Em marcha, mulheres indígenas pedem a derrubada de proposições contrárias aos direitos originários

A III Marcha das Mulheres Indígenas reuniu cerca de 8 mil pessoas em Brasília contra o marco temporal; mulheres indígenas de dezoito povos, representando o movimento indígena de doze países, estiveram no evento

POR ADI SPEZIA E MARINA OLIVEIRA, DA ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DO CIMI

Mulheres biomas. Mulheres guerreiras. Mulheres que inspiram. Mulheres em busca de seus direitos, em defesa da biodiversidade pelas raízes ancestrais, ocuparam as ruas de Brasília, entre os dias 11 e 13 de setembro, para a III Marcha das Mulheres Indígenas. O evento, organizado pela Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga), tem como objetivo promover a igualdade de gênero, a defesa dos direitos das mulheres e a preservação das culturas indígenas.

Com o tema “Mulheres Biomas em Defesa da Biodiversidade pelas Raízes Ancestrais”, a marcha reuniu cerca de 8 mil mulheres indígenas que clamam pela reparação de direitos, usurpados ao longo de 523 anos. Hoje não há colonizadores portugueses, mas há proposições que tentam arrancar, a todo custo, os corpos e almas ancestrais de seus próprios territórios.

A Marcha também reúne mulheres indígenas de outros países, “um lembrete poderoso de que a luta pelos direitos das mulheres indígenas não conhece fronteiras geográficas”, afirma a Anmiga. Mulheres indígenas de 18 povos, representando o movimento indígenas da Malásia, África, Uganda, Estados Unidos, Peru, Quênia, Nova Zelândia, Bangladesh, Rússia, Indonésia, Guatemala e Finlândia, também estivarem na Marcha.

“Um lembrete poderoso de que a luta pelos direitos das mulheres indígenas não conhece fronteiras geográficas”

Durante os três dias, o apelo pelo fim das violências contra as mulheres indígenas e os seus lugares de direito na sociedade se fez ecoar a partir do acampamento montado no espaço da Fundação Nacional das Artes (Funarte). O evento contou com uma programação diversa, painéis, trabalhos em grupo, manifestações culturais e o desfile das Originárias da Terra.

 

Marcha

A capital federal amanheceu na última quarta-feira (13) com a potência de mulheres indígenas de todos os cantos do país. Mesmo de longe, era possível escutar o som dos maracas e do forte canto, que seguiam em direção ao Congresso Nacional.

Em meio a faixas e cartazes, elas pediam a derrubada de proposições que caminham na direção contrária dos direitos originários – como o Projeto de Lei (PL) 2903/2023 (antigo PL 490/2007), que tramita no Senado Federal, o Parecer 001/2017, da Advocacia Geral da União (AGU), e a tese do marco temporal, em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF).

“No centro dessa marcha está um poderoso apelo por direitos iguais para as mulheres indígenas. Essas mulheres enfrentaram inúmeros desafios e injustiças ao longo de suas vidas, mas se recusam a continuar sendo silenciadas. Exigimos acesso a cuidados de saúde de qualidade, educação e oportunidades econômicas. Lutamos pela proteção da terra e recursos naturais, que vêm sendo explorados por muito tempo. Defendemos o fim da violência contra as mulheres indígenas, um problema generalizado que tem atormentado nossas comunidades há gerações”, afirma a organização da Marcha.

“Essas mulheres enfrentaram inúmeros desafios e injustiças ao longo de suas vidas, mas se recusam a continuar sendo silenciadas”

No encerramento da Marcha, no dia 13 de setembro, as mulheres indígenas realizaram a leitura de uma carta – o Documento Final das Originárias – sobre o evento, e à noite ocorreu o show “A Cura Do Mundo Somos Nós”, com a presença de artistas indígenas mulheres e convidadas.

Assista a leitura da carta aqui.

Durante mobilização da III Marcha das Mulheres Indígenas, mulheres de todo o país pediram a derrubada do marco temporal. Foto: Maiara Dourado/Cimi

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