Em Nota, Aty Guasu denuncia a tentativa de criminalizar o Cimi e o povo Guarani e Kaiowá

Os Guarani e Kaiowá cobram medidas para cessar os ataques contra povos originários e organizações de apoio à causa indígena; demandam, também, uma posição do partido

Cimi

Em Nota publicada no último domingo (7), os conselheiros e conselheiras da Aty Guasu – a Grande Assembleia do povo Guarani e Kaiowá -, denunciam a tentativa dos deputados Coronel David (PL/MS) e Zeca do PT (PT/MS), de criminalizar o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e o povo Guarani e Kaiowá. As acusações falsas e difamatórias proferidas pelos deputados ocorreram durante sessão realizada na manhã de quinta-feira (4), na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS), e posteriormente difundidas pela mídia.

Deputados, que segundo a Aty Guasu, protegem o Agronegócio, a polícia e o Governo do Estado, que mata e ataca suas famílias, enquanto persegue nosso movimento e os apoiadores que ajudam a denunciar o genocídio que temos sofrido para fora. “Os deputados mostraram um documento e disseram que o Cimi financiou uma de nossas retomadas no tekoha Laranjeira Nhanderu. Não há nada pior para nós do que menosprezarem nossas decisões e o direito de nossa luta por nossos tekoha”, lista o documento.

“Não há nada pior para nós do que menosprezarem nossas decisões e o direito de nossa luta por nossos tekoha”

Os Guarani e Kaiwá explicam que quem financia as retomadas é o próprio agronegócio, pois é por meio do poder do dinheiro que os povos morrem, vivem com fome, são atacados e torturados, e é por isso que o povo se levanta: para não morrer mais. “Nenhum Kaiowá vai para uma retomada sem saber do risco de morrer. Mas ninguém, nem Aty Guasu, muito menos uma organização Karai [não indígena] decide uma retomada. Isso vem de cada comunidade que não aguenta mais viver massacrada enquanto espera sua demarcação e que sabe onde fica seu território que foi roubado”, afirma a Aty Guasu.

A Nota também aborda os massacres contra Kurupi, Guapoy e Caarapó, além dos ataques contra as retomadas em Dourados (MS), a exemplo de Laranjeira Nhanderu. “Já passou dos limites, além dos ataques no nosso território agora os deputados estão usando novamente as instituições públicas para perseguir nosso movimento e nossos aliados”, completa a Aty Guasu.

A organização Guarani e Kaiowá ainda cobra medidas para cessar os ataques conta os povos originários e contra as organizações de apoio à causa indígena.

Confira a carta na íntegra:

CARTA DA ATY GUASU CONTRA A TENTATIVA DOS DEPUTADOS CORONEL DAVID E ZECA DO PT DE CRIMINALIZAR O CIMI E O POVO GUARANI E KAIOWA

 

Através desta carta todos os conselheiros e conselheiras da Aty Guasu queremos denunciar para todo o Brasil e para organizações internacionais os atos covardes dos deputados Coronel David e Zeca do PT e a tentativa de mais uma vez criminalizar o Cimi e nosso povo Guarani e Kaiowa.

Iremos também tomar algumas medidas frente ao abuso destes deputados que protegem o Agronegócio, a polícia e o Governo do Estado que mata e ataca nossas famílias enquanto persegue nosso movimento e os apoiadores que ajudam a denunciar o genocídio que temos sofrido para fora.

Os deputados, mostraram um documento e disseram que o Cimi financiou uma de nossas retomadas no Tekoha Laranjeira Nhanderu. Dizem que fomos usados pelo Cimi e que o Cimi é que está por traz das retomadas. Esses argumentos machucam nosso povo. Não há nada pior para nós do que menosprezarem nossas decisões e o direito de nossa luta por nossos Tekoha.

