Para povos indígenas, repúdio do Vaticano à Doutrina da Descoberta é “apenas um passo”

No IHU

Povos indígenas dos Estados Unidos e do Canadá reagiram de forma mista ao repúdio do Vaticano à Doutrina da Descoberta, uma série de bulas papais do século XV que legitimavam a exploração colonial, concordando que a declaração deveria ser seguida de outras ações.

A reportagem é de Aleja Hertzler-McCain, publicada em National Catholic Reporter, 06-03-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto. (mais…)

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O que podem as políticas públicas num país segregado?

Herança colonial nunca superada, riqueza e acesso à terra são ainda mais concentrados do que a renda. Fenômeno inferniza campo e cidades. Para vencê-lo, país precisa da reforma agrária – e de medidas redistributivas radicais

por Marie Madeleine Hutyra de Paula Lima, em Outras Palavras

A aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948 pela Assembleia Geral das Nações Unidas exige o respeito à dignidade a todos e direitos iguais e inalienáveis, porém não conseguiu afastar a ideia da supremacia da raça branca e de uma política de segregação social na mente da elite dominante, também no Brasil, apesar das exigências neste sentido contidas na Constituição Federal de 1988. Falta educação política e humanização no país. (mais…)

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Suely Rolnik: Para o Brasil esconjurar o fascismo

Escravista, patriarcal e violenta, formação do país é fértil para subjetividades que querem a brutalização e o extermínio do outro. Saída precisa ser micropolítica, também: libertar nossos inconscientes do narcisismo que se blinda à diferença

Por Suely Rolnik | Tradução do espanhol: Josy Panão, em Outras Palavras

A bestial invasão das sedes dos três poderes da República Brasileira foi um passo a mais na escalada de um movimento de extrema direita que começa a mostrar sua cara, em 2005, durante o primeiro governo de Lula. Um movimento resultante da instalação no país da nova modalidade de golpe, própria do capitalismo em sua versão financeira, em que se unem neoliberalismo e um conservadorismo dos mais arcaicos e ferozes. Como descrevo em meu livro Esferas da insurreição.1, a nova modalidade de golpe se dá em várias etapas (a eleição de Bolsonaro em 2018 é apenas uma delas) e está longe de chegar ao fim. Desde que começou a se estabelecer este cenário, temos tentado nos equilibrar numa corda bamba cada vez mais perigosa. (mais…)

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O ultraimperialismo em tempos dantescos. Por Luis Eustáquio Soares

Ele opera sob um Estado racista, patriarcalista e colonial. Impõe um mundo onde o sol não luz, como diria Dante Alighieri. Promove círculo de angústia a partir de três formas de alienação, inseparáveis do capitalismo. É preciso entendê-las

Outras Palavras

Título original: O ultraimperialismo estadunidense e A Divina Comédia de Dante Alighieri.

“O homem, em realidade, não é, como afirma a lírica aparência da sociedade capitalista, um ser isolado, mas um ser social, cuja vida está ligada por milhares de fios aos outros homens e ao conjunto do processo social.” György Lukács, Crítica, p.361.

Onde o sol não luz

Qual é a lei geral da história? Marx a formulou assim: “O ser social determina a consciência humana” (MARX, 2008, p. 58). E o que é o ser social hoje? É o modo de produção capitalista mundialmente estabelecido como imagem e semelhança do Pentágono, espelhado em cada ato de compra e venda dolarizado, que amalgama e molda o mundo realmente existente, entrelaçando instituições, crenças, modos de ser, estar e viver, com base na militarização geral das relações sociais. (mais…)

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A esperança dos ninguéns, bem além das eleições

Como imaginar um país transformando, num tempo de crise das velhas teorias emancipatórias e de rebaixamento das utopias? A ideia da decolonialidade e a crítica profunda ao “novo” capitalismo podem fornecer algumas pistas

Por Uribam Xavier*, em Outras Palavras

OS NINGUÉNS.
Os ninguéns: os filhos de ninguém, os donos de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos.
Que não são, embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam superstições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não têm cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.
[Eduardo Galeano, no livro “O livro dos abraços”]

No pensamento decolonial, os componentes constitutivos do padrão mundial do poder do sistema-mundo moderno/colonial são: a colonialidade do poder, ou seja, a ideia de raça como fundamento da divisão da sociedade como elemento de dominação para o processo de acumulação de riqueza por meio das várias formas de exploração do trabalho, da natureza e dos territórios; o Estado, como forma central de controle da ação coletiva em defesa da propriedade privada e da concentração de capital; o eurocentrismo, como forma de produção e reprodução de conhecimento e subjetividade/intersubjetividade locais como universais; o capitalismo, como forma universal de exploração do trabalho e o controle da natureza como coisa a ser morta, ou seja, transformada em mercadoria. Portanto, a luta contra o padrão mundial de poder é mais do que a luta contra o capitalismo, é uma ação de interseccionalidade que abrange todos os seus componentes constitutivos. (mais…)

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Medo e delírio nos corações bolsonaristas

Relato etnográfico: um treinador de academia descreve a elite branca que o cerca, na Barra da Tijuca. Nas eleições, ela rumina pós-verdades para esconder seu maior temor: perder privilégios. Ao fazê-lo, revela suas taras, ignorância e colonialismo

Por Federico G. L. e Ernesto C.*, em Outras Palavras

Eram 18h. Naquele momento alguém gritou “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos, o Brasil é nosso! O Brasil é nosso!” No número 3100 da Avenida Lúcio Costa, no Rio de Janeiro, centenas de pessoas envoltas em bandeiras verde-amarelas estavam dançando, gritando e cantando o hino brasileiro no auge de seus pulmões. Jair Bolsonaro morava naquele endereço, ele tinha acabado de ganhar as eleições, era outubro de 2018 e a Barra da Tijuca estava se enchendo de um novo tipo de fervor. Quatro anos depois, em outubro de 2022, essa liturgia política era substituída pelo grito de “fraude!”, “CorrupPTo!, “Luladrão!” e, principalmente, “Intervenção Federal (ou seja, militar) já!”. (mais…)

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Extrativismo é uma neocolonização de países e territórios. Conferência de Raúl Zibechi

Em conferência proferida no IHU ideias, de 03-11-2022, o jornalista e ativista político detecta uma série de violências imposta aos povos desde a tomada de seus espaços

Por Patricia Fachin, em IHU

O período das colonizações na América Latina, inaugurado no século XVI, impôs uma série de violências a populações humanas e ecossistemas. Levamos anos para reconhecer o que de fato houve nesses processos e, desde então, ensaiamos as chamadas visões decoloniais, que visavam restaurar, em alguma medida, os saberes, as formas de vida de populações da terra e aprender, especialmente, com suas relações com o meio ambiente. No entanto, o problema é que essas violências retornam de tempos em tempos. É o que aponta o jornalista e analista político uruguaio Raúl Zibechi, em conferência promovida pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU. “Podemos dizer que o extrativismo é uma neocolonização de nossos países e territórios”, constata. (mais…)

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