Rio: Uma geografia racializada da repressão

Dados mostram: operações policiais são mais frequentes em favelas com maioria negra. Discurso de “território do tráfico” é sempre evocado. Por trás deste conceito, está a ocultação de redes mais amplas que sustentam o crime organizado e promovem o racismo estrutural

Por Renato Emerson dos Santos e Reginaldo Braga Silva Jr., em Outras Palavras

A recente operação policial realizada no dia 28 de outubro nos Complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, com um balanço oficial de 121 mortos (todos homens), se tornou a mais letal da história do país. Desde então, muito se tem discutido sobre os resultados, eficácia e validade da política de enfrentamentos bélicos em áreas chamadas de “territórios” de facções criminosas como estratégia de combate ao crime organizado. Apesar de o termo “território” vir sendo apropriado por movimentos sociais como signo de potência, precisamos discutir sobre sua hipervalorização no entendimento do funcionamento do crime organizado, que se enreda com sentidos históricos que conectam raça e cidade. (mais…)

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CNMP convoca reunião pública para acompanhar medidas da ADPF nº 635, voltadas à redução da letalidade e vitimização policial no Rio de Janeiro

Encontro será realizado em 11 de dezembro, no Rio de Janeiro, e coletará dados e informações da população e de órgãos públicos, em cumprimento às decisões do STF na ADPF das Favelas

CNMP

O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) convocou reunião pública para coletar dados, informações e relatos da população, da comunidade e de órgãos públicos sobre o cumprimento das determinações do Supremo Tribunal Federal (STF) na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 635. A ação judicial, conhecida como “ADPF das Favelas”, trata de medidas para reduzir a letalidade e vitimização policial e proteger moradores de favelas no Rio de Janeiro. (mais…)

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Periferias: Nossa Gaza em câmera lenta? Por Ricardo Queiroz Pinheiro

Analogias apressadas são perigosas, mas talvez haja uma conexão entre o genocidio palestino e o de jovens periféricos: produzir ordem a partir do extermínio dos indesejáveis. Como apontou Fanon, o colonizado não é apenas explorado: é desfigurado em sua condição de ser

Em Outras Palavras

É desconexo comparar Gaza com as periferias brasileiras? Pode parecer. Mas talvez a pergunta esteja mal formulada. Não se trata da tentativa de nivelar tragédias, mas sim de perceber continuidades estruturais: quem pode ser morto sem escândalo? Quem não é considerado plenamente humano pelas engrenagens de poder, aqui e lá? A semelhança não está no cenário — uma faixa de terra sitiada por mísseis, um bairro patrulhado por viaturas — mas no status ontológico atribuído aos corpos que habitam esses espaços. Em ambos os casos, trata-se de populações convertidas em excedentes, sujeitas a um regime de violência legitimada, ora pelo discurso da guerra, ora pelo verniz da ordem pública. A questão, portanto, é outra: quantas formas pode assumir o mesmo gesto de apagar vidas? (mais…)

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Mudanças climáticas: assim as favelas se preparam

Vítimas maiores do aquecimento global, as comunidades vão à luta. Multiplicam-se hortas comunitárias, cooperativas de reciclagem, aplicativos de alertas contra desastre e cinemas a céu aberto. Vale conhecê-los e perceber: falta, agora, a ação do Estado

Por Gizele Martins, Juliana Pinho e Clara Polycarpo, no Wikifavelas

O dia 16 de março foi escolhido, no Brasil, como o Dia Nacional de Conscientização sobre as Mudanças Climáticas, instituído pela Lei nº 12.533/2011. Neste contexto, e em ano de Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 no Brasil (COP30), o Dicionário de Favelas Marielle Franco traz para discussão a emergência das favelas e periferias diante das injustiças ambientais e o agravamento da crise climática. Esses territórios já são afetados pelos mais variados extremos climáticos — tragédias que afetam diretamente o funcionamento normal de uma comunidade, causando perdas materiais, danos ao ambiente e à saúde da população. Vimos isso acontecer, por exemplo, pelos extremos de chuvas torrenciais que assolaram estados como Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, e por uma das maiores secas da história, que acometeu diversas regiões, do Sudeste ao Nordeste. Por ainda não sermos cidades resilientes — e nossas favelas muito menos —, as pessoas sofrem cotidianamente com essa realidade. (mais…)

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A favela está no “mapa” oficial do Estado. E agora?

