Área visitada em território Maxakali não tem rio nem mata

Nossa equipe de reportagem atravessou de carro o maior território contíguo dos Maxakali – de Água Boa, em Santa Helena de Minas, a Pradinho, em Bertópolis (53 km²).

Por Maria Iranilda, O Tempo

Nossa equipe de reportagem atravessou de carro o maior território contíguo dos Maxakali – de Água Boa, em Santa Helena de Minas, a Pradinho, em Bertópolis (53 km). A mata não existe mais. Os aldeamentos de três a 15 moradias preenchem, de forma espaçada, a imensidão verde do capim. Em cada aldeia, vive uma mesma família, e em todas há uma escola da rede estadual de ensino. Os professores são os próprios indígenas, e as construções são simples, de alvenaria, barro batido e pau a pique.

No percurso de 40 minutos, não encontramos rio. A água vem de poços artesianos e não é potável. A falta de saneamento básico causa verminoses e diarreia. Sem floresta para caçar e rio para pescar como faziam os ancestrais, a maioria dos Maxakali sobrevive de pequenas plantações, criação de galinha e porcos, além do auxílio do governo a pessoas de baixa renda.

“Na minha criação, tudo era mato. Tinha fruta, caça, pesca. A comida nossa era a natureza, não tinha esse problema de fazer compra. Meu sonho é ter nossas matas de volta, as nascentes e os rios para pescar”, diz Maria Diva Maxakali.

CULTURA MAXAKALI

Os Maxakali não têm chefe. Eles são um grupo que trabalha muito a autonomia. Mesmo sem concentração de poder, há figuras de autoridades, como o Xamã – homens e mulheres de grande sabedoria a respeito de ervas, rituais, procedimentos de cura e o mundo dos espíritos de sua cultura. “Os mais velhos são figuras de autoridade, mas também ocorre de acordo com a capacidade de fazer aliança e exercer algum tipo de violência, até certa medida”, explica o antropólogo Leonardo Leocádio.

A divisão da sociedade Maxakali é bem rígida. O universo masculino e feminino tem uma divisão muito forte de espaços. A aldeia é o local da civilização, da cultura e das mulheres. Fora da Aldeia, a natureza, o lugar do selvagem é do homem. “A caça compõe boa parte do ser homem maxakali, da masculinidade. Todos aprendem a caçar desde a idade mais tenra”, comenta Leocádio.

A natureza é percebida por todos, mas a mulher tende a ficar mais na casa. A principal atividade fora da Aldeia da mulher é a pesca. Elas são exímias pescadoras. “Elas são figuras políticas dentro da Aldeia. São as conversas entre as mulheres que geralmente fomentam alianças ou geram desafetos, vinganças e brigas”, acrescenta o antropólogo.

Imagem: Aldeia Pradinho, do povo Maxakali, em Bertópolis — Foto: Fred Magno/O TEMPO

Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.

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