João Pedro Stedile fala sobre pontos que serviram de reflexão sobre a conjuntura política e atual da Reforma Agrária Popular
A reunião da Coordenação Nacional do MST, realizada na última semana em Luziânia, Goiás, ofereceu a mais de 400 delegadas e delegados diversas análises sobre a conjuntura da organização e da questão agrária, além do espaço de estudo e atualização sobre diversos temas.
Durante sua exposição sobre o assunto, João Pedro Stedile, da direção nacional do MST, ofereceu ponderações sobre a política internacional e nacional, principalmente no que se refere à Reforma Agrária Popular e às famílias Sem Terra. Após uma breve apresentação dos modelos que o capitalismo tem estabelecido no país, Stedile elencou 10 contradições que o modelo do capital no campo enfrenta hoje.
Confira abaixo a síntese destes pontos e assista, nesta sexta-feira (03), à aula sobre o tema para entender como a luta de classes está ligada a essas contradições!
1. O modelo atual não produz alimento
Segundo Stedile, uma das primeiras contradições está ligada ao fato de que o modelo capitalista no campo, o agronegócio hoje é antissocial e não produz alimentação para a população se alimentar e suprir a fome.
2. Destrói o meio ambiente
“Tem coisa mais anti-futuro do que destruir o lugar onde tu mora?”, pergunta Stedile. Neste, ele aponta que o capitalismo hoje destrói não só a partir do desmatamento e das queimadas, mas destrói também com os agrotóxicos.
3. O modo de fazer a agricultura promove as mudanças climáticas
As maneiras e formas de produção do agronegócio, segundo Stedile, estão diretamente ligadas à crise climática, como que as que afetam todo mundo, as chuvas torrenciais ou mesmo a estiagem, secas extremas.
4. As consequências deste modelo na saúde pública
Com o uso excessivo e agressivo dos agrotóxicos, é cada vez mais claro sua relação com o índice de desenvolvimento de câncer, o que custa caro para o trabalhador (a), para o governo, a partir do Sistema Único de Saúde (SUS), e para a vida.
5. Dependência do mercado externo
Stedile apontou ainda, que o agro é completamente dependente do mercado internacional. Por isso, a submissão à esse mercado causa uma contradição em sua existência, pois só produz commodities com foco no atendimento à uma demanda global.
6. A pecuária bovina é nociva
A forma como a pecuária bovina é trabalhada no Brasil é, em si, um ponto de muitas contradições e controvérsias para o modelo capitalista, uma vez que prejudicam não só os humanos demograficamente, mas a liberação de seus gases produzem mudanças reais em todo o planeta.
7. A “riqueza” produzida não fica no município
O dinheiro vai quase todo para o capital estrangeiro e, assim, é cada vez mais inviável para as cidades, principalmente aos pequenos municípios, se desenvolverem quando este modelo do agronegócio não beneficia as pessoas que nela trabalham.
8. O modelo não gera emprego
Este modelo, segundo a análise de Stedile, segue despovoando o campo, pois para este modelo do agronegócio não compensa a existência do ser humano e, assim, cria uma sociedade “moderna que não quer ter gente”.
9. Não gera impostos
Com um sistema legislativo que tenta favorecer a todo custo, estes modelos de capitalismo acabam tentando escapar de impostos como Imposto Territorial Rural (ITR) e Imposto de Renda e, assim, são prejudiciais para a sociedade como um todo.
10. Monocultivo destrói a biodiversidade
Por fim, Stedile finaliza os pontos fazendo uma correlação com o agronegócio predatório e a hegemonia do capital financeiro, que na sua opinião, estão em colapso dado que, seu modelo, que inclui o monocultivo, reduz a biodiversidade e a vida tal qual a conhecemos.
Confira a aula completa abaixo e acompanhe sua estreia nesta sexta (3), no Youtube do MST
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Bioma que tem 5% da biodiversidade do planeta é ameaçado pelo avanço do agronegócio. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil