRA DO COMUNICADO PUBLICADO NESTE DOMINGO (14.MAR):
“Norteada por seu compromisso de longo prazo com o país, a Volkswagen foi a 1ª empresa do setor automotivo a examinar sua história durante o período da ditadura militar no Brasil, ouvindo as entidades e comissões que buscam informações sobre as relações entre o regime à época e o setor privado.
Em nome da transparência, a Volkswagen compartilhou, desde 2015, todas as informações disponíveis com o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Estado de São Paulo e o Ministério Público do Trabalho. Além disso, por meio de um acordo sem precedentes no país, firmado com essas entidades, a empresa disponibilizará recursos significativos ao Fundo de Defesa de Direitos Difusos (Federal) e ao Fundo Especial de Despesa de Reparação de Interesses Difusos Lesados (Estado de São Paulo) e apoiará projetos destinados à promoção de memória e verdade em relação a violações aos Direitos Humanos ocorridas no Brasil durante a ditadura militar, de 1964 a 1985, e pesquisas históricas sobre o período.
Em defesa incondicional do Estado Democrático de Direito, a Volkswagen lamenta profundamente as violações de Direitos Humanos ocorridas naquele momento histórico e se solidariza por eventuais episódios que envolveram seus ex-empregados e seus familiares, em total desacordo com os valores da empresa. A Volkswagen reconhece que é responsabilidade comum de todos os agentes econômicos e da sociedade respeitar e promover os Direitos Humanos.”
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Bellentani (primeiro à esquerda) e outros ex-trabalhadores. Do lado de dentro da fábrica, a empresa divulgava relatório para se ‘reconciliar’ com o passado