Terrorismo nas sedes dos Três Poderes em Brasília: sem punição não terá fim. Por Gilvander Moreira[1]

Estarrecido com os ataques terroristas, fascistas, golpistas, bolsonaristas, acontecidos em Brasília nas sedes dos Três Poderes da República Federativa do Brasil, patrimônio da humanidade, no domingo, dia 08 de janeiro de 2023, uma semana após Luiz Inácio Lula da Silva ter tomado posse pela terceira vez para ser presidente do Brasil nos próximos quatro anos. Ele governará para o bem do povo brasileiro para reconstruir o Brasil destruído sob todos os aspectos pelo desgoverno anterior. O vandalismo e a devastação perpetrada nas sedes dos Três Poderes foram imensos economicamente e simbolicamente incalculáveis. Na história do Brasil após a redemocratização não se tinha vista crimes tão horrendos.

Diante dos brutais crimes (são muitos!) cometidos pelos terroristas precisamos, primeiro, ter o melhor diagnóstico sobre o que aconteceu. Segundo, precisamos compreender como foram preparados os ataques, quem foram os criminosos, os mandantes, os financiadores, os mentores do terrorismo, os cúmplices, os coniventes, os omissos. Isso para tirarmos todas as lições destes ataques para que a democracia seja fortalecida e a barbárie contida. Deste mal é preciso tirar muitas boas lições.

Após chegarem a Brasília em mais de cem ônibus, em aviões e muitos em automóveis, com a cumplicidade das forças de segurança do Distrito Federal (Polícia Civil e Militar) que não organizaram a contenção dos golpistas e terroristas, mas “os escoltaram” até a Praça dos Três Poderes, onde invadiram o Congresso Nacional (Senado e Câmara dos Deputados), o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto sem encontrar quase nenhuma resistência das poucas forças de segurança presentes no momento da invasão, vandalizaram e depredaram tudo. Centenas de vidraças quebradas. Salas, salões e auditórios devastados com requintes de barbárie. Portas arrombadas. Urinaram e defecaram em várias salas. Destruíram um mural com fotos dos ex-presidentes do Brasil no Palácio do Planalto. Danificaram obras de arte de como “As Mulatas” de Di Cavalcanti (no valor de oito milhões de reais), de Portinari e outros/as artistas; destruíram bens históricos. Documentos, mobília, equipamentos eletrônicos, alimentos e até armas foram roubados. Roubaram até uma réplica do documento original da Constituição de 1988 do STF. Enfim, cuspiram ódio nos Três Poderes e em patrimônio histórico-cultural da humanidade.

Alguém já viu patriota destruir os símbolos da própria pátria? Travestidos de patriotas e de pessoas religiosas, não eram nem patriotas e nem religiosos, mas sim “sepulcros caiados” cheios de hipocrisia e violência. O Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS), órgão assessor da UNESCO, divulgou nota de repúdio à destruição de Patrimônio da Humanidade no Brasil nas sedes dos Três Poderes, na qual diz: “O ataque terrorista perpetrado pelas forças antidemocráticas contra o conjunto moderno de Brasília, inscrito pela UNESCO, representa não só uma agressão ao povo e ao patrimônio cultural brasileiro, mas um CRIME CONTRA A HUMANIDADE COMO UM TODO. Esses crimes são hoje passíveis de julgamento pelo Tribunal Pena Internacional (TPI), que em 2016, em um precedente marcante, condenou Ahmad al-Faqi Al Mahdi por crimes de guerra, pela destruição de importantes edifícios históricos na cidade de Timbuktu no Mali.”

O número de criminosos é muito maior do que os 300 presos na contenção do vandalismo e os 1.200 detidos na manhã seguinte no acampamento ao lado do QG do Exército em Brasília. Na tentativa de invasão do Capitólio nos Estados Unidos 900 criminosos foram presos. Há vários tipos de criminosos terroristas envolvidos na execução, na preparação, na sustentação e no apoio ao gravíssimo atentado contra a Democracia brasileira. Há os que participaram dos ataques e que foram filmados por câmeras de drones da Polícia Federal e pelas Câmeras das sedes dos Três Poderes. Estes deixaram mais do que a digital nos crimes. Além destes, há as autoridades de forças de segurança que participaram, violando flagrantemente sua missão como agente do Estado brasileiro. Há autoridades políticas, civis e militares, cúmplices e coniventes, tais como o Governador do Distrito Federal (DF), Ibaneis Rocha, que foi afastado do cargo por 90 dias pelo ministro Alexandre de Moraes, por conduta “dolosamente omissiva”; o ex-secretário de segurança do DH, Anderson Torres, que, aliás, estava em Miami, onde está o ex-inominável, que precisa, com urgência, ser responsabilizado como autor intelectual e fomentador destes ataques terroristas, pois durante mais de quatro anos incentivou e alimentou os criminosos estilhaçando o regime democrático. Ameaçou o tempo todo que poderia dar golpe. E ao fugir “confessou” que não deu o golpe por falta de apoio. A todos criminosos recordamos o que diz o profeta Malaquias “Todos os que cometem injustiças serão como palha na fornalha acesa. E deles não sobrarão nem raízes e nem ramos” (Mal 3,19).

