“A hiper-radicalização da base bolsonarista, o voto útil em Lula e a impossibilidade da terceira via”. Entrevista especial com Esther Solano

Entre Lula e Bolsonaro, “é difícil uma terceira via encontrar seu lugar simbólico”, afirma a socióloga

Por: João Vitor Santos, em IHU

Se, de um lado, a base bolsonarista está “hiper-radicalizada” e “mais coesa”, de outro, a maioria do seu eleitorado está “decepcionada” com os rumos do governo, como a classe média, que está “sofrendo o impacto econômico por conta da inflação e da vulnerabilidade econômica” e o “setor popular”, que “está sendo impactado pela alta dos preços e do desemprego” e “se decepcionou por conta da perda de poder aquisitivo, de direitos trabalhistas, e está sendo impactado pela má gestão da pandemia”. Esse panorama acerca de como a população brasileira está avaliando o governo Bolsonaro um ano antes das eleições presidenciais de 2022 é apresentado pela socióloga Esther Solano, que estuda os grupos bolsonaristas.

Apesar das dificuldades presentes e do “descolamento de diversas partes da base mais moderada” do presidente, ela pontua que o bolsonarismo “não morreu totalmente” e estará na disputa eleitoral de 2022 com ex-presidente Lula. “No campo subjetivo, eles são vistos como duas subjetividades potentes”, disse em entrevista concedida por WhatsApp ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU.

Segundo ela, a principal novidade das pesquisas recentes é a possibilidade do voto útil em Lula. Os antigos eleitores do ex-presidente, que votaram em Bolsonaro nas últimas eleições, tendem a apostar novamente no lulismo. “Mas há uma diferença interessante: desta vez, diferentemente da primeira, eles declaram voto útil em Lula. (…) Será um voto útil e não apaixonado como nas primeiras eleições”, pontua.

Para ela, o desafio do campo progressista será conquistar o eleitorado “de direita moderado”, que “está desiludido com os tucanos” e que, quando olha para Ciro Gomes, “vê uma volatilidade identitária enorme, porque um dia ele é de esquerda e, no outro, é antipetista”. Nesse cenário, as dificuldades também estão postas para quem deseja ser uma alternativa ao lulismo e ao bolsonarismo. “A terceira via tem dois conflitos: primeiro, não chegará a nenhum lugar até que não se desenvolva como segunda via de fato e, segundo, tem que encontrar sua própria identidade, coerência e unidade interna. Sem isso não há terceira via. Ela está por ser construída”, afirma.

Esther Solano é metre e doutora em Ciências Sociais pela Universidad Complutense de Madrid, na Espanha. Atualmente é professora adjunta da Universidade Federal de São Paulo – Unifesp, no curso de Relações Internacionais, e professora do Mestrado Interuniversitário Internacional de Estudos Contemporâneos de América Latina da Universidad Complutense de Madrid e, também, professora no Mestrado América Latina e a União Europeia: uma cooperação estratégica, no Instituto Universitario de Investigación em Estudios Latinoamericanos, da Universidade de Alcalá de Henares. Entre suas publicações, destacamos os livros Brasil em colapso (São Paulo: Unifesp, 2019), O ódio como política. A reinvenção das direitas no Brasil (São Paulo: Boitempo, 2018) e As direitas nas redes e nas ruas (São Paulo: Expressão Popular, 2019), de que é uma das organizadoras.

Confira a entrevista.

IHU – Como essa face mais aguerrida, embora em menor número, do bolsonarismo deve incidir sobre o atual momento político do Brasil, um país de disputas, fake news, suspensão do diálogo, ataque às instituições democráticas etc.?

Esther Solano – O que conseguimos observar nas pesquisas é um fenômeno de hiper- radicalização da base mais radical de Bolsonaro. Ela está mais coesa, mais coerente no discurso, com uma narrativa mais homogênea. Observarmos anteriormente uma dispersão maior nas narrativas e uma heterogeneidade maior nas ideias. Por outro lado, temos observado um dinamismo e uma mobilização maior dessa base mais radicalizada a partir da ideia de que o Bolsonaro estaria sendo perseguido continuamente e que estaria chegando, de fato, o momento da perseguição, que está sendo muito pior do que em outras ocasiões. Nesse sentido, a base teria que proteger o líder.

