Segundo coletivo de espíritas progressistas, presidente da República não se alinha a nenhum dos princípios cristãos que norteiam a doutrina
Por Eduardo Maretti, da RBA
O atual presidente da República, Jair Bolsonaro, que disputa a reeleição, não se alinha a nenhum dos princípios cristãos que norteiam e são a base da doutrina seguida pelos espíritas kardecistas. Essencialmente por esse motivo, a não reeleição do mandatário é condição para o avanço da sociedade brasileira, que “só será possível mediante a superação desse trágico momento social em que vivemos no Brasil”.
O Coletivo Espiritas à Esquerda divulgou um abaixo-assinado sobre seu posicionamento na eleição presidencial de 2 de outubro de 2022 contra o voto em Bolsonaro. O movimento – presente virtualmente em 17 estados brasileiros e em Portugal – tem posições críticas ao meio espírita conservador, liderado no Brasil por Divaldo Franco, considerado um “médium decaído”.
“De maneira vergonhosa, a ortodoxia espírita tupiniquim atribui efeitos satânicos ao termo comunismo, o qual Divaldo tem costumado citar em discursos de cunho político conservador”, escreve por exemplo Ana Cláudia Laurindo, colaboradora do site da instituição.
Segundo Ana Cláudia, ao analisar o conflito na Europa entre Rússia e Ucrânia, Divaldo Franco “mostra o quanto se tornou fácil convencer multidões sobre uma narrativa, mesmo quando nada se compreende sobre o fato analisado”.
Leia a íntegra do Manifesto Espírita sobre a eleição presidencial em 1º turno:
Nós, espíritas, abaixo assinados, vimos ao público em geral e às comunidades espíritas em particular para nos posicionarmos sobre a eleição presidencial de 2 de outubro de 2022 afirmando que os espíritas NÃO devem votar no atual presidente da República. E tal posicionamento se dá em função de:
a) o espiritismo possuir caráter essencialmente progressista, conforme textos de Kardec, como se lê, por exemplo, em “A gênese”, nos itens 10, cap. IV; 56, cap. XVII; e 24, 25, 28 e 30, cap. XVIII. E esse caráter progressista, colocado como lei no cap. VIII da parte III de “O livro dos espíritos” (LE), está ligado ao respeito e ao fomento das ciências, incluindo as ciências sociais, a à educação como base de nossas relações;
b) que “numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo ninguém deve morrer de fome”, como afirma a resposta à questão 930 de “O livro dos espíritos”, mostrando-nos que a justiça social é parte indissociável das propostas espíritas, pois “Deus fez o homem para viver em sociedade” (LE766) e que “todos devem concorrer para o progresso, ajudando-se mutuamente” (LE767).
c) que o primeiro de todos os direitos naturais é o de viver, como nos diz a resposta à questão 880 de “O livro dos espíritos”, e que tal direito é oposto à disseminação de armas e à falta de cuidados com a saúde da população;
d) que o compromisso com a vida se estende necessariamente aos seres que compartilham conosco o planeta que nos acolhe, sendo, portanto, essenciais o cuidado e a manutenção de todos os biomas naturais para a preservação da fauna e da flora;
e) que o espírito imortal não tem sexo, gênero, etnia ou nacionalidade e que, portanto, torna-se premente a superação da discriminação social que aflige grande parte da população, como o racismo, a LGBTfobia, o machismo, o capacitismo e todas as demais formas de discriminação e preconceito;
f) que a “justiça consiste em cada um respeitar os direitos dos demais” (LE875) e que “o forte deve trabalhar para o fraco. […] É a lei de caridade” (LE685), não sendo possível, portanto, pactuar com a contínua e opressiva cassação de direitos básicos de trabalhadoras e trabalhadores; e
g) que, como a laicidade do estado é um pilar das sociedades contemporâneas, as pautas sociais discutidas nos parlamentos e na própria sociedade devem-se pautar exclusivamente pela ciência e pelo interesse social, excluindo-se quaisquer interferências de credo nesse debate.
Diante dessas premissas fundamentais do espiritismo e do fato de o atual presidente não se alinhar a NENHUM desses princípios, entendemos que o avanço da sociedade brasileira só será possível mediante a superação desse trágico momento social em que vivemos no Brasil e que isso passa necessariamente pela NÃO reeleição desse grupo ora no poder, pois o amor ao próximo e a justiça social estão justamente no seu lado oposto.
—
Imagem: “É premente a superação da discriminação social que aflige grande parte da população” – Wirestock/Freepik