Cresce desmatamento na Caatinga, bioma mais vulnerável às mudanças climáticas

Mapbiomas elaborou um sistema com imagens de satélite que libera um alerta para cada ação suspeita de desmatamento

Rodolfo Rodrigo, Brasil de Fato

O bioma Caatinga é um dos mais vulneráveis às mudanças climáticas no Brasil e o avanço da degradação desse ecossistema tem preocupado ambientalistas. Para monitorar o desmatamento de matas secas, o Mapbiomas elaborou um sistema que, através de imagens de satélite, libera um alerta para cada ação suspeita de desmatamento encontrada.

É o que explica Washington Rocha, coordenador do mapeamento Mapbiomas Caatinga. “O Mapbiomas Alerta é uma plataforma que foi programada para estruturar, refinar e distribuir dados de desmatamento produzidos por diversas fontes. Para a Caatinga, o alerta utiliza, além da própria plataforma, o sistema SAD Caatinga, criado pra Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) visando reduzir a omissão e obter dados do desmatamento em mata seca que outros sistemas operando globalmente não conseguiam detectar”, contextualiza o pesquisador.

O levantamento derivado do Sistema de Alertas de Desmatamento – SAD Caatinga, parte integrante do Mapbiomas Alerta, mostra que o desmatamento continua avançando sobre a caatinga. Em número de alertas, ou seja, de ações de desmatamento identificadas, houve um salto de 87% entre 2020 e 2021, passando de 5 para mais de 10 mil.

Segundo Washington, parte do desmatamento está ligada à instalação de parques eólicos e estruturas de geração de energia solar. “O desmatamento, tanto em 2021 e 2022, está relacionado à supressão da vegetação da caatinga para instalação de atividades agropecuárias, no oeste da Bahia, MATOPIBA, ao longo do Vale do São Francisco e também área no interior de Pernambuco, do Piauí e do Ceará. Alguns padrões começam a despontar com menor expressão estão ligados à desmatamento para implantação de parque eólicos e também de fazendas de geração de energia solar, ainda há vestígio da extração de madeira para carvoaria, especialmente no interior da Paraíba”, explica.

O Brasil de Fato já mostrou a luta de famílias agricultoras contra os impactos que os parques eólicos causam não só para o meio ambiente, como também na saúde coletiva.

O pesquisador do Mapbiobas afirma que é a instalação inadequada desses parques que traz problemas à biodiversidade da caatinga.

A preocupação se intensifica porque a Caatinga é um bioma único no mundo. “Ameaça à integridade da sua biodiversidade, sabendo que se trata de um dos biomas com maior biodiversidade no mundo com muitas espécies endêmicas, que só ocorrem nessa região, mas por outro lado um bioma com muita fragilidade no que se refere a sua recuperação, uma vez ocorrendo o desmatamento muito acentuado”, ressalta Washington.

Ele explica que o desmatamento na Caatinga pode gerar um impacto ainda maior em relação aos recursos hídricos no Semiárido: “Sabe-se que o desmatamento é um dos fatores que promove a maior escassez dos recursos hídricos, juntamente com as variáveis climáticas. Considerando um bioma onde a atividade hídrica já é limitada, o desmatamento acentuado a longo prazo vem causar dano no que se refere a segurança hídrica e, por sua consequência, a segurança alimentar dentro do território do bioma”.

Em contrapartida ao desmatamento, com o apoio do Mapbiomas Alerta, ações de preservação e recaatingamento são realizadas por institutos como o Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA), e organizações como a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), com o objetivo de salvaguardar o único bioma exclusivamente brasileiro.

Edição: Vanessa Gonzaga

Imagem: Extração de madeira para carvoaria e instalação de parques eólicos podem estar relacionados ao desmatamento na Caatinga – Eduardo Queiroz

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