Qual é a consequência disso? Evidentemente, o aparato de fake news continua muito ativo nessa base por causa de dois fenômenos: a decrescente popularidade de Bolsonaro e a proximidade das eleições de 2022, com o papel e desempenho cada vez mais positivo de Lula nas pesquisas eleitorais. Isso faz com que o aparato de mobilização desinformativa cresça e se faça potente entre esse grupo mais aguerrido.

O que conseguimos observar também, monitorando as redes, é que os ataques à ordem institucional são permanentes e muito agressivos. Esses dois fenômenos que mencionei – a decrescente popularidade e a proximidade com as eleições com o desempenho de Lula –, para essa base, são elementos inconcebíveis por causa da construção do mito. É inconcebível que Bolsonaro esteja perdendo popularidade, confiança e esteja se transformando em um perdedor eleitoral, como também é inconcebível que Lula reapareça no cenário eleitoral como um possível vencedor. Diante desses dois impossíveis políticos, eles reagem de forma extrema.

IHU – Podemos considerar que o bolsonarismo é capaz de resistir até num contexto pós-Bolsonaro? Por quê?

Esther Solano – Sim. Eu sempre utilizo o conceito bolsonarismo porque estou me referindo a um campo sociopolítico no qual convergem certos elementos que Bolsonaro conseguiu capturar e capitalizar na figura dele. Mas esses são elementos pré-existentes, alguns muito enraizados na ordem social e que, evidentemente, vão continuar posteriormente.

Quais são os elementos mais destacados e protagonistas desta convergência? Primeiro, o discurso lavajatista, que utiliza a luta contra a corrupção para uma forte criminalização da política e dos partidos políticos. Evidentemente, o lavajatismo vai continuar posteriormente a Bolsonaro e a Lava Jato, simbolicamente, é uma narrativa muito potente e dinamizadora para a sociedade.

Existe também um forte discurso antissistêmico, com a ideia do outsider, sempre perpassado pela lógica da corrupção, não uma corrupção simplesmente econômica, mas uma corrupção de valores morais e princípios éticos. Nessa perspectiva, o sistema político estaria todo corrompido. Por isso há um forte discurso contra os partidos, mas também contra o sistema intelectual, a academia, a universidade, o sistema de informacional, da imprensa, e o sistema de Justiça. Nesse sentido, tem um forte componente antielitista, contra as elites políticas, informacionais, acadêmicas e do judiciário. Esses elementos vão continuar. Evidentemente, tem o elemento antiesquerda, o velho e bom anticomunista, que perdura ao longo do tempo.

Matrizes de pensamento do bolsonarismo
Há duas matrizes de pensamento que foram importantes na configuração do boslonarismo. A patriótico-militarista, que é a ideia da consagração do ideal da ordem, da hierarquia, da disciplina, da autoridade, como se a democracia fosse um regime e uma experiência política que tem uma tendência à libertinagem, ainda mais quando ela é capturada por governos de esquerda, como aconteceu no Brasil com o PT. A forma de retomar essa estabilidade perdida para o regime democrático frouxo é a penetração da filosofia militar na ordem pública: a mão dura, a disciplina, o controle. Tudo isso, na lógica patriótica, é a ideia de resgatar um Brasil místico, romântico, do passado, que era melhor, mais ordeiro, estava mais organizado, existencial e ontologicamente, em outros valores, que seriam os da matriz cristã. Aí vem essa ideia da cristianização da política, de retomar os valores da tradição cristã como organizadores da vida social. Diante da penetração das pautas indenitárias que desorganizam a vida e o convívio das classes conservadoras, se introduz os valores cristãos que reorganizam a vida diante de um patamar mais conservador. Esse tipo de questões, evidentemente, vai continuar.

O outro componente importante é que Bolsonaro produz um empoderamento do contrapúblico conservador, de direita mais extrema, que não se sentia representado em outros processos eleitorais e que agora foi empoderado, foi para as ruas e está representado pelo máximo expoente político do país. Esse empoderamento enraizado está aí e continuará. É aquela velha frase: “A direita desenvergonhada saiu para as ruas”. Quando se politiza um público que estava latente, e silenciado, é difícil despolitizá-lo. Eles foram para as ruas e vamos ver como voltarão para o armário depois de Bolsonaro.

