MPF quer que BID suspenda obras com potencial impacto sobre comunidades tradicionais e meio ambiente em Salvador (BA)

BID é o financiador das obras e município vem desrespeitando Marco de Política Ambiental e Social aprovado pelo próprio banco

Ministério Público Federal na Bahia

O Ministério Público Federal (MPF) expediu ofício ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) requerendo que o banco, na condição de financiador do empreendimento, determine ao município de Salvador (BA) a suspensão imediata de obras no Parque São Bartolomeu. O documento aponta preocupações com possíveis violações socioambientais na implantação de infraestruturas de gestão de resíduos sólidos, na execução do Projeto Novo Mané Dendê, que faz parte do programa de saneamento e urbanização da bacia do Rio Mané Dendê.

A execução do programa de saneamento e urbanização decorre de contrato firmado entre o município e o BID. Entre as intervenções questionadas pelo MPF estão a instalação de um ecoponto e um galpão de triagem na área da microbacia hidrográfica da Cachoeira de Oxumaré, considerada sagrada por comunidades tradicionais.

Segundo o procurador da República Ramiro Rockenbach, o objetivo do MPF é assegurar a observância das diretrizes do Marco de Política Ambiental e Social (MPAS), aprovado pelo BID, especialmente para a proteção dos modos de ser, viver e existir dos povos tradicionais impactados pelas obras (em especial de ascendência africana). Rockenbach aponta que as comunidades não foram consultadas, o que fere a diretriz do MPAS de realização de consulta prévia, livre e informada às populações diretamente afetadas.

Além disso, o MPAS também destaca a implementação de medidas de gestão diferenciada para grupos vulneráveis da população, incluindo pessoas de ascendência africana. “Patente, ainda, o propósito de responder aos desafios ambientais e sociais, notadamente àqueles relacionados com a desigualdade social, as alterações climáticas e o esgotamento do capital natural”, afirma o procurador no ofício.

Patrimônio cultural e religioso – O MPF relatou que as comunidades afetadas, incluindo povos de matriz africana, têm manifestado preocupações com a possível destruição de seu patrimônio cultural e religioso, e com as consequências das obras para o ecossistema local, como a floresta da Área de Proteção Ambiental (APA) Bacia do Cobre/São Bartolomeu. Os representantes das comunidades denunciaram ainda outros impactos negativos que podem ser causados pelas obras, como poluição ambiental, risco de assoreamento e degradação de áreas de preservação permanente.

De acordo com o Instituto Búzios, o Coletivo Guardiões da Natureza da APA Bacia do Cobre/São Bartolomeu e a Associação de Moradores de Ilha Amarela, o Município de Salvador, no processo de execução do Projeto Novo Mané Dendê, tem levado a efeito “atos discriminatórios e racistas consubstanciado em ataques, ações e omissões contra os modos de vida de Comunidades Tradicionais, Povos de Santo e de Terreiro, remanescentes de Quilombos, pescadores e agricultores artesanais em contexto urbano”.

O MPF requer que o BID exija do município a paralisação imediata das obras e a realização de consultas com as comunidades afetadas, conforme previsto no MPAS. O MPF pede, ainda, que sejam tomadas medidas de proteção à biodiversidade e ao patrimônio cultural, de acordo com as diretrizes aprovadas pelo próprio banco. Segundo o procurador, o cumprimento dessas medidas é essencial para garantir que o desenvolvimento do Projeto Novo Mané Dendê não cause danos irreversíveis ao meio ambiente e às comunidades tradicionais da região.

Íntegra do Ofício PRBA 771/2024.

Arte: Secom/PGR

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