Por que a esquerda brasileira tem motivos para comemorar

Apesar de ver frustrada esperança de vitória de Lula no primeiro turno e assistir a uma nova onda de direita no Legislativo, esquerda recuperou terreno e obteve conquistas como a eleição de mulheres indígenas e trans

por Jean-Philip Struck, em DW

Apesar de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não ter vencido no primeiro turno neste domingo (02/10), algo que pesquisas apontaram que tinha chance de acontecer, e de uma nova onda de direita no Legislativo, a esquerda brasileira tem motivos para comemorar.

Após o fracasso de 2018, a esquerda recuperou terreno junto ao eleitorado em 2022, criando um cenário difícil para a reeleição de Jair Bolsonaro.

Lula ficou à frente de Bolsonaro por mais de 6 milhões de votos no primeiro turno e, desde a redemocratização, nunca um segundo colocado conseguiu virar o resultado na segunda rodada.

Os 57,2 milhões de votos recebidos por Lula neste primeiro turno de 2022 rivalizam com os 57,8 milhões que Bolsonaro recebeu no segundo turno de 2018.

Em relação a Fernando Haddad no primeiro turno de 2018, Lula ampliou a votação presidencial do PT em mais de 25 milhões de votos.

Recuperação petista

Lula recuperou espaço para o PT em todos os estados brasileiros, incluindo grandes colégios eleitorais como São Paulo e Rio de Janeiro. No Rio, estado que foi o berço do bolsonarismo, Haddad recebeu apenas 14,7% dos votos no primeiro turno de 2018. Em 2022, Lula obteve 40,7%.

O PT também elegeu quatro senadores e ampliou sua bancada de seis para nove em relação a 2018.

Na Câmara, junto com a federação que formou com PCdoB e PV, o PT elegeu 80 deputados. Será a segunda maior bancada da Casa. Juntos, os três partidos elegeram 11 deputados a mais que em 2018.

O PT também foi o partido que mais elegeu governadores no primeiro turno: três e continua a na disputa em mais quatro estados.

O partido ainda colecionou várias marcas simbólicas. Elegeu o deputado estadual mais votado de São Paulo, Eduardo Suplicy, com 807 mil votos, e foi para o segundo turno em Santa Catarina, um dos estados mais bolsonaristas do país, com o petista Décio Lima enfrentando Jorginho Mello, do PL.

O PT também é o partido que mais elegeu mulheres para a Câmara: 21.

Conquistas para o Psol, trans e mulheres indígenas

Outros partidos de esquerda também têm motivos para celebrar. A aliança formada por Psol e Rede elegeu 14 deputados, três a mais do que em 2018.

Guilherme Boulos, do Psol, foi o deputado federal mais votado de São Paulo, tomando a posição que havia sido de Eduardo Bolsonaro em 2018, e o segundo mais votado do Brasil, com mais de 1 milhão de votos.

Boulos chegou a cogitar candidatura à Presidência pelo partido, mas optou por concorrer à Câmara para fortalecer a bancada do Psol. Coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, ele chegou a disputar o segundo turno para prefeito de São Paulo em 2020 e em 2018 concorreu à Presidência. Em 2021, a revista americana Time elegeu Boulos como uma das 100 lideranças emergentes que estão moldando o futuro.

A nova legislatura também marca a chegada das primeiras deputadas trans da história da Câmara: Erika Hilton, do Psol, e Duda Salabert, do PDT, terceira deputada mais votada de Minas Gerais. Duda foi a terceira deputada mais votada de Minas Gerais. Erika foi a oitava mais votada em São Paulo. Nas últimas eleições, em 2020, ambas haviam sido eleitas vereadoras.

Duas indígenas também foram eleitas para a Câmara dos Deputados: Sônia Guajajara e Célia Xakriabá.

Eleita pelo Psol de São Paulo e internacionalmente conhecida pelo nome do seu povo, Sônia Guajajara é uma das principais lideranças indígenas em atividade. Coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), ela se tornou, em 2018, a primeira indígena do Brasil a disputar as eleições presidenciais (como vice de Boulos, também pelo Psol.

Em 2022, foi eleita pela revista Time como uma das cem pessoas mais influentes do mundo. No fim de setembro, foi anunciada como uma das indicadas ao Prêmio Sakharov 2022, do Parlamento Europeu, a mais alta homenagem prestada pela União Europeia ao trabalho em matéria de direitos humanos.

Célia Xakriabá foi eleita também pelo Psol, de Minas Gerais, com a defesa dos territórios indígenas e de ações que atenuem as mudanças climáticas como pauta. Ela foi da primeira turma de Educação Indígena da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 2013.

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