IHU – Jair Bolsonaro foi eleito não somente com os votos de sua base mais fiel, os bolsonaristas. Como analisa o movimento das outras fatias do eleitorado que votaram em Bolsonaro?

Esther Solano – A divisão que fizemos na pesquisa é entre os bolsonaristas mais radicalizados, que compõem essa parte de 10, 15% do eleitorado, e a parte moderada, que é a grande maioria do eleitorado bolsonarista e é também a parte mais desiludida e frustrada com Bolsonaro. Observamos que há um deslocamento dessa base mais moderada. Por exemplo, inicialmente, as classes de renda maior, isto é, o mercado, votaram muito mais em Paulo Guedes do que no bolsonarismo, porque são pró de um discurso liberal e ultraliberal. Portanto, há aí uma afinidade com Paulo Guedes e uma proximidade ou, ao menos, uma não rejeição total a Bolsonaro por causa de Paulo Guedes. No entanto, temos que observar como o mercado reage a essa decepção com Paulo Guedes, que prometeu entregar o que não entregou. Mas para uma parte dos setores mais potentes, ainda é preferível continuar com um Paulo Guedes frustrado do que com um possível retorno do lulismo em 2022.

Tem uma classe média mais moderada, não radicalizada, que votou em Bolsonaro movida pelo lavajatismo. O que encontramos nela, através das pesquisas, é uma decepção com o papel da Lava Jato e com o papel de Bolsonaro, que prometeu lutar contra a corrupção, mas a própria família dele está envolvida em esquemas de corrupção e ele mesmo pode estar envolvido. Então, há uma decepção de alguns grupos que acreditaram na potência bolsonarista da luta contra a corrupção, os quais conseguem ver que esse discurso foi uma grande mentira. Há também uma parcela da classe média, que está sofrendo o impacto econômico por conta da inflação e da vulnerabilidade econômica que o país está atravessando, que coloca a culpa em Bolsonaro.

Também observamos que o setor mais popular, que também votou em Bolsonaro e está sendo impactado pela alta dos preços e do desemprego, se decepcionou por conta da perda de poder aquisitivo, de direitos trabalhistas, e está sendo impactado pela má gestão da pandemia.

Deslocamento da base evangélica
Observamos há um tempo um deslocamento de uma parte da base evangélica pentecostal e neopentecostal, que tinha votado em peso em Bolsonaro, por duas questões. Primeiro, pela pauta material, ou seja, o empobrecimento coletivo que as pessoas correlacionam com a pandemia e a gestão bolsonarista. Segundo, porque há uma decepção profunda com o comportamento de Bolsonaro diante da pandemia. Ele foi eleito simbolizando que era um homem de Deus, que era um homem de fé, que iria proteger e valorizar os valores cristãos no Planalto. Entretanto, na pandemia, ele demonstra – e isso aparece nas pesquisas muito fortemente – que é desumano, um sujeito que não cuida das pessoas e debocha dos mortos. Então, diria que há um descolamento de diversas partes dessa base mais moderada que votou em Bolsonaro por diversas razões. Hoje em dia, elas se sentem frustradas, ressentidas e uma parcela está raivosa e arrependida de ter votado nele.

IHU – Pesquisa do Ipec, de 22-09, indica que o ex-presidente Lula venceria a próxima eleição em 1° turno, com 45% dos votos a 40% contra nove candidatos e com 48% a 37% contra quatro. O que esse cenário indica? Que reações podemos prever?

Esther Solano – Nas pesquisas se fala muito da possibilidade de Lula ser eleito em 2022 e como as pessoas estão enxergando o lulismo. Conversamos sobre isso com as pessoas mais moderadas da base bolsonarista nas pesquisas, com as de centro, ou com aquelas que não se identificam eleitoralmente com nenhuma força. Nesse cenário, temos, de um lado, a força brutal do lulismo, mas, por outro lado, um bolsonarismo que não morreu totalmente. A possível terceira via é muito difícil de conseguir o seu lugar diante de duas potências tão subjetivas como Lula e Bolsonaro – evidentemente, nunca defendendo a polarização simétrica, porque sabemos que há uma enorme assimetria entre um personagem fascista, como Boslonaro, e um personagem democrático, como Lula. Mas no campo subjetivo, eles são vistos como duas subjetividades potentes e, diante dessas duas personalidades, é difícil uma terceira via encontrar seu lugar simbólico.