Há indícios seríssimos de que empresários do agronegócio financiaram estes atos terroristas. Os mandantes destes ataques terroristas precisam ser presos preventivamente e terem seus bens bloqueados para pagarem as reformas nas sedes dos Três Poderes. Não é justo que o povo brasileiro trabalhador arque com as despesas das reformas urgentes e necessárias.

Precisam ser responsabilizados também os corresponsáveis ideológicos e religiosos, vários deles identificados entre os participantes destes atos terroristas. Ideias e crenças movem as pessoas. Assistimos nos últimos anos um grande número de falsos pastores, padres bolsonaristas e outros líderes religiosos “assediando” muita gente que, ingenuamente ou cegado, acabou por acreditar no tsunami de mentiras que jorravam das bocas destes falsos pastores e profetas que conduzem o povo para o matadouro. Estes o profeta Miqueias desmascara: “vocês que têm horror ao direito e entortam tudo o que é reto” (Miq 3,9). Usaram e abusaram do nome de Deus, de Jesus e de textos bíblicos para fomentarem ódio, intolerância e uma série de discriminações na convivência social. Hipocritamente se diziam “defensores de Deus, da Família e da Pátria”, mas na prática são idólatras travestidos em vestes e discursos religiosos, são destruidores das famílias brasileiras, pois no fundo o que querem é continuar devastando a Amazônia, invadindo territórios indígenas, com garimpo e agronegócio desertificador dos territórios. E não são patriotas, mas patriotários, pois insistem em solapar a nossa Pátria, as instituições e valores democráticos. O profeta Miqueias não alivia com estes: “Os chefes de vocês proferem sentença a troco de suborno; seus sacerdotes ensinam a troco de dinheiro, e seus profetas são mercenários.”

Com o ex-ministro do STF Aires de Brito digo: “O terrorismo não acabará enquanto financiado, estimulado e aplaudido. E continuará matando a Democracia … até que seja severamente punido.” Aos golpistas terroristas dedicamos as palavras duras de Jesus Cristo no Evangelho de Mateus: “Ai de vocês que amarram pesados fardos e os colocam no ombro dos outros, mas vocês mesmos não estão dispostos a movê-los, nem sequer com um dedo” (Mt 23,4). De fato, esses golpistas apoiaram o desgoverno do inominável que condenou mais de 33 milhões a passarem fome no Brasil. Mais de 400 mil mortos pela covid-19 poderiam estar vivos se o povo tivesse sido vacinado sem atraso de vários meses e se não tivesse sido implementada política negacionista da ciência. Os cortes brutais nas políticas públicas mataram muita gente. “Ai de vocês hipócritas! Vocês exploram as viúvas e roubam suas casas e, para disfarçar, fazem longas orações. Por isso, vocês vão receber uma condenação severa” (Mt 23,14). Isso mesmo: o que não admitem, mas na prática querem é continuar roubando “as viúvas de hoje”, que são os Povos Indígenas, os quilombolas, o povo negro, periférico secularmente escravizado no nosso país. Querem mesmo é continuar saqueando os territórios (Amazônia e todos os outros biomas), com agronegócio desertificador de territórios e mineração que deixa terra arrasada onde se instala. Os terroristas sabem que o presidente Lula e a frente ampla que o elegeu têm compromisso com a implementação de políticas públicas que efetive justiça agrária, ambiental, urbana, trabalhista e previdenciária. No fundo, os terroristas são egoístas. Muitos deles faziam fila para comprar iates e helicópteros, sem pagar nem IPVA, enquanto o governo que eles sustentavam humilhava o povo na fila do osso, pela fome imposta.

Enfim, é hora de apuração urgente de todos os responsáveis e corresponsáveis pelos ataques terroristas. Punição, já, para que não voltem a tentar atentar contra a democracia. Ovo de serpente, se não for abortado, gera serpentes venenosas e letais. Sem punição não terá fim as ações antidemocráticas e violadoras de direitos humanos.

Nota:

[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; agente e assessor da CPT/MG, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas; prof. de Teologia bíblica no SAB (Serviço de Animação Bíblica), em Belo Horizonte, MG.

Imagem: Ato Público e Marcha em Belo Horizonte, MG, em repúdio aos ataques terroristas nas sedes dos Três Poderes, em Brasília – Foto: Divulgação Revista Piauí – Praça da Estação, em Belo Horizonte. 09/01/202

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