Thelma Krug: precisamos repensar a era dos grandes relatórios do IPCC

ClimaInfo

No mês passado, o governo brasileiro formalizou a candidatura da matemática Thelma Krug à presidência do Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudança do Clima (IPCC), o principal órgão científico do mundo na área climática. Atual vice-presidente do IPCC, ela poderá ser a primeira mulher e a primeira representante da América Latina no cargo.

Observatório do Clima destacou algumas falas de Krug feitas nesta 2ª feira (8/5) a representantes do corpo diplomático no Ministério das Relações Exteriores, em Brasília. Em particular, a cientista reconheceu a necessidade de se repensar o modelo dos enormes Relatórios de Avaliação (AR), que são publicados a cada cinco ou seis anos.

“Muitos veem que o importante para os formuladores de política e tomadores de decisão são sumários, sínteses mais específicas e mais focadas, que permitam que as decisões sejam tomadas de maneira tempestiva. Isso implicaria que nós repensássemos a necessidade dos grandes relatórios, que já saem um pouco desatualizados”, disse Krug.

De fato, a dinâmica dos AR favorece relatórios com maior fôlego científico, mas acaba custando tempo demasiado, o que torna algumas análises “datadas”, eventualmente superadas, na época da divulgação. Além disso, a interferência política dos governos nos documentos publicados pelo IPCC também atrasa o processo de divulgação dos relatórios.

Outro ponto levantado por Krug foi a necessidade do IPCC se desdobrar mais na facilitação de acesso dos países em desenvolvimento às pesquisas científicas. “Muitas dessas publicações são pagas e muitos países em desenvolvimento não têm acesso a elas”, assinalou a cientista.

A eleição à presidência do IPCC acontecerá no final de julho, durante a 59ª Sessão Plenária do Painel, no Quênia. Além de Krug, os cientistas Jean-Pascal van Yppeserle (Bélgica), Debra Roberts (África do Sul) e Jim Skea (Escócia) também são candidatos. O atual presidente, Hoesung Lee, não disputa a reeleição.

Em tempo: “Quanto mais pesquisamos, mais percebemos que, de fato, as mulheres podem fazer uma enorme diferença quando são nomeadas para debater o clima”, afirmou a ativista climática Bianca Pitt, fundadora da campanha She Changes Climate (Ela Muda o Clima), à Folha. Ela elogiou a escolha de Thelma Krug pelo Brasil para disputar o comando do IPCC. “Infelizmente, estamos percebendo que a lacuna de gênero está crescendo, o que é uma catástrofe. (…) Em tempos de crise, guerras e emergências e, claro, à medida que a crise climática piorar, a situação vai se deteriorar, e será cada vez mais difícil que mulheres assumam cargos de liderança”.

Claudio Angelo/OC

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