A construção de propostas efetivas para política de educação escolar indígena marcou a Semana dos Povos Indígenas em Tefé (AM)

Um verdadeiro ajuri – mutirão – de conhecimentos sobre educação escolar indígena reuniu os povos, órgãos públicos e organizações da sociedade civil do município de Tefé

POR FÁBIO PEREIRA, MISSIONÁRIO DO CIMI NA PRELAZIA DE TEFÉ, REGIONAL NORTE I

Caciques, tuxauas, estudantes, professores indígenas, não indígenas, Fundação Nacional do Povos Indígenas (Funai), Conselho Distrital de Saúde Indígena, Conselho Indigenista Missionário (Cimi) da Prelazia de Tefé do Regional Norte 1, Fórum Municipal de Educação Escolar Indígena de Tefé (FOMEEI), Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, parceiros e aliados da causa indígena participaram no dia 18 de abril do Encontro de Professores Indígenas, um grande ajuri – reunião de esforços – pela Educação Escolar Indígena de Tefé, no Amazonas.

Realizado na Aldeia Nova Esperança, na região da Barreira da Missão de Baixo, Terra Indígena Barreira da Missão, o Encontro integrou a programação da Semana dos Povos Indígenas e trouxe para serem debatidos pelos participantes, assuntos como “A Trajetória da Educação Escolar Indígena”, “Direitos Sociais e Territoriais” e “Saúde Indígena”. Também avaliou as ações e trabalhos da Coordenação de Educação Escolar Indígena (CEEI) da Secretaria Municipal de Educação Escolar Indígena de Tefé (Semed) e apresentou uma proposta de plano de ação para as escolas indígenas.

“A Educação Escolar Indígena faz parte do sistema de educação, que não é nosso, por isso precisamos estar sempre fortalecendo os debates e efetivar esse direito básico”

“A Educação Escolar Indígena faz parte de um sistema, o sistema de educação, e sempre haverá luta, pois o sistema não é nosso, por isso precisamos estar sempre fortalecendo os debates e propondo para que haja a efetivação desse direito básico”, disse o professor indígena Jodaias Medeiros, do povo Kambeba, da aldeia Betel, um dos palestrantes do tema “A Trajetória da Educação Escolar Indígena em Tefé”.

Algumas reivindicações que são discutidas nas reuniões e assembleias do movimento indígena, precisam ser efetivadas. Com essa preocupação criaram a Comissão de Lideranças Indígenas da Terra Indígena Barreira da Missão e apresentaram, no encontro, propostas do processo seletivo simplificado indígena, da criação da categoria de professores indígenas e da Associação dos Professores Indígenas, em uma demonstração da forma autônoma que os indígenas têm de participarem da construção da política de Educação Escolar Indígena.

“Os debates e propostas, fruto das reuniões e assembleias do movimento indígena, precisam ser efetivadas”

O professor e cacique da aldeia Betel, Márcio Kambeba, reafirmou que nos debates, os professores se fortalecem e se estimulam para construir propostas de ações que podem ser realizadas e efetivadas pela CEEI e que sabem que não é seu papel criar esse instrumento, mas podem construir uma proposta para ser apreciada pela CEEI.

“Claro, não é da nossa responsabilidade a criação, mas para nós [precisamos construir propostas] para não ter aquela, digamos, palavra de alguém [dizendo que] não teve tempo, que alguém não se prontificou em criar. Então, a comissão organizou, juntamente com o gestor [da escola da aldeia] e os pedagogos, a criação do processo seletivo. Claro, também não somos nós que aprovamos, mas a proposta hoje está criada, vai ser apresentada nesse espaço de discussão que a Coordenação de Educação Escolar Indígena está manifestando para nós a oportunidade [de apresentar a proposta], aqui na aldeia”.

“A educação escolar indígena é uma das pautas que está sempre presente nas mesas de discussões e espaços de proposição de políticas públicas indígenas”

A educação escolar indígena é uma das pautas que está sempre presente nas mesas de discussões e espaços de proposição de políticas públicas indígenas, pois é um tema que tem relação direta com a estruturação da vida dos povos indígenas. A escola é uma ferramenta de formação de lideranças e os “parentes” – expressão de tratamento entre os indígenas – devem fortalecer esse espaço para, consequentemente, fortalecer sua organização social e o movimento indígena. Essa foi uma das conclusões dos debates.

A professora Katia Regina, indígena do povo Ticuna, que leciona na escola indígena da aldeia Barreira da Missão de Baixo, disse que o encontro é um espaço para que esse fortalecimento aconteça, pois, “a participação dos parentes em um diálogo com a Coordenação Escolar Indígena é fruto de reivindicações e de suas lutas”, ratificando que é preciso se unir e se organizar para conquistar o direito à educação de qualidade.

“A escola é uma ferramenta de formação de lideranças e os “parentes” devem fortalecer esse espaço, para fortalecer sua organização social e o movimento indígena”

“Sabemos que precisamos estar unidos e organizados. Essa é a questão. Estarmos organizados para se ter direitos, porque até então falamos muitos em movimentos, em conquista. Mas quando vemos a questão da educação escolar indígena, percebemos que muitos de nós, professores que atuamos na área, estamos dispersos. Então é preciso que estejamos unidos em fortalecer a educação escolar indígena nas nossas escolas, nas nossas aldeias”, reiterou.

Mário Kokama, membro da CEEI, organizadora do evento, é de acordo com os debates sobre o fortalecimento dos professores indígenas para que contribuam com a qualificação da política de educação escolar indígena e destacou que esses conhecimentos podem contribuir com os estudantes e, assim, eles conheçam a história de conquistas dos povos indígenas para a sua educação escolar e, também, da saúde e cultura indígenas.

“Sabemos que precisamos estar unidos e organizados. Essa é a questão, estarmos organizados para se ter direitos”

“Como estamos na Semana dos Povos Indígenas, para nós [é importante] enriquecer o nosso conhecimento para que a gente possa trabalhar isso na escola com nossos alunos, que é de suma importância que eles saibam o que aconteceu no passado e qual foi a batalha que tivemos para chegarmos, hoje, à educação escolar indígena da forma que está. Qual foi a batalha que aconteceu para chegar à saúde indígena e hoje dizer para nossos alunos e nossos colegas professores como é que está a realidade da cultura no município de Tefé”, concluiu o Kokama, esperançoso de que os resultados do encontro sejam aplicados pela Coordenação Escolar Indígena do Município de Tefé.

Encontro de Professores Indígenas em Tefé Médio Solimões. Foto: Cimi Regional Norte 1/ Equipe Tefé

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