“O melhor que Bolsonaro tem a fazer é ficar em casa para evitar mais vexames aos brasileiros e às brasileiras”, escreve Edelberto Behs, jornalista.
A cerca de 48 horas antes do Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas, lembrado pela ONU em 2 de novembro, o presidente da República do Brasil, Jair Messias Bolsonaro e seus cães de guarda deram um show de incivilidade em ruas de Roma, em 31 de outubro, onde participou, parcialmente, do encontro do G20.
“Mais uma vez o senhor envergonha o país, presidente”, inicia a nota de repúdio da Associação Brasileira de Imprensa. Na reunião do G20 neste fim de semana, continua o texto, “mais uma vez o senhor foi obrigado a ficar pelos cantos, como aqueles convidados indesejados a quem ninguém dá atenção. Como reação, age como um troglodita, hostilizando e estimulando agressões a jornalistas que lhe fazem perguntas corriqueiras. É de dar vergonha”.
O repórter Leonardo Monteiro, da TV Globo, perguntou a Bolsonaro: “Presidente, por que o senhor não foi de manhã no encontro do G20?”. O Messias passeava, então, pelo centro histórico da capital italiana, como se fosse um turista, enquanto o G20 abria a reunião do último dia de encontro dos líderes das maiores economias do mundo.
“É a Globo? Você não tem vergonha na cara?” E diante da pergunta renovada pelo repórter, mais um balde de grosseria do presidente: “Vocês não têm vergonha na cara, rapaz.” Como se não fosse suficiente, um dos seguranças empurrou o repórter e lhe deu um soco no estômago.
Por que vergonha, presidente? Por perguntar o que boa parte de brasileiros e brasileiras gostariam de saber? Vergonha na cara, presidente, é o que o senhor deveria ter, e não agir feito menino mimado que não estudou para prova de matemática e decide gazear a aula. Bolsonaro resolveu fazer turismo com o dinheiro público. E quando o poderia fazer com os participantes do G20 que visitaram pontos da cidade, na programação oficial, Bolsonaro não o fez.
Mesquinho, inconsequente e incoerente, o presidente usou, sim, máscara em solo italiano o que não faz quando em terras brasileiras, como que indicando “aqui, no Brasil, mando eu!” Lá fora, líderes evitam contato com o troglodita, que não foi à COP26 porque, como disse o vice-presidente, general Mourão, “todo o mundo vai jogar pedra nele”.
Medroso, foge da Cúpula do Clima, onde certamente teria que aplicar outras mentiras descaradas, como o fez no discurso que proferiu na 76ª Assembleia da ONU, anunciando que sempre defendeu o combate ao vírus e o desemprego, e informando que o Brasil registrou diminuição no desmatamento da Amazônia. Há pouco tempo, o país tinha no comando do Ministério do Meio Ambiente um ministro que fechava os olhos ao contrabando de madeira!
O melhor que Bolsonaro tem a fazer é ficar em casa para evitar mais vexames aos brasileiros e às brasileiras. Nas palavras de Josias de Souza, “a ida do capitão ao encontro do G20 revelou-se mais uma inutilidade a serviço da desmoralização do país. As viagens internacionais do presidente não servem senão para reforçar a sensação de que a imagem do Brasil no estrangeiro tornou-se um borrão. Uma mancha na qual se misturam o desastre sanitário, os arroubos antidemocráticos, a estagnação econômica e a destruição ambiental”.
Acrescente-se à lista o comportamento de troglodita para com jornalistas em pleno exercício profissional que acompanharam o presidente em Roma. Não foi o repórter da Globo o único agredido. Jamil Chade, do UOL, filmava as agressões quando foi agarrado pelo braço, e teve o seu celular jogado no chão por um segurança, que se negou a se identificar.
Chade, acostumado a cobrir visitas de presidentes do Brasil ao exterior, questionou Bolsonaro por que ele não participaria da Cúpula do Clima em Glasgow, na Escócia. “Não te devo explicação”, foi a resposta do Messias. O senhor deve explicação, sim, ao povo brasileiro, não com grosserias, mas com justificativas que tenham começo, meio e fim.
A repórter Ana Estela de Souza Pinto, da Folha de S. Paulo, foi empurrada em frente à embaixada brasileira, quando o presidente ainda estava dentro do prédio, onde se hospedara. O jornalista Matheus Magenta, da BBC News Brasil, foi empurrado e golpeado nas costas enquanto tentava fazer perguntas a Bolsonaro durante a caminhada do menino gazeteiro.
Em nota, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) repudiou o ataque à imprensa envolvendo a maior autoridade do país. “Ao não condenar atos violentos de seus seguranças e apoiadores a jornalistas que tão somente estão cumprindo seu dever de informar, o presidente da República incentiva mais ataques do gênero, em uma escalada perigosa e que pode se revelar fatal”.
O Instituto Vladimir Herzog também se pronunciou e solidarizou-se com todas e todos os profissionais “covardemente agredidos em Roma”. Também reafirmou o compromisso de “promover articulações, desenvolver novas iniciativas e acionar todas as vias legais para responder aos complexos e perigosos desafios que atravessamos. Somente assim é que seremos capazes de interromper a escalada de violações à liberdade de expressão e de ataques a jornalistas e comunicadores em todo o país”.
O Instituto Internacional de Imprensa (IPI) condenou veementemente, em tuite, “a violência contra os jornalistas brasileiros” e pediu às autoridades italianas que “investiguem esses incidentes”.
Bolsonaro, qualificou o articulista Josias de Souza, “deixou de ser qualquer um quando transformou a Presidência na única repartição pública privatizada durante sua gestão. O presidente transformou-se num símbolo de todos os privilégios que o déficit público pode pagar”.
Josias de Souza concluiu: “Graças à inércia das instituições nacionais, o símbolo não precisa responder pelo que simboliza. Livre de todos os incômodos, Bolsonaro entrou para a galeria dos seres inimputáveis, ao lado dos menores de idade e dos índios isolados. O Brasil é presidido pelo símbolo da estupidez inimputável”.
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