Websérie mostra transformação do Rio Tapajós em um corredor de exportação de commodities

A animação do Inesc alerta para o processo acelerado e desordenado pelo qual passam alguns municípios da região

Caroline Oliveira, Brasil de Fato 

O Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) publica, nesta quarta-feira (20), a websérie “Tapajós: uma breve história da transformação de um rio” sobre a transformação do Rio Tapajós em um corredor de exportação de commodities como soja e milho. A produção foi aprovada em 14 festivais nacionais e internacionais e recebeu quatro premiações. 

A animação de três episódios é narrada por três moradores fictícios de Miritituba, um distrito no Pará, que vivem em meio aos portos de exportação de soja e contam histórias que mostram o lado B do desenvolvimento logístico na região. 

A websérie é produto do acompanhamento que o Inesc vem realizando na região do médio Tapajós acerca do desmonte das políticas socioambientais e, principalmente, do projeto Arco Norte, que abarca as bacias hidrográficas amazônicas como região em potencial logístico portuário. 

Tatiana Oliveira, integrante da Inesc que participou da condução da websérie, afirmou que na região há um esforço do governo federal e do agronegócio em deslocar o eixo logístico da exportação de produtos brasileiros do Centro-Sul para o Norte do país, em razão da expansão da fronteira agrícola nacional, levando a infraestrutura que possibilita a exportação de grãos, sobretudo no Norte do Mato Grosso, para o interior da Amazônia. 

“Do ponto de vista da quilometragem, por exemplo, é muito mais próximo dos latifúndios do Norte do Mato Grosso exportar soja subindo por balsa pelo Norte do país, passando pelo Tapajós, do que do que ter que transportar por carreta do Norte de Mato Grosso para os portos de Santos ou Paranaguá”, afirma Oliveira. 

A presença cada vez mais presente de novos portos e empresas nas ocupações populacionais próximas ao Tapajós, como no distrito de Miritituba, implica em “um processo de urbanização acelerado e desordenado, porque falta muita política pública para a população”. 

“A gente observa uma série de consequências negativas a partir da instalação dessas estações de transbordo de cargas na região, que as pessoas chamam de portos, e que nos preocupam muito”, afirma Oliveira. Uma das consequências, por exemplo, é o bloqueio do acesso de pescadores e pescadoras ao rio, “aquilo que garantia renda e a alimentação”. 

Edição: Vivian Virissimo

Foto: Lilo Clareto/Repórter Brasil

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