Para que serve o professor?

Por Ângelo Oliveira*

É comum a ideia de um ápice, de um término quando pensamos em uma carreira profissional. Ter um alvo, uma chegada e um lugar onde se possa desfrutar da ideia de completude. Mas como seria a experiência de uma eterna construção? Como se constitui um Ser via-a-ser? Ser professor é, pois, a concretização de um saber-fazer conduzida por ausências de saber e lacunas no campo do fazer.

O professor se faz nas ausências, naquilo que falta para mediar o saber do aluno. Penso que para cada aula nasce uma “anti-aula”. E o que chamo de “anti-aula” se não as fragilidades? Os não saberes que se descobre no ato de ministrar uma aula? É no confronto com o que não sabemos que nos movemos a aprender. 

A cada aula o professor sai cheio e ao mesmo tempo vazio. Cheio dos saberes construídos na relação dialógica com os alunos e vazio das lacunas que descobriu no ato de socializar o conhecimento. É aquela pergunta que o aluno fez, ou mesmo aquela que não fez que te leva a se aventurar em novas construções de conhecimento.

A própria aula é um espaço-tempo em que se produz saberes mediatizados pelas experiências do sujeito aprendiz em interface experiência acumulada pela humanidade. Ela não está presa em quatro paredes nem aprisionada a um modo de fazer. Por isso, descobrimos que a experiência da aula nasce antes dela e extrapola os limites a partir dos quais fora idealizada. Mais uma vez o professor se depara com o reinventar-se. 

Essa constante busca move a ação docente, pois, é a partir do movimento dialético formado pela díade saber/não-saber que o professor tece sua prática pedagógica. Essa tessitura é feita por muitas mãos, por múltiplas relações. Cada professor tem muito de seus professores, de seus colegas, de seus alunos e um pouco de nenhum deles. E nesses encontros dialógicos ele se faz “por fazer”. 

Trata-se, portanto, de uma trajetória que incorpora conhecimentos, construções e desconstruções. Mas seria um “não-lugar” conferido àquele que conduz a inúmeros lugares? De certo que não, pois, a chegada do professor é o próprio caminhar. O professor é aquele que visita o amanhã. E para que serve o professor se sua ação remete ao futuro? E para que serve o amanhã se tudo que temos é o agora? 

O amanhã talvez não sirva pra nada senão para lembrar-nos do hoje. Já o professor, esse serve pra sonhar. E qual a relevância do sonho na vida de alguém? Talvez Fernando Birri nos dê uma pista quando diz: “a utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”

*Professor do IFCE/Campus Quixadá.

Comments (6)

  1. Ótimo texto. Traz-nos uma reflexão acerca dos caminhos que estamos trilhando, observando que fizemos uma escolha certa e que somente através da educação a sociedade se transformará.

  2. Muito bom esse texto,com várias reflexões para ser desenvolvidas e pensadas enquanto discente na formação para o docente,

  3. Ótimo texto professor, suas indagações me fizeram refletir e repensar o que eu achava que entendia, afinal o professor é um ser que está em contante busca pelo conhecimento, pois cada dia nos deparamos com algo novo e devemos está preparados para sanar possíveis dúvidas e questões apontadas em sala de aula ou no dia a dia .

  4. Que texto maravilhoso sobre a arte da docência, que é tão desvalorizada nesse País. São Textos como esse que me mostram que minha escolha por Educar foi a melhor que eu poderia fazer. È muito satisfatório ter a honra de ser aluna de um professor inspirador como senhor. Grande Professor!! Meus sinceros parabéns.

  5. O professor é um eterno pesquisador, que adentra em meio aos conhecimentos, busca cada vez mais saber, e nunca para no seu eterno apreender. sua maior satisfação é transmitir seus conhecimentos, de forma clara, objetiva, mas também com a capacidade de instigar seus alunos à pesquisa

  6. Se formos fazer uma boa análise sobre o “Ser professor, numa perspectiva de Paulo Freire, onde o mesmo retrata que;

    O “Ensinar não é transferir conhecimento, mas *criar possibilidades* para a sua produção ou a sua construção. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.

    Levando em consideração a sua colocação e em paralelo às reflexões em que nosso caro amigo, Profs Ângelo apresenta, de fato,
    o professor é, está grande: “Ponte do Saber”, entre o Universo do “Saber-fazer, e, ou não “Saber-fazer”, fatpres estes, atrelados aos diversos campos educacionais e conhecimentos afins, conhecimentos estes a ser aprendidos e compartilhados, entre sociedade em múltiplas relações sociais. O ser professor é socializador e protagonista do conhecimento. Contudo, o professor serve não somente, como porta-voz do ensino ou “mera ponte de utilidade nas práxis pedagógicas”. o professor serve por fim, para sonhar, para somar sonhos. Ser professor, é este ser idealizador, é arquiteto na construção de um mundo cada dia melhor. É construtor de sonhos!

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