Voto útil
Uma fatia do eleitorado que votou em Lula nas duas primeiras eleições, o fez motivada por questões afetivas, emocionais, porque ele era uma pessoa diferente, um outsider, porque ele se identificava com os trabalhadores, tinha um discurso carismático. Então, o voto foi motivado por uma identidade e uma proximidade afetiva. Depois, esses eleitores se sentiram traídos – porque assumiram o potencial retórico da Lava Jato – pelo PT e por Lula, se decepcionaram com os rumos econômicos do governo Dilma, e votaram em Bolsonaro. Hoje em dia, as pesquisas indicam que eles votariam novamente em Lula. Mas há uma diferença interessante: desta vez, diferentemente da primeira, eles declaram voto útil em Lula. A retórica é que ainda continuam decepcionados, continuam pensando que o PT se envolveu em corrupção, que Lula é um personagem corrupto, mas identificam nele, pelas suas características de capacidade de negociação, de conciliação, sua trajetória como grande liderança e pelo seu legado, o único capaz de recolocar o Brasil nos trilhos. Mas será um voto útil e não apaixonado como nas primeiras eleições. Então, tem um grupo migrando do lulismo ao bolsonarismo e ao lulismo novamente. É interessante essas duas migrações eleitorais.

IHU – Ainda temos a possibilidade de uma terceira via, tanto mais à direita ou à esquerda?

Esther Solano – A única possibilidade de uma terceira via é se transformar em uma segunda via. O que significa isso? A única possibilidade potente de uma terceira via é se Bolsonaro sair do páreo eleitoral ou chegar enfraquecido, a ponto de não ter sentido ele se candidatar. A terceira via só tem sentido se ela for transformada em segunda via e se ela conseguir capturar os votos da direita, que ainda são capturados pelo bolsonarismo.

Há de fato uma direita extrema, bolsonarista, fiel a Bolsonaro, que sempre votou no PSDB, sem se sentir identificada, mas que se sentiu fortemente identificada com Bolsonaro. Isso é evidente no seu comportamento eleitoral. Mas há uma outra direita que migrou dos tucanos para o bolsonarismo por uma profunda decepção antipartidarista, antipolítica e muito mais motivada por um discurso antissistêmico do que por outra coisa. Sempre digo que a grande vítima do discurso antilavajatista de criminalização da política não foi o PT – que ressurgiu das suas cinzas e tem aí a maior base parlamentar e Lula como enorme potência eleitoral –, mas o PSDB, que é confundido com o sistema. O eleitorado de direita moderado, desiludido com os tucanos, enxerga que o PSDB está em um processo de falta de identidade, de coerência, coesão, de uma guerra fratricida entre os candidatos. Esse eleitorado está perdido e órfão politicamente, porque está desiludido com Bolsonaro, não se sentem representado com Bolsonaro, mas olha para a direita clássica e enxerga uma fragmentação de possibilidades. O PSDB, perdido na sua formação e afirmação de identidade política, está mais preocupado em suas guerras internas do que em reconstruir o campo da direita clássica do centro. Esse eleitorado também olha para o Ciro e vê uma volatilidade identitária enorme, porque um dia ele é de esquerda e, no outro, é antipetista. Então, ele não tem uma fidelidade do que ele representa. Então, a terceira via tem dois conflitos: primeiro, não chegará a nenhum lugar até que não se desenvolva como segunda via de fato e, segundo, tem que encontrar sua própria identidade, coerência e unidade interna. Sem isso não há terceira via. Ela está por ser construída.

IHU – São muitas as vozes que têm dito que o momento é de lutar por uma reconciliação no Brasil. Mas o que isso significa? E uma possível vitória de Lula contribuiria para essa conciliação ou acirraria os ânimos?