Dicionário Marielle Franco mostra como, após muita luta, movimentos sociais conseguiram no Censo o termo “favela” – como espaço de cultura e resistência, e não “problema”. Mas falta muito mais, como políticas públicas reais de bem-estar nas periferias

por Lucas Scatolini, em Outras Palavras

Em setembro de 2023, foi realizado, em Brasília, o Encontro Nacional de Produção, Análise e Disseminação de Informações sobre as Favelas e Comunidades Urbanas no Brasil, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O encontro reuniu pesquisadores(as), lideranças de favelas, organizações sociais e diversas referências na área. Um ano após a conferência, no final de 2024, foi anunciado pelo IBGE o retorno do uso dos termos “​​​​favelas e comunidades urbanas brasileiras” para divulgação do Censo 2022 – inclusive, tema já discutido por nós. Este momento foi considerado um marco para as favelas e os(as) favelados(as) de todo o país. Afinal, por mais de 50 anos, esses territórios e suas populações foram significados por diversas nomenclaturas que estigmatizavam e criminalizavam tal espaço de moradia, sendo uma delas a expressão “aglomerados subnormais”, adotada pelo Instituto desde 1991, além de tantas outras responsáveis por reproduzir ao longo das décadas o seu estigma, colocando a favela no imaginário de um problema social. (mais…)

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“ADPF das Favelas”, freio ao genocídio brasileiro?

STF julgará sobre o reconhecimento da letalidade policial e a necessidade de controle externo das polícias do RJ. Entre as medidas, para assegurar a investigação de violações, está a autonomia dos órgãos de perícia. Sociedade civil aponta: tema é central para o futuro da democracia

por 

No próximo dia 5 de fevereiro, o Supremo Tribunal Federal (STF) vai retomar  o julgamento da Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental 635, popularmente conhecida como a “ADPF das Favelas”. A ação constitucional foi protocolada pelo PSB no ano de 2019 e tem  como marco o protagonismo de organizações de favelas e movimentos de mães e familiares de vítimas do terrorismo do Estado que  atuam no processo como amicus curiae. Por meio da  ADPF 635, essas organizações e movimentos sociais fizeram chegar ao Supremo a sua luta histórica contra a violência de Estado dirigida de forma seletiva e racista contra os territórios de favela e o modelo de segurança pública sustentado na lógica bélica, que só tem produzido insegurança, dor e sofrimento para a maior parte da população do estado do Rio de Janeiro. À época da propositura da Ação, o estado possuía os piores indicadores relacionados à violência e à letalidade policial do país.  (mais…)

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WikiFavelas: Saídas à cidade (e vidas) militarizadas

Dicionário Marielle Franco analisa políticas de Segurança do RJ e as disputas em torno do “fazer cidade”. Reflete como a milicianização impacta também as subjetividades coletivas. E as possíveis saídas, a partir das periferias, como a proposta “Desinvestimento das Polícias”

por Clara Polycarpo e Juliana Pinho, em Outras Palavras

A cada início de ano, para além dos planejamentos e metas individuais, é claro, passamos a nos orientar também a partir das expectativas e promessas dos novos (ou já velhos) governos para lidar com as questões que envolvem as particularidades – e diferentes necessidades – de cada território e sua população. No caso da cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, Eduardo Paes foi reeleito prefeito e, diante dos aspectos principais de sua campanha, promete algumas mudanças nas formas de fazer a cidade de acordo com os seus interesses. Por exemplo, em um dos setores que mais afeta a população metropolitana, o setor de transportes, a prefeitura anunciou, desde pronto, o aumento das tarifas de ônibus para R$4,70, recorrendo, inclusive, a uma nova modalidade de inscrição, o cartão “Jaé!, que passará a ser obrigatório a partir de junho deste ano em todos os transportes municipais. No entanto, a obrigatoriedade se limita apenas ao município carioca, já que o “Jaé” não será aceito em linhas intermunicipais, tampouco nos metrôs, trens e barcas, que continuam a operar apenas com o Riocard, sistema de bilhetagem administrado pelos empresários de ônibus. (mais…)

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