Uma opinião sobre o mais recente capítulo da história de uma das mais icônicas escritoras do Brasil e do jornalista que ela descobriu para ajudá-la a ser publicada num dos países mais racistas do mundo
No El País Brasil
Deixa eu começar a dizer de onde eu falo. Conheci Audálio Dantas (1929-2018), de corpo encarnado, tarde na minha vida. Já tinha uns 40 anos e para mim ele era só uma lenda do jornalismo. É claro que uma lenda é bastante coisa, mas nunca fui muito apegada nem às lendas nem aos heróis. A reportagem me ensinou isso, que as pessoas são “só” pessoas e é melhor para todos – e também para elas – que continuem sendo só pessoas. Audálio não andava sozinho. Quando o conheci, conheci também a pequena família que andava com ele —ou com quem andava ele. Vanira, sua mulher; Juliana, a filha mais velha; Mariana, a filha mais nova; ambas do casamento com Vanira. Sei que há ainda José e Ana, filhos mais velhos, mas só os vi de passagem. E a vó. A vó era a mãe da Vanira. Em todo evento de jornalismo ou de amigos, lá estavam os cinco, com uma alegria cheia de dentes e de abraços. Eu mesma passei a acreditar que se não estivessem no lançamento de meus livros, o livro não teria sorte, porque faltaria amor na fila. Nunca fomos íntimos, mas nos gostávamos. Mais tarde, a vó ficaria cega e depois iria embora. Mais tarde ainda, Audálio partiria, de câncer. Eu estava bem longe quando ele se foi e não puder comparecer aos rituais de despedida. Então minha saudade não tem imagem.
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