Do apartheid sulafricano ao racismo brasileiro

Por Rui Martins*, em Observatório da Imprensa

A primeira exibição, dentro de quatro semanas, do filme Todos os mortos, na principal competição do Festival Internacional de Cinema de Berlim, vai abrir um grande debate no grande país mestiço que é o Brasil. Um debate sobre a escravidão de negros importados da África, que durou cerca de trezentos anos, e deveria ter terminado com a abolição, mas se transformou num racismo disfarçado, praticado pelos próprios descendentes de escravos branqueados nas últimas gerações.

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Filme ‘Democracia em Vertigem’ é indicado ao Oscar de Melhor Documentário

Longa da diretora Petra Costa, disponível na Netflix, conta a história do colapso da democracia brasileira do impeachment de Dilma Rousseff até a eleição de Bolsonaro

por Redação RBA 

São Paulo – O longa brasileiro Democracia em Vertigem, disponível desde 19 de junho no catálogo da plataforma de streaming Netflix, está entre os finalistas na categoria de Melhor Documentário do Oscar 2020. O filme concorre com  American FactoryThe CaveHoneyland  e  For Sama.

O documentário da cineasta Petra Costa narra os eventos que transformaram o panorama político do Brasil desde o golpe contra a então presidenta Dilma Rousseff (PT), em 2016, culminando, em 2018, com a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) à presidência da República.

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“Acredito na unidade, mesmo quando existem diferenças políticas grandes”

Paulo Portugal entrevistou Costa-Gavras durante o festival de cinema de San Sebastian sobre o seu mais recente filme no qual “o lendário realizador franco-grego encena a crise financeira como uma tragédia grega”. Aos 86 anos não promete novo filme mas busca “nova paixão”. Pensa que esta “é necessária para sobreviver”.

por Paulo Portugal, em Esquerda.net

Todo o cinema é político dir-se-á, mas quando se trata de encarar a carreira de mais de 50 anos do realizador Costa-Gavras, esse envolvimento assume proporções quase épicas. O cineasta comunista e ativista que nos deu em 1969 Z – Orgia de Poder, um filme dominado por convicções sobre relato do assassinato de um político em plena ditadura militar grega (que duraria até o início dos anos 70), recuperaria em 82 o golpe militar chileno que derrubou Salvador Allende, em 1973, com Jack Lemmon e Sissy Spacek à procura do filho desaparecido em Missing – Desaparecido. Pelo meio ainda, entregou-nos a história do colaboracionismo nazi de Music Box e outros tantos momentos políticos marcantes.

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Oniropolítica: alegorias da violência no Brasil contemporâneo

Mais do que a regressão da biopolítica para a necropolítica e do círculo fechado e inversivo entre soberania e violência, o que “Bacurau”, lido junto com a peça “Casa Submersa”, propõe é uma oniropolítica: a restauração de nossa capacidade de sonhar, de olhar para o lado e de coabitar várias temporalidades contraditórias

Por Christian Ingo Lenz Dunker*, no blog da Boitempo

Bacurau (2019), de Kleber Mendonça e Juliano Dornelles pode ser visto como um filme previsível sobre a violência, particularmente no Brasil profundo do sertão onde o Estado só chega em nome da corrupção. Um nordeastern que reforça o preconceito de que nosso inimigo fala inglês, que o sul usa o nordeste para empreender sua miséria em estrutura de vídeo game, que a pobreza traz necessariamente violência e que todos os políticos são corruptos. Um filme que usa a paratopia, baseada no fato de que o enredo se passa no futuro, apenas para mostrar como o tempo não passa e que no fundo repetimos padrões do cangaço, da ditadura militar, da escravidão e do colonialismo. Resultado: em vez de recriar um presente a partir da sua exageração no futuro, como em Terra em Transe, por exemplo, estamos apenas mitificando o presente a partir da alegorização do passado.

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Outra Política: o que aprender com BH

Douglas Resende e Jean-Claude Bernardet lançam um olhar sobre a experiência que sacudiu a esquerda em Minas Gerais e tentam descobrir como ela pode ajudar a encontrar saídas no deserto político brasileiro

Douglas Resende, entrevistado com Jean-Claude Bernardet, em Outras Palavras

A sequência de derrotas sofridas desde o golpe de 2016 continua atordoando a esquerda institucional brasileiro. O sintoma mais nítido é a perda de horizontes utópicos. Diante de um governo que opera em modo de devastação frenética, escasseiam alternativas. Raras vezes há, inclusive, resistência – ao desmonde da Petrobrás, à censura das obras artísticas por instituições como a Caixa ou ao aumento dos assassinatos policiais, por exemplo. Os partidos comportam-se como se esperassem um fato salvador – um vazamento arrasador da Vaza Jato, por exemplo.

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Bacurau e a esquerda anestesiada

Uns veem-no como distopia já em curso. Outros, como utopia catártica. Em comum, a incapacidade para lidar com um real cada vez mais diferente do imaginado. O sintoma não está na obra, mas na estranha recepção de boa parte do público

Por Bárbara d’Alencar Dragão*, em Outras Palavras

Que a esquerda, a partidária, aquela dos cálculos eleitorais e das disputas ínfimas, esteja perdida em seus próprios labirintos já não é novidade. Não que a disputa partidária e a volta ao poder devam ser renunciadas em prol de uma pureza pueril, mas quando o horizonte de sentido se reduz aos aspectos meramente eleitorais, a derrota deixa de ser apenas um acidente de percurso.

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Bacurau, libertação e fúria

Numa provocação sobre o papel da violência, a pergunta: ela jorra do sangue dos invasores, ou da tentativa de colonizar e aniquilar o Sertão — com ajuda dos próprios brasileiros? Fica, no entanto, o exemplo: não precisamos morrer todo dia

por Juliana Magalhães*, em Outras Palavras

“No centro do sertão, o que é doideira às vezes pode ser a razão mais certa e de mais juízo!”
Guimarães Rosa

Um dia um artista carioca disse que procuramos no amor uma pureza impossível. Não me lembro se foram essas as palavras, mas sei que o sentido da frase era exatamente esse. A questão é que há também quem busque por uma pureza impossível na arte, no cinema. Há quem procure por uma experiência aconchegante quando entra numa sala de cinema:  problemas que se resolvam com soluções mágicas e fleumáticas. Uma estética que não agrida os olhos ou um suposto bom gosto. Um final feliz para o bom e um final um pouco menos feliz para o mau. Coisas “belas” que Hollywood e os contos de fada fizeram com que o nosso cérebro invocasse quase que imediatamente. Desejam uma espécie de desfecho que as obras realistas não suportam mais. Não falo aqui do movimento realista, mas da realidade em si.

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