Há 52 anos o líder revolucionário baiano era assassinado por agentes do regime autoritário, hoje, neste 4 de novembro de 2021, Marighella tem seu legado mais vivo do que nunca
Carlos Marighella foi sobretudo um homem corajoso, caráter indissociável da prática revolucionária da qual ele foi protagonista, chegando a ser considerado o inimigo “número um” do regime autoritário.
Prestes a completar 110 anos de nascimento, no próximo dia 5 de dezembro, o líder revolucionário foi político, escritor e guerrilheiro comunista.
Nascido em Salvador, ainda jovem tornou-se militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), e cursou Engenharia na Escola Politécnica da Bahia.
Foi cofundador da Ação Libertadora Nacional, organização de caráter revolucionário, em contra ataque à ditadura militar (1964–1985) no Brasil.
Em 4 de novembro de 1969 foi assassinado por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), durante uma emboscada.
Seu legado e memória se mantêm vivos tomado pelas forças populares, mesmo após meio século de sua morte.
Resistência e trajetória política
Carlos Marighella conheceu a prisão pela primeira vez em 1932, após escrever um poema contendo críticas ao interventor da Bahia.
Em 1932 mudou-se para o Rio de Janeiro. E em 1º de maio de 1936 Marighella foi novamente preso e enfrentou, durante 23 dias, as terríveis torturas da polícia, onde foi encarcerado por um ano.
Liberto da prisão, transferiu-se para São Paulo, onde passou a atuar na reorganização das forças revolucionárias comunistas, durante a repressão, e no combate ao terror imposto pela ditadura de Getúlio Vargas.
Em 1939, mais uma vez foi preso e torturado de forma brutal na Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS) de São Paulo, enquanto se negou a fornecer informações à polícia.
Foi retido nos presídios de Fernando de Noronha e Ilha Grande durante 6 anos, enquanto dirigiria sua energia revolucionária ao trabalho de educação cultural e política dos companheiros de cadeia.
Anistiado em abril de 1945, participou do processo de redemocratização do país e da reorganização do Partido Comunista.
Como político, chegou a ser eleito deputado federal constituinte pelo estado da Bahia. Mas teve seu mandato cassado pela repressão desencadeada pelo governo Dutra contra os comunistas.
A partir de então, Marighella foi obrigado a retornar à clandestinidade em 1948, condição em que esteve por mais de duas décadas, até seu assassinato.
Nos anos 50, exerceu novamente a militância em São Paulo, tomando parte ativa nas lutas populares do período, em defesa do monopólio estatal do petróleo, contra desnacionalização da economia e o envio de soldados brasileiros à Coreia.
Voltando suas reflexões em relação ao problema agrário brasileiro, redigiu, em 1958, o ensaio “Alguns aspectos da renda da terra no Brasil”, o primeiro de uma série de análises teórico-políticas que elaborou até 1969.
Ditadura e Ação Libertadora Nacional
Após o golpe militar de 1964, Marighella foi novamente preso. Repetindo a postura de altivez das prisões anteriores, Marighella fez de sua defesa um ataque aos crimes e ao obscurantismo que imperava desde 1º de abril.
Conseguiu, com isso, catalisar um movimento de solidariedade que forçou militares a aceitar um habeas corpus e sua libertação imediata.
Desse momento em diante, intensificou o combate à ditadura utilizando todos os meios de luta na tentativa de impedir a consolidação de um regime ilegal e ilegítimo.
Na ocasião, Carlos Marighella aprofundou as divergências com o Partido Comunista, criticando seu imobilismo.
Em dezembro de 1966, em carta à Comissão Executiva do PCB, requereu seu desligamento, explicitando a disposição de lutar revolucionariamente junto às massas, em vez de ficar à espera das regras do jogo político e burocrático convencional que, segundo entendia, imperava na liderança.
E quando já não havia outra solução, conforme suas próprias palavras, fundou a ALN – Ação Libertadora Nacional para, de armas em punho, enfrentar a ditadura, como o fez até os últimos dias de sua vida.
Rondó da Liberdade
Entre um dos seus poemas mais populares, intitulado “Rondó da Liberdade”, escrito quando Marighella esteve preso em São Paulo, em 1939, o revolucionário registrou:
“É preciso não ter medo,é preciso ter a coragem de dizer.
Há os que têm vocação para escravo,
mas há os escravos que se revoltam contra a escravidão.
Não ficar de joelhos,
que não é racional renunciar a ser livre.
Mesmo os escravos por vocação
devem ser obrigados a ser livres,
quando as algemas forem quebradas.
É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.
O homem deve ser livre…
O amor é que não se detém ante nenhum obstáculo,
e pode mesmo existir quando não se é livre.
E no entanto ele é em si mesmo
a expressão mais elevada do que houver de mais livre
em todas as gamas do humano sentimento.
É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.”
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