Rodrigo Castro, O Globo
Um indígena guarani kaiowá foi morto a tiros hoje durante uma ação policial contra a retomada da Fazenda Barra, na terra Nhanderu Marangatu, em Antônio João, no Mato Grosso do Sul. Trata-se de um local de disputa entre fazendeiros e indígenas.
Pois bem. A dona da fazenda, Roseli Ruiz, foi indicada como “especialista” para participar de uma audiência de conciliação no STF, no próximo dia 23, sobre a constitucionalidade do marco temporal na demarcação de terras. Seu nome, aliás, foi sugerido pelo PL e pelo Republicanos, autores de uma das ações que resultaram na mesa instituída por Gilmar Mendes.
Roseli foi indicada pelas legendas na condição de antropóloga. A fazendeira passou a usar o diploma na área para fazer laudos contrários a demarcações de terras indígenas, como revelou uma reportagem da Folha de S. Paulo em 2013.
O histórico de conflitos da família de Roseli com os Kaiowá e Guarani é antigo. Remonta ao assassinato de Simeão Vilhalva, em agosto de 2015, no mesmo local, após uma violenta ação de fazendeiros e jagunços fortemente armados. O grupo partiu da sede do Sindicato Rural de Antônio João, então presidido por Roseli.
A TI Nhanderu Marangatu foi homologada em 2005 com 9,3 mil hectares. No mesmo ano, porém, a homologação foi suspensa por liminar do STF a pedido dos fazendeiros, entre eles Roseli Ruiz. A decisão foi contestada pelos indígenas, e o processo segue sem julgamento definitivo.
Quase vinte anos depois, na última quinta, os Guarani e Kaiowá tentaram mais uma vez a retomada da área – a única parte da terra que ainda não está sob a posse dos indígenas.
Mas a Justiça Federal de Ponta Porã (MS) autorizou a PM a proteger a propriedade da ruralista, com rondas ostensivas e um pelotão mantido na sede da fazenda 24 horas por dia.
Hoje, Neri Ramos da Silva, de 22 anos, foi vítima de um disparo de um policial. Na quinta-feira passada, outros dois indígenas ficaram feridos em confronto com os agentes.
—
Enviada para Combate Racismo Ambiental por Neyla Mendes.