Esther Solano – Há um anseio de recuperar o diálogo nacional ou pelo menos diminuir a fratura nacional. Há um cansaço e uma fadiga muito grande da violência retórica e política que foi instaurada pelo bolsonarismo, de tal forma que os bolsonaristas mais desiludidos justificam sua decepção na intolerância, na violência, no autoritorismo de Bolsonaro. Percebemos nas pesquisas um desejo de poder voltar a conversar novamente sobre questões política sem ter que romper relações pessoais, familiares, que os amigos possam voltar a se falar e tratar de política de uma forma mais amena, uma necessidade de retomar os laços, a proximidade que foi perdida, as relações sociais que foram feridas por esse processo. Essa janela de oportunidade é importante porque as pessoas estão querendo reconstruir os laços sociais que foram fraturados com a dinâmica selvagem do bolsonarismo.

Agora, é evidente que para uma boa parcela da população, Lula remete a um antipetismo e antilulismo feroz. Para uma parcela da população, não é Lula quem vai conseguir a reconciliação. Mas eu diria que essa parcela está diminuindo. Observamos nas pesquisas que há uma parcela da população que votou em Bolsonaro movida pelo antilulismo, mas que hoje em dia reconhece que Lula é o único personagem capaz de devolver a estabilidade para o país. É um momento muito complicado em termos materiais para muitas pessoas que estão sofrendo economicamente. É uma necessidade vital retomar a estabilidade. Diria que há aí uma possibilidade de intervenção política, de retomar um pouco o diálogo. Não vai ser fácil, mas as pessoas sentem essa necessidade, o que propicia um cenário mais favorável.

IHU – Diante do quadro de hoje, como a senhora projeta a disputa em 2022? Ainda há tempo para surpresas?

Esther Solano – A possibilidade é uma surpresa, porque ainda temos um ano até a disputa eleitoral. Um ano no Brasil, sabemos muito bem que não é trivial. Há espaço para muita coisa. A potência eleitoral de Lula, pessoalmente, me tranquiliza porque consigo ver que ele está de fato manobrando para conquistar o centro eleitoral e essa é uma manobra positiva porque temos que reconquistar esse público de centro que é moderado. Esse é um público arrependido e abandonado politicamente. Precisamos dos votos desse público em termos matemáticos e numéricos. O campo democrático não quer correr o risco de perder de novo para o bolsonarismo. Então, temos que garantir uma vitória que seja numericamente inquestionável e, para isso, o público a ser conquistado de fato é o centro.

Dito isso, quais são os perigos que vejo? Dois. Primeiro, que o mercado compre a ideia de que, diante da dificuldade de uma terceira via emplacar, Bolsonaro se transforme na sua própria terceira via. Ou seja, que de novo comecemos a ouvir aquela ideia de que o país está entrando nos trilhos econômicos, a pandemia está acabando, o Congresso está querendo aprovar reformas, o comportamento de Bolsonaro parece está mais moderado, menos agressivo. Isto é, que se faça uma maquiagem de Bolsonaro, de tal forma que ele comece a ser transformado, pelo poder econômico e pela grande imprensa, na sua própria grande terceira via diante de uma negativa de Lula ser eleito.

A outra possibilidade é que de fato Bolsonaro desapareça como opção eleitoral, se desidrate a tal ponto que sua candidatura seja basicamente inviável e haja espaço para uma terceira via. Vamos imaginar que teremos as prévias do PSDB em novembro e que de fato haja uma vitória do Doria, que o partido se feche em torno dele, para ter uma candidatura minimamente descente, embora seja possível ver que Doria tem grandes dificuldades, assim como Ciro também.

Temos que entender que embora nenhuma dessas possibilidades tenha grande potência de acontecer, falta um ano para a eleição, em que tudo é possível. O campo democrático tem que agir e o campo progressista tem que agir como se todos os cenários fossem possíveis. Não podemos cair novamente no mesmo erro estratégico, pensando que a vitória está dada. A vitória não está dada e mesmo que numericamente o campo progressista representado por Lula esteja num patamar positivo, ele tem que agir como se todos os cenários fossem possíveis, quer dizer, não podemos vacilar até o último momento. Nós perdemos para o fascismo, foi uma derrota histórica que mergulhou o Brasil em um momento trágico, em uma escuridão brutal, e um erro estratégico pode ser cometido de novo. Qualquer cenário deve ser levado em consideração e a sério até o último dia prévio à eleição. Já cometemos o erro estratégico, em 2018, de menosprezar nosso oponente, de cair na caricatura, no folclore de Bolsonaro e estamos pagando o preço até agora e pagaremos por muito mais tempo.

Esther Solano (Foto: IEA | USP)

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