Quem financia nossas retomadas é o próprio agronegócio. É através do poder do dinheiro de vocês que nosso povo morre, vive com fome, atacado, torturado. É pelos ataques de vocês que nosso povo se levanta, para não morrer mais. Nenhum Kaiowa vai para uma retomada sem saber do risco de morrer. Mas ninguém, nem Aty Guasu, muito menos uma organização Karai decide uma retomada. Isso vem de cada comunidade que não aguenta mais viver massacrada enquanto espera sua demarcação e que sabe onde fica seu território que foi roubado.

Chega de nós, povo Guarani e Kaiowa sermos usados por vocês, políticos e agronegócio. Nós temos voz e vocês não tem autorização para falar em nosso nome. Somos atacados por vocês, que aproveitam de nossa inocência e da falta de informação que as vezes não chega em nosso território. Vocês nos enxergam e falam da gente de modo racista sem ter vergonha de utilizar nosso povo para seus interesses mal intencionados.

Em 2015 vocês deputados criaram uma CPI de fachada contra o Cimi e quiseram na verdade atacar nossos direitos e impedir que avançássemos na reconquista de nossas terras. Naquela época estávamos sendo massacrados pelos fazendeiros que estavam promovendo massacres contra nossas comunidades. Reagimos com denúncias e os deputados Mara Caseiro e Paulo Correia tentaram nos calar através desta CPI. Hoje novamente estamos sendo massacrados. E os ataques de Coronel David e Zeca do PT vem exatamente quando denunciamos, inclusive a nível nacional e internacional os ataques que as policias estão realizando contra nosso povo, com ordem do Governador e do Secretário de Segurança. Para tentar nos calar de novo começam a perseguir nossos apoiadores como vocês tem feito desde o início do Governo Riedel com nossas lideranças.

Vocês não esconderão a verdade com suas mentiras. Assim como aconteceu em Guapoy, grande massacre realizado pela policia Militar, Kurupi, Guapoy em Caarapo, contra retomadas de dourados, Laranjeira Nhanderu sofreu ataque ilegal de policiais. Pessoas daquela comunidade forma presas indevidamente e inclusive a FUNAI foi violada por isso que pedimos ônibus para o Cimi que ajudou como sempre nos ajuda a ir a Brasília denunciar nossa situação ou até mesmo para fora do país. Esta viagem reuniu os conselheiros e conselheiras da Aty Guasu em uma Assembleia onde teve o Ministério Público Federal, e defensoria da união e do estado também. Lá encaminhamos tudo que o Estado e a polícia fez contra nosso povo e pedimos ajuda para levar os feridos para o hospital.

Depois que voltamos pra casa, soubemos como já denunciamos em outra carta que os policias foram atrás do ônibus das empresas e assustaram os motoristas e também perseguiram algumas de nossas lideranças.

Criminalizar o Cimi por ajudar nossos conselheiros a fazer assembleia e denunciar violências é impedir nosso direito a reunião e garantir que o genocídio do nosso povo continue.

Já passou dos limites, além dos ataques no nosso território agora os deputados estão usando novamente as instituições públicas para perseguir nosso movimento e nossos aliados por isso decidimos que vamos buscar novamente o direito internacional para que os países de fora deixem de comprar deste Estado genocida que vende monocultura em cima de terra indígena, sobre nosso sangue.

Quanto ao Deputado Zeca do PT exigimos uma posição do partido. Da direção do Estado, da Direção do Nacional. Zeca não pode representar o PT perseguindo organizações de apoio e nem o nosso povo, desrespeitar nossas famílias e nossos territórios. Ao perseguir assim ele mostra porque em seu governo no passado os indígenas foram tão maltratados e era toa difícil garantir direitos. Porque na verdade ele é tão genocida quanto os deputados dos partidos da direita. Se o PT não expulsar Zeca do partido estará infelizmente contribuindo também com as perseguições aos Guarani e Kaiowa, pois Zeca não só continua falando racismo como agora apoia e incentiva nossa perseguição.

 

ATY GUASU GUARANI & KAIOWA

07 de maio de 2023

Mato Grosso do Sul

Acampamento Terra Livre (ATL), 2023. Foto: Maiara Dourado /Cimi

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